Artigo

O Brasil entre os ricos

Daniel Buarque
é pesquisador de Relações Internacionais no King’s College London (KCL), jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor de Brazil, um país do presente.
O
Daniel Buarque
é pesquisador de Relações Internacionais no King’s College London (KCL), jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor de Brazil, um país do presente.

O prestígio internacional do Brasil, em baixa desde a posse de Jair Bolsonaro como presidente, finalmente deu sinais de que pode dar um passo importante rumo à conquista de reconhecimento de um status global mais alto.

A candidatura do País a membro do “clube dos países ricos” – a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – foi aprovada para que se iniciem as negociações formais para a adesão. O processo deve ser longo e depende de uma série de exigências que incluem comprometimento com metas de redução de desmatamento. Ainda assim, é importante ver que o Brasil começou o processo que pode ajudar a projetar a própria imagem internacionalmente.

A aprovação do Brasil foi imediatamente comemorada por empresários e parte do mercado financeiro. Vê-se que um país-membro da OCDE terá a possibilidade de atrair mais investimentos, integrar melhor a economia ao resto do mundo, facilitar negociações e melhorar o ambiente para empresas nacionais no mercado estrangeiro.

Este tipo de celebração pelo avanço das conversas com a OCDE não foi unânime, entretanto. Para o ex-chanceler Celso Amorim, o “selo” de qualidade desse clube de nações mais ricas do planeta se desvalorizou nas últimas décadas. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Amorim citou problemas econômicos recentes no Chile e no México (que fazem parte do grupo) como evidência da incapacidade da organização de promover as economias dos membros.

Críticas assim fazem sentido até certo ponto. Por um lado, realmente pode-se falar em uma possível banalização da carteirinha de integrante do clube. É verdade que a OCDE já tinha países que não são lá tão ricos e desenvolvidos entre eles, a exemplo dos dois citados por Amorim. Além disso, junto ao Brasil, a organização também estendeu convite para início das conversas a Argentina, Peru, Bulgária, Croácia e Romênia. E a conquista de status, em grande parte, depende da exclusividade. Quando um tipo de reconhecimento é raro, vale muito. Contudo, se todos têm o selo, ele deixa de ser um grande diferencial para quem o conquista.

Por outro lado, é impossível ignorar que fazer parte da organização carrega um peso importante na forma como as relações internacionais são pensadas e as negociações globais realizadas. A OCDE é importante para o status do Brasil por se tratar de um clube de países que tiveram os níveis de riqueza, estabilidade e potencial econômico reconhecidos. E um dos principais símbolos de status internacional é justamente este tipo de aceitação em “clubes” de nações. Não ser parte do grupo (ainda mais quando ele está se expandindo) poderia pesar negativamente na percepção externa do País.

A participação em congregações é um fenômeno fundamental das relações internacionais. O prestígio do Brasil já se beneficia há quase duas décadas do fato de o País ser membro dos Brics (agrupamento formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), por exemplo. Por mais que este grupo seja questionado por ser muito heterogêneo, ele projeta no mundo a ideia de nações emergentes que podem se tornar potências um dia. E o Brasil está lá.

Além disso, o País historicamente nutre uma grande ambição por se tornar membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas (que seria um “clube das grandes potências”, em comparação à OCDE).

Se a crítica de Amorim for aceita, seria possível questionar as vantagens em ser parceiro permanente do Conselho de Segurança. Membros da elite de política externa dos países-membros permanentes desta reunião (Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China) alegam que o Brasil não se beneficiaria tanto de ser parte do grupo, e que isso teria mais custos do que vantagens para o País. Entretanto, é evidente que ser aceito seria importante para o status nacional, de ser reconhecido como um “par” das nações mais poderosas do planeta.

Esta abordagem vale também para a OCDE. Pode até ser que não haja vantagens materiais e imediatas, mas a associação vem com a elevação do status do Brasil, o que traz vantagens não materiais importantes, como o reconhecimento da importância da economia brasileira.

Os artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da PB. A sua publicação tem como objetivo privilegiar a pluralidade de ideias acerca de assuntos relevantes da atualidade.