Artigo

Guerra, inflação e eleições

Antonio Lanzana
é copresidente do Conselho de Economia Empresarial e Política (CEEP) da FecomercioSP e professor na Universidade de São Paulo (USP) e na Fundação Dom Cabral (FDC).
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Antonio Lanzana
é copresidente do Conselho de Economia Empresarial e Política (CEEP) da FecomercioSP e professor na Universidade de São Paulo (USP) e na Fundação Dom Cabral (FDC).

Ao se analisar os efeitos econômicos do conflito Rússia-Ucrânia sobre a economia brasileira, é preciso lembrar, em primeiro lugar, que há muitas incertezas sobre o futuro: a intensidade da guerra e sua duração, as condições sob as quais as hostilidades cessarão, a duração das sanções impostas à Rússia, enfim, o desfecho é imprevisível. Tendo como pano de fundo essas incertezas, pode-se analisar dois impactos importantes sobre o Brasil: pressões inflacionárias e nível de atividade econômica.

Períodos de guerra sempre são acompanhados por elevação nos preços das commodities, e agora não está sendo diferente – com as maiores altas ocorrendo em alimentos e energia.

Para o Brasil, o conflito representa um choque sobre uma inflação já muito elevada. Além do aumento direto dos preços das commodities, a redução da oferta de fertilizantes vai pressionar os custos do agronegócio, o que já está acontecendo. O conflito impõe também novas restrições à oferta de semicondutores, uma vez que Rússia e Ucrânia são grandes produtores globais de paládio e gás neônio, respectivamente. Ambos são insumos para a produção de chipes presentes em semicondutores.

Este cenário aumenta os desafios do Banco Central (Bacen), principalmente por se tratar de choques de oferta, o que limita a eficácia da política monetária. Ao mesmo tempo, porém, é necessário inibir a propagação dos impactos inflacionários, até mesmo como forma de evitar um perigoso processo de reindexação na economia brasileira. Certamente, o Bacen terá de manter a política monetária rígida por um período mais longo, com inevitáveis impactos sobre o nível de atividade econômica. A inflação vai cair em relação a 2021, mas a queda será muito menor do que a inicialmente prevista.

Com aumento dos preços, principalmente dos alimentos, a possibilidade de recuperação da renda real fica mais remota. Além disso, juros elevados e crédito mais seletivo (num momento de recordes de endividamento) vão afetar os níveis de consumo e, consequentemente, o comércio e os serviços.

A elevação das cotações do petróleo no mercado internacional tem gerado uma série de reações internas em relação aos preços dos combustíveis. Reduções de impostos têm sido analisadas, ao mesmo tempo que a política de reajuste dos combustíveis pela cotação internacional do petróleo transformada em real) é questionada. É importante lembrar, porém, que a Petrobras é uma empresa de capital aberto, e parte do petróleo consumido internamente (8%) é importado; ou seja, se não “cobrir” o preço internacional, pode ocorrer desabastecimento.

A adoção de um sistema de estabilização de preços fica dificultada, pois o período de preços baixos (em que seriam arrecadados recursos para eventual fundo estabilizador) já passou, e o País está em situação fiscal crítica para arcar com esse ônus.

Além disso, vale lembrar que subsídios aos preços da gasolina favorecem todos os compradores, em especial os de renda mais elevada, certamente mais intensivos no uso de automóveis do que os de menor renda. O maior baque para os mais pobres está ligado, diretamente, ao gás de cozinha e, indiretamente, ao diesel.

A única explicação para a existência de algum subsídio à gasolina, infelizmente, é que se trata de um daqueles “preços de grande impacto eleitoral”. E 2022 é ano de eleições.

ESTE CONTEÚDO ESTÁ PUBLICADO NA EDIÇÃO #469 IMPRESSA DA REVISTA PB. A VERSÃO DIGITAL ENCONTRA-SE DISPONÍVEL NAS PLATAFORMAS BANCAH E REVISTARIAS.

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