Artigo

Educação cidadã

Claudia Pires de Castro e Helena Vetorazo
Claudia Pires de Castro é mestra em Ciências da Comunicação pela universidade de Viena e mestranda em Ciências Política na mesma universidade. É pós-graduada em Marketing pela ESPM e bacharel em Propaganda e Publicidade pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap). Helena Vetorazo é antropóloga, formada pela Universidade de São Paulo (USP), doutora em Educação e mestra em Ciências Sociais na Educação pela Universidade de Campinas (Unicamp). É especialista em Psicopedagogia com ênfase em Educação Inclusiva pela Faculdade Metropolitana de São Paulo.
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Claudia Pires de Castro e Helena Vetorazo
Claudia Pires de Castro é mestra em Ciências da Comunicação pela universidade de Viena e mestranda em Ciências Política na mesma universidade. É pós-graduada em Marketing pela ESPM e bacharel em Propaganda e Publicidade pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap). Helena Vetorazo é antropóloga, formada pela Universidade de São Paulo (USP), doutora em Educação e mestra em Ciências Sociais na Educação pela Universidade de Campinas (Unicamp). É especialista em Psicopedagogia com ênfase em Educação Inclusiva pela Faculdade Metropolitana de São Paulo.

A web 2.0 trouxe desafios inéditos para a educação ao transformar a comunicação e permitir a participação em ambientes compartilhados. A educação cidadã é essencial para preparar os indivíduos não apenas para a democracia, mas também para desenvolver competências críticas e questionar normas e estruturas estabelecidas. Baseada nos valores democráticos e na concepção crítica de Paulo Freire, a educação cidadã enfatiza o diálogo, a conscientização e a ação como ferramentas para a emancipação e a formação de uma consciência crítica.

Donna Haraway introduziu o conceito de ciborgues, desafiando as fronteiras entre humanos, animais e máquinas e reconhecendo a nossas naturezas social e fictícia. No entanto, é preocupante que diferenças como classe, raça e gênero sejam usadas tanto online quanto offline para discriminação e exclusão. Pesquisadores destacam a necessidade de redefinir o conceito de “público” na era digital, para uma compreensão mais abrangente das interações digitais.

A revolução tecnocientífica promove uma profunda integração entre contextos analógico e digital, destacada nas mídias sociais como interface crucial para a comunicação individual e o discurso social. Essa convergência apresenta desafios e oportunidades no estudo de fenômenos sociais mediados pela tecnologia.

A comunicação nas mídias sociais transcende os níveis micro e macro, operando em zonas nebulosas que abrangem domínios privado, semiprivado e público. Essas plataformas promovem a circulação simultânea de significados, formando um nível meso, no qual as redes sociais são essenciais para conectar indivíduos em comunidades virtuais e influenciar opiniões coletivas. Contudo, a educação cidadã enfrenta o desafio de mitigar disparidades digitais, incluindo acesso desigual e variação de competências, visando promover igualdade e participação crítica e informada no ambiente digital.

No contexto digital, a cidadania se estende do âmbito analógico, exigindo questionar o poder governamental, enfrentar discursos de ódio e combater fake news. É fundamental abordar cada forma de discriminação individualmente considerando o contexto sociológico, sem subestimar a sua complexidade.

Novas formas de discriminação emergem no espaço digital de condições estruturais que marginalizam indivíduos no exercício da cidadania. Essa exclusão é impulsionada por interesses políticos, econômicos e tecnológicos refletidos nos algoritmos das plataformas digitais. O silenciamento diante do discurso de ódio e a disseminação de informações enganosas comprometem a liberdade de expressão. Outro fenômeno é o dos “filtros-bolha”, mecanismos algorítmicos que personalizam conteúdo, limitando a exposição a perspectivas diversas e restringindo o acesso a diferentes pontos de vista. As “câmaras de eco”, presentes tanto no mundo digital quanto na comunicação analógica, contribuem para a polarização e a fragmentação social.

Promover a educação cidadã embasada em pesquisas é crucial diante da complexidade das formas de comunicação contemporâneas. Essa abordagem visa desenvolver habilidades críticas e reflexivas nos atores sociais, capacitando-os a questionar fontes, avaliar veracidade e considerar perspectivas diversas. Educação essa que deve estimular uma participação ativa e consciente, combatendo discriminação e discursos de ódio tanto no ambiente digital quanto no analógico. Reconhecer mecanismos inclusivos e excludentes na estrutura digital considerando grupos menos privilegiados é fundamental para promover processos democráticos e direitos civis. Enfrentar tensões sociais e políticas no espaço digital requer compreensão das percepções individuais e influências corporativas e políticas.

Contribuições de Freire e Fernandes são atuais na era digital. Diálogo, engajamento crítico e conscientização são fundamentais para a educação cidadã inclusiva. Essas abordagens oferecem uma base sólida para questionar as estruturas de poder presentes na sociedade digital, enfrentar desigualdades e promover a plena participação de todos os cidadãos. Dessa maneira, a educação cidadã assume uma dimensão emancipatória, conferindo aos indivíduos o poder de se tornarem agentes transformadores nos complexos cenários tanto analógico quanto digital. Inspirados pelas ideias de Freire e Fernandes, por meio do estabelecimento do diálogo, do desenvolvimento da consciência crítica e da participação engajada, podemos edificar uma sociedade digital mais justa, democrática e inclusiva.

Os artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da PB. A sua publicação tem como objetivo privilegiar a pluralidade de ideias acerca de assuntos relevantes da atualidade.