O ano de 2022 será de escolhas decisivas para o Brasil, servindo como ponto de revisão para o projeto de Nação que os brasileiros sonham, discutem e com o qual, na maioria das vezes, acabam se frustrando. Fragilizado pela pandemia que varreu o planeta, o País terá de se reorganizar para crescer com sustentabilidade – em todos os sentidos que a palavra carrega.
Estar entre as economias mais pujantes do mundo ao longo da próxima década requer, em primeira instância, maturidade institucional para reconhecer a urgência das reformas estruturais. Afinal, temos um Estado que, há três décadas, no mínimo, vem retroalimentando estruturas cada vez mais custosas e pouco produtivas. Assunto amplamente discutido em nossos conteúdos, as reformas são essenciais, mas, sozinhas, não resolvem todos os problemas nacionais.
Uma agenda com fortes implicações socioeconômicas aguarda encaminhamentos que vão emoldurar a recuperação do Brasil pós-covid-19. A partir da experiência e da propriedade intelectual de quem se dedica a entender as raízes dos gargalos que permeiam nossas histórias pregressa e atual, é possível traçar algumas das prioridades desta retomada. São desafios que se relacionam diretamente com a qualidade e a reputação da nossa democracia: fortalecer o sistema público de saúde; garantir proteção social com mecanismos eficazes de acompanhamento; conter a evasão escolar e recuperar o déficit de aprendizagem de crianças e jovens; aceitar e promover a diversidade da nossa cultura; frear o desmatamento e valorizar um de nossos ativos mais valiosos, o ambiental (sem que isso seja encarado como impedimento para o desenvolvimento econômico); alçar a ciência e a inovação a posições estratégicas na formulação de políticas públicas; aumentar a participação do setor privado para modernizar a infraestrutura nacional; e acelerar iniciativas de transformação digital com foco em transparência, melhores práticas de governança e serviços mais eficientes. No fim das contas, trata-se de crescer, não a qualquer custo, mas com inclusão e oportunidades ampliadas. Estes universos, o econômico e o inclusivo, quando referidos à parte da ideologia, não são excludentes. O País precisa desta associação para crescer mais e melhor.
Conter a inflação e promover a recuperação do emprego merecem lugar de destaque neste cenário, que também será marcado pelo compasso de espera nos investimentos externos – fruto da incerteza em relação às eleições presidenciais e do ambiente internacional desfavorável aos países emergentes. A economia mundial sofreu um baque com a crise sanitária, e um rearranjo das cadeias de produção e distribuição parece inevitável. Rearranjo esse que vai nos obrigar a mudar – e rapidamente. Estamos, como país, atrasados e fechados; precisamos, de forma conjunta, recuperar o tempo perdido. Com espírito crítico e de forma responsável.
As páginas do número 468 da revista Problemas Brasileiros, especial em parceria o Canal UM BRASIL – realizações da FecomercioSP – acolhem questões elementares para este mencionado amadurecimento do País – a despeito de colorações partidárias ou ideológicas. São opiniões que nos ajudam a refletir e, o mais importante, nos provocam a pensar o Brasil de agora, desprendido de nostalgias irracionais e ressentimentos (marcas da sociedade dos dias atuais). Ou fazemos todos juntos ou perdemos todos juntos, como constata o cientista e deputado do Parlamento de Portugal, Alexandre Quintanilha, ao falar sobre negacionismo e polarização.
O ano do aniversário da nossa Independência parece uma ótima oportunidade para que se leve adiante este processo imprescindível de reconstrução após uma crise sem precedentes. Aliás, reconstrução com modernização – projeto embalado por outra efeméride centenária, a dos modernistas, que há cem anos se dedicaram a “reescrever” a ideia de Brasil. Independência com modernidade.
Os assuntos abordados na edição se conectam e trazem respostas à luz da ciência, do momento político e da compreensão histórica, a qual, a cada dia, nos proporciona interpretações sobre as mudanças globais com as quais temos que lidar. Está claro que negá-las não é o melhor caminho. Também está claro que repensar nosso lugar nessas mudanças é um início. E evidente que (re)encontrar nosso lugar neste novo mundo é imperativo.
Boa leitura.
Os artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da PB. A sua publicação tem como objetivo privilegiar a pluralidade de ideias acerca de assuntos relevantes da atualidade.