Artigo

Inflação e crescimento em 2021

Antonio Lanzana
é copresidente do Conselho de Economia Empresarial e Política (CEEP) da FecomercioSP e professor na Universidade de São Paulo (USP) e na Fundação Dom Cabral (FDC).
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Antonio Lanzana
é copresidente do Conselho de Economia Empresarial e Política (CEEP) da FecomercioSP e professor na Universidade de São Paulo (USP) e na Fundação Dom Cabral (FDC).

Depois de registrar uma rápida recuperação ao longo do ano passado, a evolução da economia brasileira nos últimos meses do ano deixou duas preocupações para 2021: rápida aceleração da inflação e arrefecimento no ritmo de crescimento do nível de atividade. Até que ponto estas sinalizações podem comprometer o desempenho econômico do País neste ano?

De início, é importante destacar que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrou o ano com expansão de 4,52%; muito acima do que se projetava até o fim do terceiro trimestre (as previsões da pesquisa Focus até setembro de 2020 indicavam inflação ao redor de 2%). Apesar desses números, essa aceleração certamente não representa um descontrole inflacionário.

Analisando‑se a composição do IPCA, verifica‑se que a pressão inflacionária está muito concentrada no item “alimentação” (principalmente semielaborados), que respondeu por mais da metade da variação, consequência da desvalorização cambial, uma vez que os preços dos produtos do agronegócio são “colados” às cotações internacionais.

Observa‑se, portanto, que a inflação é pontual e não generalizada. Considerando ainda que: a) a inflação é variação de preços e não nível de preços; b) a tendência do câmbio é de estabilização ou até mesmo queda (em 2020, o real se desvalorizou quase 30%); e c) a safra será muito favorável e, certamente, a inflação no fim de 2021 estará bem comportada. Apesar desses pontos mais positivos, ocorrerão alguns “sustos” ao longo deste ano, uma vez que a inflação de 12 meses deve subir até meados de 2021, com isso, podendo atingir taxas próximas a 6%, para depois entrar em declínio, e “fechar” o ano em 3,5%, abaixo da meta – de 3,75%. O risco maior para este quadro seria o rompimento do teto de gastos.

Em relação ao nível de atividade, embora ainda não haja à disposição dados relativos ao fim do ano passado, indicadores parciais mostram desaceleração das vendas no comércio. O índice de confiança dos consumidores voltou a cair em dezembro, o mesmo acontecendo com o índice de confiança empresarial (a exceção foi o índice de confiança da indústria, que continuou em ascensão, dado que o setor se encontra ainda num processo de reposição de estoques).

Mesmo considerando essa perspectiva e ainda as incertezas que se mantêm para os próximos meses (“tamanho” da segunda onda, velocidade da vacinação, criação de eventuais programas de transferência de renda, etc.), pode‑se esperar um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,5% (3,4% de acordo com a Focus).

Aqui é importante destacar a diferença entre a média de crescimento do ano (os 3,5% projetados) e o crescimento “na margem”. A primeira, ao considerar o nível médio de 2021 em relação ao nível médio do ano anterior, é favorecida pelo baixo nível de atividade do segundo trimestre de 2020, lembrando que a economia se recuperou fortemente no terceiro trimestre, mas deu sinais de arrefecimento no quarto.

Nesse sentido, somente o efeito estatístico (carregamento) garante crescimento em torno de 3%, ou seja, mesmo que o PIB se estabilize nos níveis observados no fim do ano passado, tal expansão estará garantida. Isto significa dizer que, ao longo de 2021, o crescimento do nível de atividade “na margem” será bastante fraco. Há possibilidade, inclusive, que ocorra alguma contração no início do ano, em razão do encerramento do auxílio emergencial e da presença da segunda onda. Depois, é possível esperar alguma recuperação que, reforçando, na margem deve ser bastante contida.

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