Não há apoio político dentro do próprio Estado para a agenda econômica que o Brasil precisa. Cada setor do Executivo, do Legislativo e do Judiciário projeta emoções próprias — e, a partir destas, toma decisões. As razões políticas e judiciais se sobrepõem aos desafios econômicos. Nosso sistema altamente elitista e sem controle social efetivo favorece o concerto solo, sem a harmonia dos vários instrumentos de uma orquestra. Não há sistema nivelador de responsabilidade.
A forma improvisada como o Estado enfrenta os problemas econômicos e sociais transmite o sentimento de incapacidade do modelo de gestão e governabilidade de um país democrático ocidental gigante. Sem dar atenção a atores e fatores cujas ações e situações estão desconectados da realidade, o País vai “tocando o barco” de costas para as configurações do mundo atual — um fenômeno conhecido em sociologia econômica como “inércia ou resistência institucional”, tendência de instituições não mudarem, mesmo diante de mudanças ou necessidade de adaptação.
Contraditoriamente, quem empresta ao cenário atual alguma legitimidade e senso de relevância frente a essa alienação do poder é a dura, repetitiva e deslumbrada irrealidadena qual vivemos. O que é para rir? O que é para chorar? Inflação, Copom, câmbio, PIB, IPCA, indexação, PEC, veto, déficit, aborto, delação, leniência, desoneração, Lisboa etc. O Brasil segue em barco a vela controladamente à deriva. Com tão confusos sinais internos, a opinião pública vai permanecer dividida ao meio sem se tornar uma disciplinadora da autoridade. Quem, com poder, acha que as coisas não vão bem? A política está imersa num contexto de descontentamento com partidos e forte tendência de o eleitor transformá-los em clube privado. Em grandes navegações, o poder viaja certo da autonomia de suas disposições pessoais. Os problemas nacionais não serão resolvidos, nem encontrados, nos convescotes ou nas universidades do estrangeiro. Ali não está nem nosso presente, nem nosso futuro. Melhor gastar nosso talento dentro de casa e procurar andar por onde já andou a nossa grandeza.
A profusão de ideias e pessoas fora do lugar começa com os pesadelos do ministro da Fazenda, que não consegue convencer o próprio governo e aliados no Congresso do conceito matemático e do fundamento moral de um orçamento público equilibrado. A Reforma Tributária é constantemente afetada por outros debates que lhe roubam prioridade. As decisões públicas que causam prejuízo aos agentes econômicos geram aumento de preços para todos. A baixa sustentabilidade fiscal enfraquece a liderança do País e a estabilidade do governo — e sem estratégia conjunta e partilhada por objetivos comuns, aumenta a disputa sobre sua solução. E o necessário horizonte de acomodação cada vez mais distante…
Todo governo deve estar atento ao colapso do consenso majoritário que produz maiorias instáveis — no parlamento, nos tribunais e na sociedade — que se movimentam com paixão, muitas vezes com injustiça, do silêncio à fúria em instantes. A combinação entre avanço impossível, conciliação inviável, pautas inegociáveis e perda do prestígio conceitual de popularidade de governos democráticos não faz de ninguém mais franco favorito em nenhuma eleição. Especialmente diante de um cidadão sujeito virtual, uma oposição não disponível para a cooptação, um Congresso rico e um Banco Central dono da política monetária.
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