Até agora, a eleição brasileira cuida do passado. Na dianteira, o ex-presidente e o atual presidente, dois dos mais longevos políticos em atividade, chamam mais a atenção pelo que foram do que pelo que poderão ser. Interessante sina de um país onde o eleitor é obrigado sempre a se definir em relação ao outro, mais do que em relação a si próprio. Os candidatos pedem benevolência e crença para seus propósitos, mais do que asseguram as vantagens de quem acredita neles.
A invasão da Ucrânia pela Rússia vai em outra direção, ao demonstrar que o capitalismo é o maior sistema de cooperação do mundo desenvolvido – que, rapidamente, se uniu contra a estupidez do conflito. No Brasil, a política parece não estar baseada em sentimentos morais, e as divergências entre candidatos produzem mais divergências.
Países que não atravessaram nenhum grande acontecimento da história mundial e não viveramtraumas nem riscos estruturais em suas sociedades costumam dar pouco valor às preocupações com o futuro. O Brasil é um curioso exemplo de nação onde podemos dizer que o capitalismo, a democracia e a tecnologia, os três principais fatores de progresso, não conseguiram deter as desigualdades de renda e riqueza e está longe de encontrar uma solução para a pobreza persistente.
O parlamento, uma das principais instituições para entender nosso despreocupado estado de espírito com os grandes desafios que temos pela frente, é composto por partidos insatisfatórios, por culpa deles mesmos. Todavia, o caráter individualista de muitos parlamentares não é o único responsável por todos os problemas de representação que temos. Apesar de sermos um dos mais destacados países do mundo em grandeza, população, recursos naturais e pluriculturalismo, o pluripartidarismo estéril que praticamos não articula, tampouco oferece aos governos, sólida proposta institucional para melhor situar o País na balança de poder mundial.
O excedente de energia que o homem público tem deveria servir para a mobilização da sociedade em direção à mudança e ao desenvolvimento. Temos, no entanto, a chave da transformação na consciência e na atitude do eleitor diante da urna. Os candidatos devem mirar o eleitor, o único capaz de corrigir os excessos nas campanhas. E um dos mais preparados para mudar o cenário de incerteza e insegurança em que vivemos é o eleitor que oscila em sua preferência preocupado com o Brasil. Observador cauteloso, não por ser um indeciso, mas, principalmente, por ser decidido e consciente.
O voto pendular do eleitor livre é o que equilibra a balança do poder, muda o rumo de eleições e estabelece o perfil do governante adequado ao momento que vivemos. O eleitor engajado não vê campanha, tem espírito de grupo e vai até o fim custe o que custar. O indeciso costuma ter um amor-próprio desinteressado do resultado final e tende a votar em quem acha que vai ganhar. Contudo, o eleitor pendular está ali, atento a cada eleição, não entrega os pontos e tem grande desejo de acertar.
O eleitor decisivo é o eleitor de Estados metropolitanos, mas que contam com um grande interior comunitário em torno de cidades médias e pequenas. De economia mista, urbano/rural, industrial/agropecuária, comércio e serviços e que não gosta de ver a apropriação dos ganhos do progresso por um lado só da sociedade em que vive.
O eleitor pendular é o único que os candidatos realmente temem, pois só ele tem autonomia para, de fato, escolher, eleger e derrotar. Inconquistável e livre, é ele que conquista.
ESTE CONTEÚDO ESTÁ PUBLICADO NA EDIÇÃO #469 IMPRESSA DA REVISTA PB. A VERSÃO DIGITAL ENCONTRA-SE DISPONÍVEL NAS PLATAFORMAS BANCAH e REVISTARIAS.
Os artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da PB. A sua publicação tem como objetivo privilegiar a pluralidade de ideias acerca de assuntos relevantes da atualidade.