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Inteligência Artificial: oportunidades reais

Abram Szajman
é presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), entidade gestora do Serviço Social do Comércio (Sesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) no Estado de São Paulo
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Abram Szajman
é presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), entidade gestora do Serviço Social do Comércio (Sesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) no Estado de São Paulo

Em mais de sete décadas de trabalho, sempre observei atento os movimentos do mundo empresarial e, em paralelo, às constantes novidades tecnológicas que foram surgindo. Agora, é a vez da Inteligência Artificial (IA), que, ao contrário de todas as outras que presenciei, parece tanto mais rápida no cotidiano das empresas quanto mais profunda — dentro e fora delas. É, de fato, uma revolução.

No âmbito dos negócios, já é uma realidade ter demandas resolvidas por atendentes virtuais, ou mesmo acessar produtos e serviços diversos sem nenhum tipo de interação humana, mas apenas com o acompanhamento de robôs (os chamados chatbots). No Comércio e nos Serviços, os ganhos são evidentes: a possibilidade de personalizar a experiência de compra dos consumidores, a automação de processos logísticos e a própria interação digital, que otimiza custos, melhora a capacidade de definir estratégias e agiliza as operações. No e-commerce, já há quem use os denominados algoritmos de IA para analisar os comportamentos dos clientes, as tendências mais comuns de vendas e como as pessoas estão experimentando a navegação em aplicativos e portais — e, então, oferecer melhores produtos e serviços depois.

Sem contar que a Inteligência Artificial permite que os recursos materiais sejam geridos de forma mais eficiente, como os estoques dos comerciantes, por exemplo, assim como aqueles imateriais – tarefas e fluxos cotidianos – que, com a IA, tendem a se tornar mais rápidas e precisas. Para os Serviços, isso significa, como tem se dito há algum tempo, entregar parte das atividades mais burocráticas aos “robôs”, como elaboração de relatórios, e se dedicar sobre as estratégias – de onde podem sair inovações.

Trata-se de um cenário de grandes oportunidades, de fato, mas também de desafios.

Um consenso que percebo ao conversar com o empresariado é que não há alternativa: é um caminho sem volta e, portanto, todos devem se adaptar à nova realidade. Mas como isso acontece na prática?

Uma questão fundamental, por exemplo, é se as pequenas empresas estão fazendo parte dessa revolução. Em um país onde a maioria dos negócios é de pequeno porte, de cunho familiar, sem contar os muitos microempreendedores que robustecem os mercados, não há como pensar em IA sem incluí-los.

Outra discussão diz respeito à produtividade. Um dos gargalos estruturais do Brasil é a dificuldade em fazer o trabalho ser mais eficiente, seguindo os melhores padrões internacionais — dos quais fomos nos distanciando nas últimas décadas. A IA parece reabrir essa possibilidade, desde que as novas ferramentas sejam adotadas pelas empresas com esse propósito.

Da mesma forma, é preciso olhar com mais atenção para a formação de trabalhadores e trabalhadoras, já que vejo apenas pouquíssimas companhias (e raros profissionais) realmente preparadas para manusear todos esses dispositivos com precisão e com capacidade de utilizá-la como inovação, além de saber como implementá-los em suas tarefas cotidianas e, mais do que isso, como adaptá-las conformando pequenos grupos digitalmente qualificados dentro de uma força de trabalho ainda analógica. Se não observado desde já, esse desafio pode abrir ainda mais o abismo social do País. Esse dilema necessita de uma revisão nas trilhas de capacitação para micro e pequenas empresas, assim como inseri-las em circuitos econômicos nos quais a IA tenha condições de potencializar produtos e serviços.

Recentemente, a FecomercioSP criou um think tank de Inteligência Artificial dedicado a se debruçar sobre essas questões. O projeto pretende não apenas explorar essas potencialidades, levando-as para públicos ainda não alcançados pela nova tecnologia, como ajudar no longo processo de regulação da IA nas instâncias políticas. Se ele colaborar no debate sobre o desenvolvimento econômico e social brasileiro a partir da Inteligência Artificial, ajudar da modernização do Estado e considerar o respeito aos direitos fundamentais, terá tido êxito.

Ainda que a inteligência seja condicionante para o nosso progresso, é preciso se atentar, sobretudo, à qualificação do capital humano. Se seguirmos todas essas direções, o Brasil tem tudo para não deixar passar esta nova revolução tecnológica, aproveitando o momento para revolucionar também a maneira como lida com muitos dos próprios problemas estruturais. Uma oportunidade e tanto.

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