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Microcrédito reduz desigualdade de gênero

Agência BORI
é um serviço único que conecta a ciência a jornalistas de todo o País. Na BORI, profissionais de comunicação cadastrados encontram pesquisas científicas inéditas e explicadas, além de materiais de apoio à cobertura jornalística e contatos de cientistas de todas as partes do Brasil preparados por nós para atender à imprensa. Acesse: abori.com.br
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é um serviço único que conecta a ciência a jornalistas de todo o País. Na BORI, profissionais de comunicação cadastrados encontram pesquisas científicas inéditas e explicadas, além de materiais de apoio à cobertura jornalística e contatos de cientistas de todas as partes do Brasil preparados por nós para atender à imprensa. Acesse: abori.com.br

Instrumento essencial para inclusões social e econômica, ao permitir que proprietários de microempresas tenham acesso a capital de giro para desenvolver seus negócios, a concessão de microcrédito também pode contribuir para a redução da desigualdade de gênero. Pesquisa realizada pela estudante Aine Carolina Lima, de 17 anos, que cursa o segundo ano do ensino médio no Colégio Etapa, em São Paulo (SP), mostrou que, após conseguir crédito, o aumento do faturamento de microempreendedoras foi de 19,9%, frente a 14,6% dos homens. O estudo, que teve orientação do Insper, foi publicado no Journal of Student Research (High School Edition), uma das principais revistas internacionais voltadas a alunos de iniciação científica.

Para avaliar o impacto do microcrédito na receita de microempreendedores, de modo geral, e comparativamente, nos negócios administrados por homens e mulheres, consideraram‑se os dados de 8.724 microempresários e microempresárias de quatro Estados do Nordeste do País – Maranhão, Ceará, Paraíba e Pernambuco –, que tiveram empréstimos concedidos pela Avante, fintech especializada em microcrédito.

Foram comparadas as receitas declaradas em dois momentos distintos – durante o processo de avaliação, para a concessão do crédito, e após a conclusão do pagamento e a solicitação da renovação do financiamento. Esses rendimentos, por sua vez, foram confrontados aos mais de 4,27 mil microempresários (grupo de controle), que também solicitaram crédito no mesmo período, mas não tiveram o pedido aprovado.

Todas as informações usadas no estudo foram declaradas nas entrevistas como realizadas para a concessão de crédito. Dentre os 8.724 participantes considerados, mais de dois terços eram mulheres, proporção condizente com as estatísticas de empreendedorismo no País.

Em relação aos ramos de atividade, os segmentos de cosméticos e vestuário concentraram mais mulheres, enquanto a presença masculina foi maior na área supermercadista. Quanto ao crédito concedido, o valor destinado às mulheres (R$ 2.737,36) foi, em média, 10,8% inferior ao dos homens (R$ 3.070,12). Na comparação das receitas por setor, mesmo nos segmentos em que elas representam a maioria, eles faturam mais, sendo que, no mercado de vestuário, por exemplo, essa diferença chegou a 20,2%.

Na análise dos rendimentos dos dois grupos, verificou‑se que a concessão de crédito teve consequência positiva na receita de quem conseguiu o empréstimo (incremento de 6,7%), em relação ao grupo de controle (aumento de 2,6%, no período). No recorte por gênero, os resultados mostraram que o aumento médio da receita das microempresárias foi 39,37% superior ao dos homens – em Pernambuco e na Paraíba, essa diferença chegou a 55,98% e 63,05%, respectivamente.

Aine conta que sempre quis trabalhar com impacto social, e o estágio de seis meses na Avante, durante o primeiro ano do ensino médio, possibilitou a realização da pesquisa. “Tive a oportunidade de, além de aprender estatística como em uma faculdade, conhecer o mundo do microempreendedorismo. Pensei que, com o estudo, eu poderia mostrar às pessoas a força que os microempreendedores têm, principalmente as mulheres.”

Ela considera os resultados surpreendentes. “Vimos que as mulheres, apesar de representarem a maior parte dos clientes da empresa [Avante], apresentam faturamento significativamente mais baixo do que o dos homens. Mas, após receberem os empréstimos, aumentaram seu faturamento em relação a eles”, destaca. “Se mais pessoas soubessem do impacto positivo que o microcrédito tem na vida dos empreendedores, muitos projetos e políticas públicas poderiam ser implantados”, completa a estudante, que pretende estudar Engenharia nos Estados Unidos. Atualmente, ela está desenvolvendo um aplicativo para ajudar microempreendedores a controlar suas vendas.

RENDA FAMILIAR E ENEM

Outro trabalho científico, desta vez publicado por pesquisadores da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da Universidade de São Paulo (USP), na Revista de Administração Pública (RAP), também fez uma análise interessante sobre renda e desigualdade. A pesquisa mostrou que uma parte significativa do desempenho dos alunos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) reflete a realidade socioeconômica em que cada um vive – incluindo renda familiar e nível instrucional das mães.

Essa conclusão foi possível a partir da análise e do cruzamento de microdados do Enem 2018, do Censo Escolar 2018 e de dados estatísticos do IBGE 2018. Os microdados do Enem contêm as notas dos mais de 4 milhões de alunos que realizaram o exame naquele ano, assim como suas respostas ao questionário socioeconômico. Já os microdados do Censo Escolar 2018 trazem informações sobre a infraestrutura das escolas, as disciplinas oferecidas, a quantidade de salas e de profissionais, entre outros.

“A partir dos nossos resultados com análises de dados de 2018, podemos projetar que os próximos exames do Enem vão acentuar ainda mais os critérios de influência no desempenho dos estudantes, associados a variáveis econômicas, raciais, de perfil instrucional da mãe, incentivo escolar e de infraestrutura do ensino escolar”, comenta Anne Caroline de Freitas, doutoranda em Ensino na USP e autora do trabalho.

As duas pesquisas – sobre microcrédito para redução de desigualdades de gênero e sobre o impacto da renda familiar no desempenho dos alunos no Enem – foram publicadas em novembro deste ano e divulgadas à imprensa pela Agência BORI. Juntos, os dois trabalhos revelam a importância de termos políticas de renda e de crédito, voltadas especialmente às mulheres, para o desenvolvimentos social e econômico do País.

ESTE CONTEÚDO ESTÁ PUBLICADO NA EDIÇÃO #468 IMPRESSA DA REVISTA PB. A VERSÃO DIGITAL ENCONTRA-SE DISPONÍVEL NA BANCAH.

Os artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da PB. A sua publicação tem como objetivo privilegiar a pluralidade de ideias acerca de assuntos relevantes da atualidade.