A Organização das Nações Unidas (ONU) propôs, em 2015, aos países-membros uma nova agenda de desenvolvimento sustentável para ser concretizada nos 15 anos seguintes. A discussão ficou conhecida como Agenda 2030, composta pelos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), que podem ser resumidos pela intenção de acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e conter as mudanças climáticas. Apesar de contemplar a igualdade de gênero, a redução de desigualdades, o emprego pleno e o desenvolvimento econômico sustentável, a ênfase dos ODS se concentrou mais na proteção do meio ambiente do que nos demais temas.
Ficou evidente, portanto, a necessidade de enfrentar os desafios das áreas Social e de Governança que envolvem a ação das empresas. O Fórum Econômico Mundial, em suas reuniões anuais em Davos, na Suíça, deu grande impulso a esses aspectos, caracterizados pela procura da melhoria das três áreas descritas pela sigla ESG (Environmental, Social and Governance). Essa agenda se tornou popular como símbolo de progresso e de aceitabilidade desses temas pela sociedade, mas excessos no uso de publicidade deram origem ao que se chama de greenwashing (e, até, “ESGwashing”), isto é, melhoria da imagem das empresas sem progressos mensuráveis reais.
O Conselho de Sustentabilidade da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) se preocupa com a forma que as empresas comunicam suas ações de ESG para sociedade, consumidores, clientes, empregados e demais partes interessadas por meio dos relatórios de sustentabilidade. Nos nossos encontros, sempre ressaltamos a importância de métricas e indicadores confiáveis que possam ser acompanhados ao longo do tempo e comparados entre diferentes unidades de uma mesma empresa ou empresas diferentes — justamente para evitar o greenwashing.
Por essa razão, o conselho elaborou, recentemente, uma avaliação dos relatórios de sustentabilidade das empresas-membros em relação a indicadores sociais de participação de Pessoas com Deficiência (PcDs), mulheres e negros na força de trabalho, além da governança. Foram avaliados 22 relatórios disponíveis nos sites das empresas referentes aos anos de 2019 a 2022. É evidente que a base de dados precisa ser ampliada, bem como a inclusão de mais indicadores sociais nos relatórios, pois os porcentuais de empregados PcDs, mulheres e negros foram abordados em apenas, respectivamente, um terço, metade e dois terços dessas apresentações. Números que diminuem ainda mais quando se trata de cargos de liderança.
Os principais resultados da análise foram os seguintes: o porcentual de mulheres e negros nas empresas está razoavelmente adequado em, pelo menos, 50% das que reportam o indicador de participação dessas pessoas na força de trabalho. Contudo, quando se avalia a ocupação em cargos de liderança, os resultados desses números são bastante inadequados e precisam evoluir muito. A fim de melhorar a qualidade dos relatórios de sustentabilidade, é necessário que as empresas adotem indicadores relativos, ou seja, porcentuais em relação ao total de empregados. Os números absolutos de trabalhadores não passam a percepção real de valor para comparações entre empresas, por exemplo.
Seria importante expandir esses documentos para um número maior de empresas e usar indicadores de cor ou raça: branca, preta, amarela, parda ou indígena, de acordo com a metodologia do IBGE. Quanto a cargos de liderança, as empresas também deveriam deixar claro os níveis das funções que compõem o indicador.
Em suma, séries históricas de dados são fundamentais à correta interpretação dos indicadores e para formular recomendações de novas ações necessárias para, efetivamente, melhorar o ESG das empresas, incluindo políticas públicas quando necessário.
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