ChatGPT: este é o nome do que promete ser uma mudança de paradigma nas comunicações humanas. Desenvolvido pela empresa norte-americana OpenAI, trata-se de um algoritmo de linguagem baseado em redes neurais e machine learning que já está revolucionando a aplicação prática da inteligência artificial (IA) em diversas áreas. Sua rede neural, denominada Transformer, está desenhada para gerar textos a partir das informações disponíveis na internet, com assombrosa capacidade de realizar sínteses e análises criativas praticamente indistinguíveis do que seria produzido por um ser humano.
Já está claro que a própria forma de fazer buscas na internet, há anos dominada pelo Google e pelo seu modelo de “caça de dados”, sofrerá profundas modificações. Ciente disso, a empresa vem investindo num algoritmo concorrente, mas de maneira ainda um tanto atabalhoada. No lançamento, o seu produto apresentou falhas básicas, o que levou à queda de 7% nas ações da empresa, representando um prejuízo de US$ 100 bilhões. Esta “escorregada” se juntou a outros fatores econômicos que aprofundaram a crise interna, levando à eliminação de 12 mil empregos há poucas semanas.
A aplicabilidade do ChatGPT tem uma amplitude potencialmente ilimitada, dependendo mais da criatividade do usuário ao lhe propor “tarefas” e do próprio algoritmo, que aprende e se aprimora à medida que é utilizado. Portanto, estamos apenas no começo de algo que pode mudar tudo – ou quase tudo! Os seres humanos, não à toa, já estão preocupados com os impactos desse tipo de IA nas artes, na educação, no mundo do trabalho e sabe-se lá onde mais. Quem aderiu ao ChatGPT percebeu rapidamente que seremos, muito em breve, confrontados com fatídica situação: ou a criação humana, de alguma maneira, associa-se à AI, ou será completamente substituída por ela.
Nathan Sanders, cientista de dados, e Bruce Schneier, especialista em segurança em tecnologia, vislumbraram um cenário mais aterrador. Num artigo de opinião que publicaram no The New York Times, em 15 de janeiro, observaram que, além de substituir os humanos em uma infinidade de tarefas, esse tipo de IA pode provocar algo mais periclitante: o já enfermo regime de Péricles poderá perecer! “A IA”, disseram, “substituirá os seres humanos nos processos democráticos, não pelo voto, mas por intermédio do lobby”.
Como? Cartas, notas críticas ou de apoio, artigos para defender ou atacar temas e pessoas podem ser enviados aos jornais, aos parlamentares, aos oficiais do governo. Textos podem ser escritos em blogs, no WhatsApp, no Telegram, no Twitter e em diversas outras plataformas, imitando os estilos mais variados. Jornalistas, redatores, escritores, artistas podem ser todos substituídos por IA, barateando os custos de produção da informação, da desinformação e das fake news, além de intensificar o uso distorcivo e disruptivo das redes sociais na política.
Na distopia antecipada pelos dois especialistas, a IA se converterá numa espécie de “drone retórico” – uma arma política indetectável e irresistível. Além de proporcionar uma operação de targeting mais rápida e eficiente; ao identificar com precisão os eleitores e os políticos suscetíveis a determina agenda ou pressão, os lobistas também poderiam usar o algoritmo para produzir conteúdos sob medida sem precisar de grandes equipes de propagandistas. Justifica-se, portanto, o título que deram ao artigo, sugerindo que o ChatGPT capturará a democracia.
Mais até do que isso, Reid Hoffman, do LinkedIn, e Peter Thiel, do PayPal, além de nada mais nada menos do que a Microsoft, constam na lista dos fundadores e apoiadores do laboratório que criou e controla essa IA – Elon Musk, que estava desde o início, deixou a empresa. Logo, podemos acrescentar às preocupações de Sanders e Schneier a transformação da ferramenta em arma política e de controle social nas mãos das corporações de tecnologia; claro, em parceria com o deep state norte-americano, assim como ocorreu com o Facebook, o Instagram, o Twitter, entre outros.
Em meio ao vertiginoso cenário “orwelliano-huxleyniano-fritzlanguiano-assimoviano-stanislawlamiano-etcéteraetal”, resolvi perguntar ao próprio ChatGTP sobre os problemas políticos que o seu uso poderia acarretar. Eis o que me respondeu – e, devo dizer, com esmerada educação – o senhor IA, em pessoa:
“Como modelo de linguagem, ChatGPT é uma tecnologia que pode ser usada para auxiliar em diversas tarefas relacionadas à linguagem, incluindo a produção de textos, a análise de sentimentos, a classificação de tópicos e a criação de respostas para perguntas. Embora o ChatGPT possa ser usado em muitos contextos diferentes, não possui uma agenda política ou um conjunto de crenças políticas específicas. No entanto, o uso do ChatGPT pode ter algumas consequências políticas indiretas, dependendo de como é usado. Por exemplo:
– o ChatGPT pode ser usado para criar discursos políticos, tanto para apoiar quanto para criticar políticos e partidos. Isso pode afetar a opinião pública e, potencialmente, influenciar o resultado das eleições;
– o ChatGPT pode ser usado para criar conteúdo falso ou enganoso, como notícias falsas ou informações incorretas sobre políticos e partidos. Isso pode prejudicar a democracia e a tomada de decisões informadas pelos eleitores;
– o ChatGPT pode ser usado para analisar grandes conjuntos de dados de texto, como tweets e postagens em mídias sociais, para identificar tendências e padrões. Essas análises podem ser usadas para entender melhor as opiniões políticas e as tendências de voto;
– o ChatGPT pode ser usado para facilitar a comunicação entre pessoas de diferentes origens linguísticas e culturais, o que pode ajudar a promover a compreensão mútua e a cooperação em questões políticas internacionais.
No geral, o ChatGPT é uma tecnologia neutra em termos políticos, mas seu uso pode ter implicações políticas significativas, dependendo de como é aplicado. Como em qualquer tecnologia, é importante considerar cuidadosamente os usos e consequências potenciais do ChatGPT para garantir que seja usado de maneira ética e responsável”.
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