O gráfico que mostra as curvas de infecções e mortes por covid-19 (e também de vacinação), em diferentes nações, é assustador quando se avalia o caso do Brasil. O País, lugar onde mais pessoas foram vítimas do coronavírus neste ano, levou apenas 51 dias para registrar 100 mil mortos e atingir a assustadora marca de meio milhão de vítimas da doença, em 19 de junho.
O mais preocupante dos gráficos organizados pela universidade de Oxford na plataforma Our World in Data, entretanto, é que enquanto a vacinação avança no mundo e vários dos países que tiveram graves problemas em razão do covid-19 começam a controlar surtos e flertar com a volta à normalidade, o Brasil está longe disso. Aqui se vê a proliferação da pandemia acelerada, em uma possível terceira onda da doença, o que faz o Brasil se consolidar, hoje, em uma rota que tem grande possibilidade de levá-lo ao ponto mais alto do terrível pódio dos países com maior número de óbitos pelo novo coronavírus. Em breve, vamos superar os Estados Unidos e nos tornar a nação onde mais pessoas morreram por causa da pandemia, em números absolutos. Uma triste liderança.
Até o momento, apenas o país norte-americano, que tem uma população cerca de 50% maior do que a brasileira, registra mais vítimas de covid-19 do que o Brasil – um total de 600 mil óbitos. Entretanto, o avanço da vacinação entre a população dos Estados Unidos está levando o registro de novas mortes a um dos índices mais baixos desde o início da pandemia, desacelerando o impacto nocivo do vírus no país. Enquanto cerca de 300 pessoas morrem por conta do coronavírus em terras estadunidenses, a média de brasileiros mortos pelo mesmo motivo é de mais de 2 mil, um saldo que “empurra” o País para o recorde de vítimas, que pode ser atingido em menos de dois meses.
Ainda que a Índia, que tem uma população quase sete vezes maior, também esteja em aceleração e possa ultrapassar o Brasil no registro de mortes, os números assustadores da nossa realidade evidenciam, ao resto do mundo, os erros do governo federal que levaram a esta situação desastrosa.
O governo Bolsonaro é “uma ameaça maior do que o coronavírus”, estampou o site americano da rede CNN, em uma reportagem sobre a marca de meio milhão de mortos e os protestos que se espalharam pelo território nacional contra a administração federal. Críticas às políticas do País proliferam pela imprensa estrangeira, em um misto de incredulidade e surpresa com o nível do negacionismo e a rejeição às políticas que se mostraram eficientes em outras partes do planeta.
Consolida-se a imagem de uma mistura de incompetência com uma política equivocada, vista no resto do mundo como a origem da situação na qual estamos: poucos brasileiros ainda não conhecem alguém que tenha morrido de covid-19. “O Brasil tem sofrido com uma distribuição lenta de vacinas e uma resistência a medidas de isolamento pelo governo de Bolsonaro, que minimizou a gravidade do vírus”, diz a mesma CNN.
Dentre os problemas que colocam o Brasil rumo ao recorde, existe a dificuldade em reconhecer a necessidade de mudar os planos do combate à pandemia. No começo da proliferação do coronavírus pelo mundo, vários países também adotaram posturas equivocadas, que acabaram ajudando na contaminação e no aumento do número de mortos. O governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, por exemplo, rejeitou medidas nacionais de isolamento social, enquanto o premiê britânico Boris Johnson defendia a tese da imunidade de rebanho. Com o tempo, entretanto, até estes líderes mudaram de postura, aceleraram a busca por vacinas ou aceitaram a imposição de lockdowns, conseguindo mudar a trajetória da doença. O Brasil fez o oposto. Mesmo com 500 mil mortos, uma vacinação lenta e que só foi alcançada por causa de muita pressão política, o governo continua fazendo o discurso negacionista que impulsionou o vírus. Enquanto o mundo avançou na vacina e nas políticas de isolamento – e começa a ver um aumento do controle do número de mortos, redução das contaminações e reabertura segura da vida normal –, o Brasil é empurrado pelo governo a uma terceira onda de mortes, rumo à triste liderança do total de vidas perdidas em decorrência da pandemia.
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