O mundo está em alerta com o que se vê como crescente risco à democracia brasileira sob as ameaças do presidente Jair Bolsonaro. Editoriais e reportagens em algumas das publicações mais importantes da imprensa estrangeira deram amplo espaço para as manifestações de caráter golpista do dia 7 de setembro. A imagem que está se propagando é de erosão das instituições democráticas do País e a possibilidade crescente de um golpe. Com uma reputação cada vez mais negativa, entretanto, vê-se uma crescente oposição externa à possibilidade de um novo regime autoritário no Brasil.
Enquanto o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, mente ao negar a história da ditadura militar instaurada em 1964 no Brasil, registros diplomáticos históricos mostram que o próprio governo militar da época admitia ser uma ditadura. Mais do que isso, documentos mostram que uma imagem internacional negativa ligada ao regime ajudou a acelerar o processo de abertura que encerrou o regime.
A conversa reveladora foi publicada pelo jornalista e pesquisador Roberto Simon, autor do livro O Brasil contra a democracia. Em estudos nos arquivos de registros diplomáticos entre Brasil e Estados Unidos, Simon encontrou uma conversa importante de 1976 entre o secretário norte-americano Henry Kissinger e o general Golbery do Couto e Silva, um dos líderes mais importantes da fase final da ditadura.
Na conversa, Silva fala sobre o processo de abertura após os momentos mais duros da ditadura e a importância da volta à democracia. Ele ainda diz que o processo é difícil e teria que ser feito de forma gradual. Ao ouvir de Kissinger que não haveria uma pressão norte-americana para acelerar essa abertura, Silva explica por que é preciso levar o Brasil à democracia: “Estamos sob pressão por causa da imagem do nosso país no exterior”, destaca o general.
Mesmo nos Estados Unidos, cujo governo ofereceu boa parte do apoio internacional à ditadura brasileira, houve forte campanha contra o governo militar durante as duas décadas em que durou. Ações da imprensa e da sociedade civil levaram a uma piora da imagem nacional no mundo à época, e à associação entre a ditadura e o desrespeito a liberdades civis e aos direitos humanos no País.
A pressão sentida por generais durante a longa e violenta ditadura que governou o território nacional por mais de duas décadas começa a se repetir agora, que a democracia é vista sob ameaça. Essa cobertura duramente crítica da imprensa internacional, por exemplo, indica a rejeição ao risco que o governo Bolsonaro gera para a democracia brasileira. As manifestações golpistas do Dia da Independência reforçaram este sentimento – e começaram a cobrar o seu preço.
Além de pressões social e política, quando se fala sobre a questão da imagem do Brasil, um dos efeitos imediatos da perda de prestígio é no bolso. Reputações de caos político, de instabilidade e mesmo de autoritarismo se refletem sobre uma redução da confiança do mundo no País, o que acarreta fuga de investidores. Por mais que o mercado não atue de forma “moralista”, ditaduras costumam oferecer menos garantias de funcionamento de regras e confiança em retorno financeiro.
Esta repercussão externa negativa no 7 de setembro se juntou à mobilização doméstica para forçar o aparente recuo de Bolsonaro, que, após ameaças, disse respeitar as instituições democráticas. Ainda assim, a opinião pública global continua atenta às movimentações do presidente, e ameaças de golpe e de ditadura terão efeitos nefastos sobre a imagem do Brasil no mundo. O respeito à democracia é fundamental para a imagem nacional, e qualquer rompimento com as regras do jogo vai afetar o posicionamento global do Brasil.
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