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Ciência Política: um coletivo de reflexões

Humberto Dantas
é cientista político, doutor em Ciência Política. Integra o grupo de especialistas que escrevem às quartas-feiras na coluna “Ciência Política” da PB.
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Humberto Dantas
é cientista político, doutor em Ciência Política. Integra o grupo de especialistas que escrevem às quartas-feiras na coluna “Ciência Política” da PB.

Pensar em rede, garantir diversidade, olhar sob distintos pontos, colaborar com debates, informar e aproximar a academia de uma realidade mais cotidiana. Tudo isso pode soar quase como algo basilar em pleno século 21, mas algumas carreiras ainda precisam avançar.

Conto, no capítulo de um livro sobre coligações partidárias que ajudei a organizar, a história de um garçom que me emprestou alguns minutos de conversa no Rio de Janeiro. Quando eu lhe disse que era “cientista político”, ele me respondeu: “Política eu conheço, mas não sabia da existência de uma ciência que ensina a roubar”. Tive de explicar.

Faz alguns anos, fui entrevistado pela plataforma UM BRASIL, da FecomercioSP. O tema central era a educação política. Essa é a minha causa de vida, o que me mobiliza em termos de crença. Promovo a educação política porque acredito que o conteúdo que recebi na academia não pode ficar restrito a ela,  necessitando ser decodificado. Meu didatismo me levou à carreira de entrevistador. Fiz algo em torno de 50 entrevistas nos últimos cinco anos para a plataforma.

Há  algumas semanas, fui chamado pela produção de Problemas Brasileiros para escrever um texto sobre o livro Cidades – para entender melhor o lugar onde vivemos  (lançado por meio de uma parceria entre a Fundação Konrad Adenauer e o Movimento Voto Consciente), disponível para download gratuito no site da entidade. Não aceitei a proposta, queria mais. Sugeri uma coluna, para falar semanalmente de política de maneira descomplicada. Eles toparam, como você pode perceber.

Mas que graça teria fazer isso sozinho? O ideal seria dividir o espaço, criando mais uma rede. Diversidade de ideias, divergências, pontos de vista plurais, abrangência maior. Não à toa aceitamos o desafio de chamar esta coluna de “Ciência Política”. Ao todo, somos em seis: três mulheres e três homens. Escrevemos de diferentes lugares: do Rio Grande do Sul ao Pará, chegando à França. Passamos por São Paulo, Distrito Federal, Pernambuco e Vale do São Francisco. Temos origens distintas, mas somos todos professores. Três na iniciativa privada, três no universo público. Falamos sobre diversos temas : teoria política, sociologia política, cultura política, instituições formais, instituições informais, poderes, partidos, personagens. Buscaremos embasar o nosso conhecimento em achados, teorias e debates. Não queremos ser enfadonhos, mas não estamos convidando ninguém para uma conversa de bar. O “achismo” do senso comum tem colocado a política na boca do povo. Isso é bom. Mas essa boca, principalmente nas redes sociais, por vezes desvenda o despreparo que nos afasta do caráter democrático de uma convivência respeitosa, levando-nos à violência da intolerância. Não conte conosco para adensar esse ódio.

Assim, montando rede, dividindo espaço e ampliando olhares, quero lhe desejar as boas-vindas à coluna “Ciência Política”, de Problemas Brasileiros. E quero agradecer o convite, bem como os meus colegas que toparam o desafio:

Graziella Testa é professora da Fundação Getulio Vargas, na Escola de Políticas Públicas e Governo (FGV-EPPG). Doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), foi consultora de educação no Banco Mundial, trabalhou no Congresso Nacional – objeto central de seus estudos –, e, durante a sua formação, foi pesquisadora visitante em Buenos Aires e na Universidade Harvard.

Helga do Nascimento de Almeida é doutora pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tendo estudado na Itália. É professora da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e para além de estudar a lógica institucional, debruça-se em aspectos centrais da democracia digital e do impacto da internet na política.

Bárbara Lou da Costa Veloso Dias é doutora pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e professora da Universidade Federal do Pará (UFPA). Atualmente, está em Paris realizando estágio de pós-doutorado e é pesquisadora na Universidade de Tours. Trabalha com Teoria Política e suas reflexões se aproximam, também, de aspectos da Sociologia.

Paulo Sérgio Peres é doutor pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), tendo passado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), campus Guarulhos. Foi diretor da Associação Brasileira de Ciência Política e coordenou a pós-graduação stricto sensu em Ciência Política da UFRGS. Estuda as instituições políticas com ênfase no Poder Legislativo e nos partidos políticos.

José Mário Wanderley Gomes Neto é doutor pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com mestrado em Direito Público. Trabalha com instituições de justiça, com destaque para o Poder Judiciário e sua mais alta corte no Brasil, o Supremo Tribunal Federal (STF). É docente da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).

A partir de agora, semanalmente às quartas-feiras, temos encontro marcado numa lógica coletiva, responsável, crítica e concentrada em achados, debates e desafios. Que os problemas brasileiros, com base no olhar desses cientistas, possam se mostrar contornáveis, dimensionáveis e enfrentáveis. Ou ao menos polêmicos e desafiadores. Vamos em frente!

Os artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da PB. A sua publicação tem como objetivo privilegiar a pluralidade de ideias acerca de assuntos relevantes da atualidade.