Em um passado não distante, costumava-se definir “brasilianistas” como acadêmicos, na maioria norte-americanos, que estudavam o Brasil. Possivelmente, o primeiro a utilizar o termo foi Francisco de Assis Barbosa, em 1969, quando da publicação do livro Brasil: de Getúlio a Castelo, para descrever e apresentar o autor, Thomas Skidmore. O termo “brasilianista” tinha um quê de pejorativo, principalmente em certos círculos acadêmicos brasileiros que sofriam restrições e perseguições no regime vigente. Afinal, um “estrangeiro”, muitas vezes, tinha mais acesso a arquivos e dados do que muitos brasileiros. O “brasilianista” era visto, por alguns, como agente acadêmico do imperialismo norte-americano. O grande Darcy Ribeiro, no memorável texto Três pragas acadêmicas, inclui os “brasilianistas” como uma delas, dizendo: “A segunda praga foi a dos brazilianistas.
Proibidos os brasileiros de estudar criticamente nossa realidade social, o Brasil se viu invadido por dezenas de bisonhos universitários norte-americanos, ansiosos todos por nos entender e nos explicar através de teses doutorais e de relatórios de pesquisa”. Tempo e espaço precisam ser repensados hoje, quando falamos dos brasilianistas. Nestes últimos 50 anos, muito intercâmbio acadêmico ocorreu entre pesquisadores e instituições brasileiras e estrangeiras, não apenas restrito a Estados Unidos e Europa, mas também com forte ampliação de diálogo com pesquisadores africanos e asiáticos.
Um diálogo frutífero muitas vezes com aquela polêmica necessária para o desenvolvimento de ideias realmente relevantes – vem ocorrendo entre os brasilianistas, que já não são necessariamente estrangeiros que estudam o Brasil de fora para dentro.
Fronteiras intelectuais, neste contexto, são questionadas e questionáveis. Se, em anos mais recentes, brasileiros já passaram a ocupar um espaço dos pensamentos acadêmico e científico internacionalmente no que diz respeito aos Estudos Brasileiros, isso se tornou exponencial nesta nova arena de debate online que a pandemia nos obrigou a assumir.
O que antes, muitas vezes, dependia de viagens custosas para participações em congressos e outras atividades acadêmicas, excluindo atores relevantes do pensamento brasileiro por limitações econômicas e temporais, não é mais um fator de restrição. A nova arena na qual nos lançamos como acadêmicos nesta dimensão online só tende a favorecer um repensar sobre a quem chamamos de “brasilianistas”. Compreensões novas de espaço e tempo estão ajudando, mesmo dentro do Brasil, a expandir os meios para que diversos atores, comumente excluídos do espaço acadêmico, passem a dispor de plataformas de discussões e debates.
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