Assistimos, no último século, ao aumento progressivo da presença feminina nos mais diversos espaços sociais, à entrada maciça no mercado laboral e a um crescente protagonismo em posições decisórias e de liderança. Apesar dos avanços, que merecem ser celebrados, há, porém, um longo caminho a ser percorrido na direção da igualdade de gênero e da ampliação do acesso das mulheres a melhores condições de vida e oportunidades de renda, especialmente em um país desigual como o Brasil.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados em 2023, indicam que as mulheres são mais da metade da população brasileira e o grupo mais escolarizado, apesar de representarem somente 38,9% da força de trabalho no País. No caso das mulheres negras, que configuram 29,4% da população, a presença no mercado de trabalho é de apenas 17,8%.
Também do IBGE, dados de 2019 indicavam que a presença de crianças de até 3 anos de idade no domicílio era um fator relevante para a empregabilidade feminina, com uma diferença de quase 10% na taxa de ocupação em relação aos lares sem crianças pequenas. A pandemia de covid-19 trouxe desafios adicionais a esse cenário de desigualdades, considerando as funções de cuidado que foram demandadas de forma exponencial no período e que ainda são, majoritariamente, exercidas por mulheres na nossa sociedade. Nas empresas, esse cenário ainda é pouco explorado.
O Ethos, em 2016, desenvolveu uma pesquisa que, até hoje, é a mais citada em reportagens e estudos quando se fala na ocupação da mulher no meio empresarial brasileiro. Neste momentom o instituto está atualizando esse estudo, chamado Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e suas Ações Afirmativas*, com o objetivo de apurar a percepção e a análise dos dados públicos sobre a presença e as posições das mulheres no mercado de trabalho. O seu foco está nas desigualdades des composições social, racial e de gênero no mercado de trabalho privado, além das principais políticas empreendidas pelas empresas para aprimorar a inclusão e equidade. Desta vez, o estudo tem como base as mil maiores empresas e os cem maiores bancos do País.
A oportunidade de observar os efeitos da pandemia e das mudanças políticas e econômicas no Brasil, hoje, aprimoram a importância do estudo, em especial pela falta de outros levantamentos similares. Assim como os cenários mudam, os indicadores também se alteram ao longo do tempo, fazendo da produção e da atualização de dados a chave para que possamos caminhar em direção a um futuro mais diverso e igualitário no ambiente de trabalho. É fundamental que as empresas se envolvam em práticas de promoção da equidade em seus ambientes, inclusive com a decisão de dedicar investimentos para iniciativas referentes às políticas de diversidade e equidade. A definição de políticas de contratação e vagas afirmativas são outros exemplos de inciativas que contribuem nessa direção, mas precisam estar alinhados com práticas mais contínuas e perenes. Além da criação de métricas, é preciso acompanhar regularmente o desenvolvimento dos indicadores, definindo estratégias para que as empresas avancem de forma efetiva na agenda.
Como motores do desenvolvimento de um país, as empresas devem ser protagonistas na construção da equidade em todos os seus aspectos. A lição começa dentro de casa, e a promoção da diversidade e da inclusão no ambiente corporativo é o mais produtivo caminho. A presença feminina no mercado laboral, especialmente em condições de igualdade de oportunidades e em posições nas quais exerçam o máximo potencial profissional, traz ganhos para todo o País e segue na direção de uma sociedade mais justa e próspera.
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