Artigo

Impressões de futuro

Vitor Magnani
é coordenador- -executivo do Conselho de Comércio Eletrônico da FecomercioSP  
O
Vitor Magnani
é coordenador- -executivo do Conselho de Comércio Eletrônico da FecomercioSP  

O futuro do consumo está nas mãos das pessoas. Podemos chamar de comércio eletrônico, marketplace, comércio social, delivery, open mall, shoppings ou outros nomes. O consumo está onde as pessoas queiram que esteja.

Essas ferramentas, que ganharam mais relevância na pandemia de covid‑19, são o futuro do consumo. Assim, devemos pensar e cobrar ações para torná‑las cada vez mais acessíveis a todas as camadas da sociedade. A expansão, no entanto, deve ocorrer sem contribuir para a diminuição dos
recursos naturais do planeta.

No cenário atual, a logística, o transporte e o e‑commerce no Brasil são dependentes de processos onerosos. Embora estejam no ambiente digital, as empresas ainda convivem com uma série de heranças que exigem documentos e obrigações acessórias burocráticas e desnecessárias, como guias de transporte, comprovantes de entrega, boletos, enfim, uma infinidade de papéis que sobrecarregam o ambiente de negócios e elevam o custo Brasil.

É importante lembrar que o País amarga a 124ª posição no relatório Doing Business do Banco Mundial e o 54º lugar no ranking da Pesquisa sobre o Governo Eletrônico da ONU – E‑Government Development Index (EGDI) –, o que mostra que ainda há um longo caminho para a simplificação do ambiente de negócios em território nacional.

Quando olhamos a fundo para o processo de logística no Brasil, detectamos, em casos extremos, a impressão de até 16 documentos para que uma única entrega ocorra. Ao considerar os números do Ebit/Nielsen para 2019, que contabilizou quase 150 milhões de compras no comércio eletrônico brasileiro, estamos falando de potencialmente 2,4 bilhões de documentos impressos (150 milhões de pedidos multiplicados por 16 impressões a cada entrega). Isso representa um monumental gasto de papel e insumos, além de queda da produtividade.

Avaliando a questão sob a perspectiva do consumidor final, há dois pontos relevantes: ele paga por toda a ineficiência do processo e suas informações são expostas em cada pacote enviado pelo e‑commerce, que obrigatoriamente contém nas notas fiscais dados pessoais como nome, endereço, telefone e CPF, descrição e valor do produto, além de outras informações que caracterizam o recebedor; ou seja, na contramão na legislação vigente que visa à proteção dos dados pessoais, já que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) entrou em vigor em setembro de 2020. O processo de entregas foi formatado dessa maneira para uso de pessoas jurídicas, que não são sensíveis ao sigilo de informações cadastrais, mas há o agravante quando olhamos sob o aspecto de consumidores individuais.

Nesse sentido, queremos construir um novo ambiente, mais fácil e seguro para os consumidores, mais eficiente para os negócios e que poupe o meio ambiente. O projeto Logística Sem Papel, ao qual se integram entidades representativas dos setores de comércio, logística e transporte, tem como objetivo desburocratizar o processo de entrega de mercadorias vendidas tanto pelo comércio eletrônico como pelo varejo físico. São elas: FecomercioSP, Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm), Associação Brasileira de Logística (Abralog), Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (Setcesp) e Associação Brasileira Online to Offline (ABO2O).

A tecnologia já nos permite a substituição da impressão física de documentos pela emissão em meio eletrônico, trazendo redução de custos, mais segurança e menos burocracia. Uma das iniciativas propostas envolve a eliminação da impressão de documentos fiscais nos processos logísticos de varejistas e transportadores, tais como: Documento Auxiliar do Conhecimento de Transporte Eletrônico (Dacte), Documento Auxiliar do Manifesto Eletrônico de Documentos Fiscais (DAMDFE) e o Documento Auxiliar da Nota Fiscal Eletrônica (Danfe).

Outra frente de trabalho é o estímulo às entidades e aos agentes de mercado a eliminarem sua movimentação interna de documentos impressos: sem mais contratos, guias, boletos, assim como demais documentos que gastem papel, tinta e tempo das empresas. O uso da assinatura eletrônica de
contratos é um dos exemplos.

No ano passado, uma conquista da FecomercioSP foi a substituição da impressão do Documento Auxiliar da Nota Fiscal Eletrônica (Danfe) pelo Danfe Etiqueta, sem descrição pormenorizada do produto na embalagem. Em 2021, a Entidade segue com outros dois pleitos: digitalização dos documentos fiscais de transporte de mercadorias e a retirada do valor no pacote ou na mercadoria. Essas medidas integram a terceira e mais ambiciosa iniciativa: a reestruturação ampla de regras, para que tenhamos um mercado simples, ágil e digital, que se adapte aos processos ou às novas realidades dos consumidores no Brasil e no mundo.

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