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Eleições americanas: a bola está com o Brasil

Pedro Brites
é professor de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV)
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Pedro Brites
é professor de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV)

O dia 3 de novembro se aproxima. E à medida que a corrida presidencial nos Estados Unidos avança, as expectativas sobre o resultado das eleições vão aumentando. Para o Brasil, uma possível guinada na política norte-americana é tida como determinante para a condução da política externa e para os rumos do desempenho econômico. Contudo, o resultado das eleições não é o ponto central para determinar a reação da economia brasileira ou o futuro das relações com Washington. A atuação do País, diante de qualquer resultado, é o que vai definir o lugar que ocupamos na política externa dos norte-americanos.

O elo que a família Bolsonaro buscou construir junto àquele país é assentado nas relações pessoais com Donald Trump. A aproximação brasileira não foi com os Estados Unidos, mas sim, acima de tudo, uma convergência de projetos políticos. As demonstrações de admiração do presidente Jair Bolsonaro por Trump e as recentes manifestações de Eduardo Bolsonaro em apoio à sua reeleição confirmam isso.

Mais importante do que sabermos o que as urnas americanas irão dizer, é avaliar como vamos reagir diante de uma eventual derrota de Trump: manter o tom crítico aos democratas e caminhar para um maior isolamento internacional ou arrefecer o discurso, se adequando ao novo quadro? A reação do País será determinante para o desempenho da economia. As projeções são muito pessimistas, mesmo sem considerar um eventual isolamento no plano internacional. Em um cenário como esse, e enfrentando críticas diretas da administração norte-americana, as perspectivas são preocupantes.

Esse isolamento, porém, só vai se materializar se o Brasil mantiver a postura crítica em relação aos democratas, caso Biden vença. Se fosse um jogo, poderíamos dizer que a bola está com os brasileiros. Alguém pode dizer que talvez esse cenário não seja tão provável, pois as relações com os Estados Unidos são históricas. Faz sentido. Porém, o recente exemplo da Argentina nos mostra o contrário. Bolsonaro apoiava a reeleição de Mauricio Macri. Com a vitória de Alberto Férnandez, as relações têm se mantido frias. No caso das eleições em território americano, se a postura for a mesma, os efeitos podem ser críticos para a economia brasileira, que ainda vai lidar com a recuperação, consequência da pandemia. Por isso, no dia 3 de novembro, temos de olhar para o Brasil.

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