Entender o comportamento dos partidos nos Estados indica porque é difícil pensar em candidaturas e coligações nacionais. No Brasil, apenas presidente e vice são votados em todo o território. O restante – 513 deputados federais, 81 senadores, 27 governadores e seus vices, além dos 1.059 deputados estaduais – é selecionado por Estado. Pela teoria política, em países federativos dotados de partidos nacionais, o comportamento destas organizações tende a ser regionalizado, ou seja, o alinhamento entre acordos estaduais e nacional é complexo.
Em 2002 e em 2006, a Justiça impôs ao País a verticalização das coligações. O cenário ficou tão artificial que entre as dez maiores legendas existentes em 2006, seis desistiram de apoios formais na corrida presidencial. Em 2010, a lógica voltou “ao normal”, instituída por emenda constitucional no Legislativo, tamanha a resistência dos políticos à decisão do Judiciário.
Em 2022, até o presente momento, cinco partidos sinalizam de forma mais concreta o lançamento de candidatos próprios ao Planalto: PT, PL, PDT, Podemos e PSDB, que buscam apoio sabendo que aliados nacionais nem sempre repetem os acordos nos Estados – que o diga a candidatura tucana em 2018. Outros tantos partidos devem aparecer na disputa, enquanto alguns podem desistir, mas, para o que pretendemos aqui, temos casos suficientes.
Bolsonaro se filiou ao Partido Liberal (PL), após dois anos sem legenda, sob a condição de que, com a esquerda, o PL não pode se coligar nos Estados. Seria possível? Tomemos 2010, 2014 e 2018, as eleições mais recentes, como exemplo. Ao todo, temos 27 unidades federativas, que, multiplicadas por três eleições, nos dão um máximo de 81 alianças entre partidos para a disputa de governos estaduais. Desses 81, PT e PL se aliaram em 36% das vezes, com destaque para o Nordeste, onde Bolsonaro (PL) encontra dificuldade e Lula (PT) tem amplo apoio político. Nestes três pleitos, a aliança entre PT e PL para governador aconteceu em 20 das 27 unidades. Na Bahia, em Pernambuco, no Maranhão, no Piauí, em São Paulo; no Rio Grande do Sul e no Pará, duas das três vezes, e no Mato Grosso, em todas elas. Assim, os políticos do PL sabem da importância da união, ou seja: quanto custa a adesão do presidente à legenda? Quanto consumirá do orçamento secreto e do Fundo Eleitoral? Mais: e se houver chances de o presidente sair derrotado? O cálculo fica mais complicado.
Exercício igualmente desafiador, tendo em vista que Bolsonaro se opõe a adversários de forma intensa, é pensar que o Podemos de Sergio Moro esteve com o PL em 37% dos 81 pleitos. Além disso, em quase 30% deles, o PSBD (hoje, com João Doria) e o PL se uniram. Fácil?
Nestas variadas combinações, PT e PDT formam a dupla mais regular: 42% das alianças possíveis. Deve ser por isso que em parte do PDT há desconforto com Ciro Gomes – e um eventual afastamento estadual entre as siglas. Merece atenção também o pareamento entre o Podemos (antigo PTN) e o PDT, com 31% de casos. Seria possível imaginar que dois dos três nomes da via alternativa à disputa entre Lula e Bolsonaro dividiram palanques?
Por fim, a única relação consolidada em tom de rivalidade é entre PT e PSDB. Esta aliança não ocorre desde 1998, mas é um ex‑tucano na chapa de Lula como vice quem mais chama a atenção nacionalmente. Realidades locais são diversas, e o estabelecimento de clivagens políticas, rivalidades e alianças em cada Estado depende de carências e peculiaridades locais. Dessa forma, é complexo pensar em alianças nacionais e consolidações de nomes para além da esfera estadual em um país como o Brasil.
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