A projeção internacional do Brasil, a inserção do País como um ator relevante na política global e a busca por prestígio e admiração do resto do mundo são elementos fundamentais e históricos da política externa nacional. Apesar de a construção deste soft power sempre ter sido muito presente na narrativa de nossa ascensão no início deste século, desde antes mesmo da Independência já havia movimentações para tentar atrair a atenção das outras nações na tentativa de criar uma reputação positiva para o Brasil.

A despeito da crença neste projeto de “País do futuro” e uma confiança na admiração e no respeito externos, não existe evidência de que o Brasil seja uma potência de soft power, conforme analisado pelo diplomata Hayle Gadelha, em artigo publicado no site da Revista PB. Pelo contrário: índices que medem imagem mostram o País entre os 30 mais admirados do mundo, enquanto nas avaliações de poder bruto – militar, econômico, populacional, territorial etc. –, a Nação se aproxima dos dez mais fortes. O Brasil é mais poderoso do que admirado, portanto.

A contradição revela problemas na autoimagem do País e no projeto de construção de um papel internacional para si, assim como também é fruto de sérias discussões acadêmicas sobre metodologias de estudo. Analisar a imagem de uma nação é um desafio complexo. Por mais que haja mais de uma dezena de trabalhos deste tipo por todo o mundo, avaliando percepções de rankings globais, não existe um consenso sobre a melhor forma de desenvolver este tipo de análise. Um problema sério nesses estudos é que quase todos se baseiam em uma visão de mundo Ocidental (norte-americana e europeia), além de estabelecerem critérios com base no que essas nações poderosas acreditam ser mais importante. Isso não diminui a importância de entender como somos vistos no exterior, mas cria a necessidade de desenvolver a capacidade de fazer uma leitura própria sobre o status aos olhares de fora.

Uma forma de fazer isso é estabelecer uma metodologia bem embasada de monitorar e avaliar como o Brasil é descrito na mídia internacional. É isto que tenta fazer o novo Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil^[1]), desenvolvido pelo portal Interesse Nacional e coordenado pelo embaixador Rubens Barbosa (do qual sou coautor).

O indicador é atualizado semanalmente, mostrando a qualidade da percepção do País com base na coleta dados sobre notícias que mencionam o Brasil em sete publicações internacionais de grande relevância: The Guardian (Reino Unido), The New York Times (Estados Unidos), El País (Espanha), Le Monde (França), Clarín (Argentina), Público (Portugal) e China Daily (China).

No primeiro mês, o monitoramento de notícias sobre o Brasil registrou 114 menções de destaque nas publicações. Deste total, a maioria (45%) tinha uma abordagem neutra, com descrições factuais e sem juízos de valor. Pouco mais de um terço das menções (37%) tinha tom negativo e expunha deficiências ou fazia críticas. E apenas 18% da cobertura coletada, nas primeiras semanas do índice, tinham teor positivo sobre o País. Isso mostra que a reputação não está realmente em um bom momento. Analisar a imprensa estrangeira é fundamental, uma vez que a mídia é vitrine e espelho, ajudando a consolidar o que se pensa sobre o Brasil no resto do mundo.

Analisar a imprensa estrangeira é fundamental, uma vez que a mídia é vitrine e espelho, ajudando a consolidar o que se pensa sobre o Brasil no resto do mundo. Avaliar este retrato permite entender o lugar que outros países veem ser ocupado pela Nação nas relações globais e desenhar estratégias para sua melhor inserção internacional.

^[1] https://interessenacional.com.br/edicoes-posts/entenda-como-funciona-o-indice-de-interesse-internacional-monitoramento-de-noticias-sobre-o-brasil-no-exterior/