Artigo

Afogado em clichês

Daniel Buarque
é pesquisador de Relações Internacionais no King’s College London (KCL), jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor de Brazil, um país do presente.
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Daniel Buarque
é pesquisador de Relações Internacionais no King’s College London (KCL), jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor de Brazil, um país do presente.

Por mais que se tenha falado, nas últimas décadas, sobre a emergência brasileira, e que o sucesso econômico e as estabilidades política e social tenham dado mais visibilidade nacional, isso não mudou muito. As recentes crises democrática e ambiental até colocaram-no em maior evidência global, mas o Brasil ainda é um grande desconhecido no exterior.

O País é pouco compreendido, e sua imagem está mergulhada em estereótipos superficiais e frívolos. Isso é evidente nas cenas que ilustram menções ao Brasil na imprensa e, mesmo, na academia internacionais. Não é à toa que praias, o Cristo Redentor ou a floresta dominem o imaginário externo sobre a Nação.

É verdade que esta associação do Brasil com clichês é bastante conhecida, mas um estudo realizado com a comunidade de política externa dos cinco países-membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) revela o quão pouco se sabe sobre o nosso país. O dado faz parte de pesquisa inédita realizada durante o meu doutorado no King’s College London, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP). O estudo é resultado de 94 entrevistas com especialistas dos Estados Unidos, da França, do Reino Unido, da China e da Rússia.

O mais surpreendente é que o desconhecimento domina não só entre a população geral, mas também entre líderes e especialistas em política e economia. Até entre as elites, que pensam a diplomacia e participam de decisões políticas influentes nas relações destas nações poderosas com o País, reinam os estereótipos superficiais.

“Se você perguntar às elites acadêmicas e em think tanks [instituições que se dedicam a produzir conhecimento sobre temas políticos, econômicos ou científicos] da China, todos têm dificuldade de entender o Brasil”, disse um professor chinês. “Até os intelectuais russos pensam no Brasil só como o país do futebol”, explicou um pesquisador da Rússia. “Lembro quando Tony Blair viajou ao Brasil, todos os seus principais assessores ficaram surpresos com o que viram. Era muito diferente de tudo o que eles haviam sido levados a acreditar que fosse”, revelou um ex-embaixador britânico no País. Até mesmo no centro do poder dos Estados Unidos, por exemplo, há poucas dezenas de pessoas que realmente conhecem o Brasil entre milhares que lidam com a política externa relacionada ao País, segundo um pesquisador norte-americano.

Estereótipos foram usados ​​para descrever a Nação e discutir o que a população em geral, os políticos e os especialistas dessas nações poderosas pensavam sobre o Brasil. Estes clichês reforçam a ideia de que o País pode ser descrito como “decorativo” e pouco sério, um lugar para visitar e se divertir, mas não para trabalhar e fazer negócios. Esses clichês estão vinculados à imagem do Brasil como lugar de diversão e lazer – ou a imagens negativas vinculadas a política, economia e segurança.

Os estereótipos mais populares na percepção de nações poderosas em relação ao Brasil são: futebol, carnaval, samba, natureza, Amazônia, praias, música, simpatia, alegria e sensualidade. Pelo lado negativo, o Brasil também é associado a corrupção, violência, crime, exotismo e distância.

Este diagnóstico afeta a capacidade nacional de criar fortes parcerias, promover a economia e se projetar como liderança global. Se ninguém reconhece e entende o País, o processo de internacionalização fica mais difícil.

O alento deste cenário tão desafiador para a projeção brasileira no mundo é que a maioria dos lugares-comuns mais populares são imagens positivas. Como explicou um pesquisador do think tank americano Carnegie Endowment for International Peace, o Brasil é “um país de que todo mundo gosta, mas que pouca gente entende”.

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