A reunião de embaixadores estrangeiros para ver o presidente da República criticar o sistema eleitoral brasileiro foi o principal e mais inusitado ato da pré-campanha para a Presidência da República. Revela o isolamento interno da tese de que não tem apoio nem do partido que o lançou.
Não há outra certificação de vitória eleitoral no Brasil do que o voto na urna eletrônica. Computado o resultado, proclama-se o vencedor. Nenhuma outra instituição tem esta prerrogativa, o que confere à soberania popular poder real. A decisão de desacreditar uma máquina eletroeletrônica de circuito fechado, já prevista no Código Eleitoral de 1932, lembra o personagem Ned Ludd, criador do ludismo, movimento operário inglês do século 19, que quebrava a máquina, fraudulenta e enganosa, que substituiu o tear manual, acusada de roubar empregos, no início da industrialização.
Sem muita astúcia ou novidade, a campanha segue polarizada, com suas derivas de personalidade. Enquanto o brasileiro continua sendo tratado como um povo fácil de ser contentado.
Com as convenções partidárias confirmando os nomes da disputa de outubro, começa, de fato, a campanha oficial, em 16 de agosto. As expectativas eleitorais continuam fortemente condicionadas pelas pesquisas de intenção de voto, sem nenhuma mobilização popular.
Bolsonaro, improvisado e espontâneo, segue concentrado em ativar o eleitorado específico que lhe dá sustentação, buscando alimentar suas mídias próprias, como faz com o movimento pelo voto dos evangélicos. Mantém o tom, visando ao eleitor conservador, sobre a agenda de costumes, porte de armas, anticomunismo, críticas às instituições. Não se importa com os partidos de oposição, que dão os votos de que precisa para controlar o Congresso e aprovar medidas sociais emergenciais, como a PEC dos Benefícios, que pode beneficiá-lo. Usa as urnas eletrônicas como estratégia para atacar o TSE, escolhido como seu maior adversário político.
Lula, mais planejado e contido, concentra sua campanha na construção de alianças regionais que permitam associar a Presidência às campanhas de governador. Busca aumentar sua performance nas redes sociais e manter fidelizados os movimentos sindicais e populares. Tem feito reuniões setoriais, fechadas, costuras que possam formar uma maioria estável, vislumbrando manter a dianteira nas pesquisas. Percebeu que, se a eleição anda bipolar nacionalmente, para governadores, ela é multipolar.
Ciro, intempestivo e persistente, continua o mais bem colocado do segundo grupo, resistindo às investidas dos que tentam inviabilizá-lo. Insistindo na tese de que é um que vale por dois, não está conseguindo criar expectativas de crescimento, aguardando um erro dos dois primeiros diante de um eleitorado estagnado até aqui. Mesmo com a divisão do MDB, Simone segue em frente com o PSDB, pela primeira vez, sem candidato a presidente. Com Ciro, reúne as condições para levar a eleição para o segundo turno.
O dado mais curioso da campanha é a ausência total de debate sobre a renovação do parlamento, com deputados e senadores apoiando qualquer um dos candidatos nos seus Estados. O Congresso atual criou, entre os parlamentares, a ilusão de poder independente e forte, camisa de força dos futuros presidentes. Não é bem assim, pois o que o fortaleceu foi o monopólio não transparente sobre o orçamento, situação constitucionalmente insustentável.
Até agora, temos somente pura política de políticos. Economia, carestia, investimentos, emprego e inflação entram em campo após o horário eleitoral gratuito. Os verdadeiros solavancos de quando o jogo começar para valer.
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