Artigo

Redefinições necessárias

Mariana Aldrigui
é doutora em Geografia Humana, pesquisadora em Turismo Urbano na Universidade de São Paulo (USP) e presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP
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Mariana Aldrigui
é doutora em Geografia Humana, pesquisadora em Turismo Urbano na Universidade de São Paulo (USP) e presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP

O efeito devastador da pandemia de covid-19 já foi documentado e debatido por diferentes especialistas, e dificilmente há quem seja capaz de negá-lo. A despeito de 2020 ter sido o ano no qual se pôs o conceito de resiliência à prova, ainda não é possível afirmar quais foram os setores que mais sofreram, mesmo que algumas evidências nos permitam concordar que, de fato, o de viagens e turismo será o mais impactado – em virtude do tempo necessário à sua recuperação.

As existências combinadas de políticas públicas claras para o desenvolvimento do setor turístico e a disponibilidade de dados socioeconômicos relevantes permitiram que países como Itália, Espanha, Alemanha e Reino Unido, entre outros, rapidamente adotassem medidas de proteção aos empregos e disponibilização de linhas de crédito para os empregadores; enquanto, no Brasil, o turismo se mostra politicamente irrelevante.

A principal evidência está na disparidade entre o reconhecimento das perdas (estimadas em torno de R$ 208 bilhões entre março e outubro de 2020, conforme dados da FecomercioSP) e a oferta de crédito capitaneada pelo Ministério do Turismo, que não ultrapassou R$ 6 bilhões – ou 3% do que foi perdido. Entre empregos diretos e indiretos, estimam- se cerca de 660 mil desligamentos, e cabe ressalvar que as contratações posteriores tendem a envolver menos qualificação e menores salários.

Até o fim do mês de outubro, não ficaram evidentes as estratégias nacionais para recuperação do setor, considerando que, para além dos efeitos vinculados à pandemia, ainda se somam as queimadas na região amazônica e no Pantanal e as ameaças constantes à preservação de ecossistemas – como o caso de restingas, manguezais e a fauna marinha em Fernando de Noronha –, bem como a recuperação (ou redefinição) da imagem
internacional do Brasil no exterior.

Compreendendo que as perdas de 2020 fazem com que a movimentação econômica do turismo retorne ao patamar de 2001, representantes da Organização Mundial do Turismo (UNWTO), com a colaboração de pares como WTTC [Conselho Mundial de Viagens e Turismo], Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), G20 e Banco Mundial, indicam três pilares fundamentais para o redesenho de políticas para o turismo: a capacitação das pessoas, a proteção do planeta (e sua biodiversidade) e a definição de novas fronteiras, com o benefício da inovação. Para tanto, a relação das tarefas a serem cumpridas pelos governos compreende: investimentos em qualificação e capacitação profissional;

1.promoção do papel das mulheres nas comunidades;

2.estímulos à inovação, à digitalização e ao empreendedorismo;

3.fortalecimento das comunidades (para menor dependência do turismo internacional);

4. desenvolvimentos de infraestrutura e serviços para melhoria da qualidade de vida nas comunidades;

4. criação de programas consistentes de preservação ambiental e valorização cultural;

5. adoção de práticas de formalização e valorização de trabalho decente;

6. acessibilidade generalizada;

7. adoção de modelos com Parcerias Público-Privadas (PPPs) e agentes da comunidade.

Uma crise sem precedentes, causada pela pandemia, nos oferece grande oportunidade de redefinir as práticas nacionais de turismo, de forma mais sustentável e inclusiva, garantindo distribuição territorial mais ampla e atingindo mais pessoas e comunidades. Para que isso aconteça, outra mentalidade de gestão pública para o turismo se faz urgente e necessária.

ESTE TEXTO FOI PUBLICADO NA EDIÇÃO ESPECIAL DA PB EM PARCERIA COM O CANAL UM BRASIL. AO LONGO DO MÊS DE JANEIRO, O CONTEÚDO COMPLETO DA REVISTA SERÁ OFERECIDO NO SITE DA PB.

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