Artigo

A semana da reconciliação

Graziella Testa
é professora da Fundação Getulio Vargas, na Escola de Políticas Públicas e Governo (FGV-EPPG), e doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP). Integra o grupo de especialistas que escrevem às quartas-feiras na coluna “Ciência Política” da PB.
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Graziella Testa
é professora da Fundação Getulio Vargas, na Escola de Políticas Públicas e Governo (FGV-EPPG), e doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP). Integra o grupo de especialistas que escrevem às quartas-feiras na coluna “Ciência Política” da PB.

A semana começou com a inusitada reunião dos, antes, adversários Marina Silva, Cristovam Buarque e Henrique Meirelles com Luiz Inácio Lula da Silva. As reaproximações articuladas pelo Partido dos Trabalhadores e concretizadas esta semana só não são mais surpreendentes do que a chapa Lula/Alckmin. No Congresso Nacional não é incomum ouvir a máxima de que nunca se deve criticar tanto um adversário a ponto de não poder voltar a ser parceiro nem elogiar tanto um parceiro a ponto de não poder vir a se tornar um adversário. Mas qual seria, afinal, essa medida?

Miguel Reale Jr., que não é formalmente um político, mas que emprestou seu nome ao processo que resultou no impeachment de Dilma Rousseff, também declarou voto a Lula no primeiro turno, bem como o diretor-geral da Fundação FHC, Sergio Fausto. A ex-candidata Luciana Genro é mais uma da lista dos apoiadores de penúltima hora.

O que dizer então de Aloysio Nunes, que declarou que Lula é a “esperança de reencontrarmos o caminho normal da política”? O mesmo que foi candidato a vice na chapa de Aécio Neves, que chegou a questionar o resultado eleitoral que, naquele ano, deu vitória a Dilma Rousseff, e que, posteriormente, foi ministro de Michel Temer após o impeachment.

A tendência é que a lista dos novos apoiadores só aumente nos dez dias que antecedem ao pleito afinal, como os baianos bem sabem, atrai mais foliões o trio elétrico com mais gente. Contudo, em eleições para o Legislativo, não é preciso, necessariamente, agradar ao mais querido nacionalmente já que a variável “Estado” vem se tornando cada vez mais relevante para explicar o comportamento eleitoral. Ou seja, o apoio do candidato em segundo lugar nacionalmente pode ser suficiente para eleger um deputado ou senador no Estado.

A tentativa de reaproximação de Jair Bolsonaro, vinda de Sergio Moro, é mais uma dessas tentativas de reaproximação mais frequentes em período eleitoral. Apoiador do então candidato Jair Bolsonaro nas eleições de 2018, o ex-juiz e ex-ministro abandonou o governo após fazer graves acusações a Jair Bolsonaro de interferência na Polícia Federal. O presidente não só não retribuiu a tentativa de reaproximação como fez uma declaração indireta de que “alguns ministros acabaram ficando no lixo da história”.

Moro está mais sozinho do que nunca depois de trocar de partido para ter mais chances como candidato à presidência; não conseguir mesmo assim; tentar concorrer pelo Senado por São Paulo; ser barrado pela justiça; e terminar concorrendo ao Senado pelo Paraná contra um de seus primeiros apoiadores, Álvaro Dias. Talvez o auge da solidão de Sergio Moro seja fazer campanha dobradinha com uma candidata de outro Estado, sua cônjuge Rosangela Moro.

Como nunca é tarde demais para relembrar a mensagem de Weber, a única tentação a que o político não pode ceder se quiser ser bem-sucedido é a vaidade: é preciso humildade para buscar reaproximação de um desafeto. O político é aquele que sabe escolher os momentos para agir com convicção e os momentos para recorrer à responsabilidade. A única coisa mais inútil que um eleito sem convicções é um pleno convicto não eleito.

Os artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da PB. A sua publicação tem como objetivo privilegiar a pluralidade de ideias acerca de assuntos relevantes da atualidade.

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