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Combate a doenças neurológicas

Agência BORI
é um serviço único que conecta a ciência a jornalistas de todo o País. Na BORI, profissionais de comunicação cadastrados encontram pesquisas científicas inéditas e explicadas, além de materiais de apoio à cobertura jornalística e contatos de cientistas de todas as partes do Brasil preparados por nós para atender à imprensa. Acesse: abori.com.br
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Agência BORI
é um serviço único que conecta a ciência a jornalistas de todo o País. Na BORI, profissionais de comunicação cadastrados encontram pesquisas científicas inéditas e explicadas, além de materiais de apoio à cobertura jornalística e contatos de cientistas de todas as partes do Brasil preparados por nós para atender à imprensa. Acesse: abori.com.br

Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, 10,2% das pessoas com 18 anos ou mais receberam o diagnóstico de depressão. É sabido que a demanda de atendimento desta e de outras condições psiquiátricas e neurológicas foi represada com a sobrecarga do sistema de saúde nacional, quadro agravado a partir da chegada da pandemia de covid-19.

Diante deste cenário preocupante, a ciência brasileira faz sua parte e traz resultados promissores para o tratamento de distúrbios psiquiátricos. Estudos realizados no Laboratório de Neuroproteômica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), coordenado pelo biólogo e doutor em bioquímica Daniel Martins-de-Souza, podem servir de base ao desenvolvimento de protocolos personalizados para a medicação de cada paciente. As pesquisas foram antecipadas à imprensa pela Agência BORI, em maio e junho deste ano.

Medicações mais eficazes

Para chegar até lá, porém, os cientistas precisam desvendar o funcionamento de mecanismos cerebrais ainda pouco conhecidos, como os que ocorrem nos oligodendrócitos. É o que revela estudo dos pesquisadores do laboratório da Unicamp, publicado na revista European Archives of Psychiatry and Clinical Neurosciences, edição de maio. Os oligodendrócitos são células do sistema nervoso central que dão suporte aos neurônios. Eles formam a bainha de mielina, uma camada lipídica que serve como isolante e viabiliza a condução de correntes elétricas entre os neurônios.

O estudo em questão avalia o potencial de aplicação de canabinoides ao tratamento das doenças neurológicas. Os pesquisadores analisaram a resposta dos oligodendrócitos no contato com a substância, que pode ser produzida pelo próprio organismo, obtida sinteticamente ou a partir de plantas do gênero cannabis. Os cientistas verificaram que os canabioides contribuem para modificar o ciclo dos oligodendrócitos e, por conseguinte, dos neurônios, o que aponta para um potencial efeito terapêutico destes componentes.

A aplicação deste conhecimento na vida da população depende da continuidade dos estudos sobre a questão. “Nossos resultados poderão ser utilizados por outros pesquisadores como direcionamento para procura de novos tratamentos para doenças que apresentam problemas na função de oligodendrócitos ou na mielina”, comenta Valéria de Almeida, uma das pesquisadoras responsáveis pelo estudo. Portanto, o investimento na ciência brasileira deve integrar a estratégia de combate às doenças psiquiátricas e neurológicas.

Depressão e esquizofrenia no foco da ciência

As células de suporte do sistema nervoso também são tema de estudo que busca identificar as drogas mais eficazes ao tratamento da depressão. “Para um neurônio se manter saudável, funcionando corretamente, fazendo suas sinapses, ele precisa que as células à sua volta estejam funcionando bem e desenvolvendo o trabalho em conjunto”, explica Lívia da Silva, pesquisadora do Laboratório de Neuroproteômica. Neste processo, cada organismo pode reagir de maneira distinta, o que justifica a importância de trabalhos que subsidiem o desenvolvimento de medicações mais adequadas ao padrão de funcionamento identificado nas células.

Outro estudo do laboratório busca oferecer uma tecnologia que viabilize a prescrição personalizada de fármacos para o tratamento da esquizofrenia. Em fase de desenvolvimento por meio de parceria com a empresa spin-off Quarium – fundada na Unicamp e com origem no próprio Laboratório de Neuroproteômica –, um exame de sangue pode apontar o perfil metabólico do paciente e, com isso, antecipar sua reação às medicações disponíveis para o tratamento da doença. O serviço é especialmente importante no caso da esquizofrenia: “O paciente que não melhora ou não tolera os efeitos colaterais de determinado antipsicótico pode ter novos surtos e registrar declínio cognitivo irrecuperável”, aponta a pesquisadora Lícia da Silva Costa, fundadora da Quarium.

Os três estudos do laboratório da Unicamp mostram o potencial da ciência brasileira para garantir um tratamento mais eficaz e simplificado para distúrbios mentais, além de colaborar com o desenvolvimento de fármacos mais modernos e adequados às necessidades dos pacientes. Esta contribuição é fundamental para garantir o acesso a recursos que garantam qualidade de vida e dignidade ao número crescente de pessoas impactadas por tais condições.

Os artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da PB. A sua publicação tem como objetivo privilegiar a pluralidade de ideias acerca de assuntos relevantes da atualidade.