Artigo

Pressa e desafios inevitáveis

Paulo Delgado
é sociólogo, cientista político e membro do Conselho Superior de Economia, Sociologia e Política da FecomercioSP.
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Paulo Delgado
é sociólogo, cientista político e membro do Conselho Superior de Economia, Sociologia e Política da FecomercioSP.

Novos modelos de pensamento, tecnologia, hábitos e negócios tomaram conta do mundo, e a boa e velha moda do ver, pensar e agir está sendo substituída pela velocidade e a pressa do ver e logo querer agir. Passar por cima do pensar é um mau conceito de inovação e liderança. Não produz paz de espírito, prosperidade e segurança nem nas decisões pessoais, nem nas econômicas, muito menos na ação política. Viver não é um rally, improvisação não é criatividade — e o algoritmo não é Deus. 

Sem um sistema mundial de controle e prevenção de riscos e catástrofes, o mundo combina freio e acelerador, luz e sombra, e a melhor escolha nessa hora é cuidar bem de casa, pois as tensões globais ultrapassaram fronteiras e andam fora de controle de governos. E dentre os principais riscos globais que enfrentamos, a má gestão da natureza e a mudança crítica nos sistemas terrestres se sobrepõem a quase todos os outros, transmitindo sinais de que a natureza perdeu a paciência com a má gerência da terra.

Arranjos confusos nos três poderes levam as autoridades a não perceber que o pior significado de uma frase, discurso, lei ou sentença são suas consequências práticas que roubam a energia boa da Nação. Quando a improvisação predomina — e mesmo em acordos e contratos se deixa tudo para a interpretação —, são as próprias instituições que alimentam a controvérsia que domina as conversas sobre a legitimidade das razões do Estado. Para vencer o desnorteamento e criar uma maré alta de otimismo, confiança e prosperidade é preciso enfrentar alguns tabus. Nenhum tema é inadequado ser for enfrentado de forma informada e verdadeira. E ficar atento ao fato de que, em qualquer setor, fervorosos defensores de ideias erradas devem ser vistos como desastrosos aliados.

Neste caso, para problemas crônicos largamente diagnosticados ou agudos e evitáveis, a pressa não é inimiga da perfeição. Um deles é compreender mal o presidencialismo, abusar da centralização e não ter paciência para críticas. A consequência, que pode mudar a natureza do Estado, é não levar em conta o a importância do federalismo, partilha democrática do poder entre União, Estados e municípios, adotado no Brasil desde a Constituição da República de 1889. Em ano de eleições municipais e início da implantação da nova lei tributária, o Estado precisa se precaver da voracidade da Receita Federal.

Outro ponto, cuja missão modernizadora do País exige imediato enfrentamento, é a Reforma Administrativa para aprimorar o funcionamento estatal. O sistema político, governo e parlamento, não pode esperar que a sociedade perca a confiança nos poderes da União e nas suas instituições seculares. Nem pode assimilar para si o prestígio que desfruta entre os cidadãos que, periodicamente, elegem os preferidos, honrando a democracia representativa. Também o Judiciário não deve se organizar em cima de privilégios de carreira ou funcionar como origami, a arte japonesa de dobrar papel em múltiplas representações. E, assim, quando passa da conta, toda sociedade sente a insegurança das próprias decisões. 

São desafios que levam o Brasil ao otimismo cauteloso que o deixa contido e dividido, traduzindo a esperança como situação estática, pela necessidade de mais clareza e confiança. Para enfrentar os desafios inevitáveis, a solução é o Estado atuar ao lado das instituições da sociedade de forma receptiva ao diálogo, com ideias viáveis, de forma planejada, compartilhada, previsível e compreensível.

ESTE ARTIGO FAZ PARTE DA EDIÇÃO #480 IMPRESSA DA REVISTA PB. PARA CONTINUAR LENDO, ACESSE A VERSÃO DIGITAL, DISPONÍVEL NAS PLATAFORMAS BANCAH E REVISTARIAS.

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