Passados são os tempos em que Milton Friedman, Prêmio Nobel de Economia e defensor intransigente do liberalismo econômico no século 20, declarou que “o único propósito de uma empresa e gerar lucro para os acionistas”.
Há varias razoes pelas quais o posicionamento extremado de Friedman foi mudando. As consequências sociais negativas de um “capitalismo selvagem” foram ficando evidentes e forcaram as próprias empresas a promover atividades filantrópicas em grande escala, tentando, com isso, evitar que os governos aumentassem os impostos para atenuar conflitos sociais.
A deterioração do meio ambiente em muitas áreas, ameaçando o bem‑estar das populações, que exigiam melhores qualidades da agua e do ar, também levou governos a adotar rigorosa legislação ambiental.
Também é valido destacar que os padrões culturais de muitos países evoluíram bastante nas últimas décadas, com as tentativas de eliminação da discriminação racial, bem como de defesa dos direitos das mulheres e de outros grupos sociais fortemente discriminados no passado. Entre os jovens, em particular, surgiram amplos movimentos para a adoção de um padrão de vida mais simples, menos dependente de tecnologias poluentes (como automóveis) e intensivo uso de computadores e Tecnologia da Informação (TI).
A ideia da sustentabilidade, na qual foi pioneira a primeira‑ministra da Noruega Gro Brundtland, passou a dominar todos os níveis da sociedade, influindo fortemente nas políticas governamentais. As grandes preocupações atuais com o aquecimento global demonstraram bem o que está ocorrendo: um problema como a mudança do clima, que só vai se tornar realmente grave dentro de 20 ou 30 anos, mobiliza governos, os quais, normalmente, só se preocupavam com o futuro imediato.
Nas empresas, isto está se refletindo na importância crescente que e dada ao ESG (Environmental, Social and Corporate Governance), isto e, governança corporativa social e ambiental. O grau de conscientização e importância dado ao ESG varia muito entre as empresas, mas está aumentando. E vai ao encontro das alterações nos padrões de consumo das novas gerações. Empresas melhores em ESG acabam tendo resultados superiores.
Acionistas – sobretudo os minoritários e de grandes grupos empresariais – fazem pressão para a inclusão de mais mulheres no conselho das empresas e a escolha de conselheiros mais sensíveis a considerações ambientais. O próprio setor financeiro já acordou para o problema e está promovendo investimentos, a juros mais baixos, para negócios com índices melhores da sustentabilidade nos seus três pilares: governança, aspectos sociais e aspectos ambientais.
Apesar de muitas empresas adotarem práticas de ESG, em maior ou menor grau, existe um problema envolvendo a métrica utilizada e os pesos relativos dos três componentes do tripé: “E” (meio ambiente), “S” (componente social), “G” (governança corporativa).
A evolução temporal dos índices adotados será um indicador importante até que se crie um consenso sobre quais os melhores indicadores a utilizar.
Enquanto isto, as jornadas ESG e pelo desenvolvimento sustentável são fundamentais e devem ser percorridas por todas as empresas, de qualquer porte, tipo ou setor, de forma que possam aprender e alcançar maturidade a seu tempo e a seu jeito, porém, com seriedade, transparência e verdade.
Desta forma, tais como as pessoas, as empresas precisam refletir, interagir e trocar experiências e aprendizados, externalizar dores e buscar soluções conjuntas, como estamos fazendo no Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP e seu recém-criado Comitê ESG.
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