A péssima imagem atual do Brasil, no mundo, ficou evidente em um episódio recente da série de ficção Succession, da HBO. Enquanto a rica família, dona de um dos maiores conglomerados de mídia dos Estados Unidos, define quem deve ser o próximo presidente do país, um dos nomes discutidos é o de um candidato descrito pela filha do magnata de comunicações como alguém de fora da tradição política estadunidense, que flerta com o fascismo e é “tóxico”. “Não acho que será o Terceiro Reich, mas acho que há uma chance real de virarmos uma porra de uma Rússia berlusconizadatupiniquim”, diz a personagem (como traduzido pela própria HBO).
Além da menção ao Brasil, a ficção norte-americana destaca o desprezo de setores abastados da sociedade pela democracia e sua aproximação com candidatos de tendências autoritárias – quando isso está alinhado com os seus interesses. Na série, a família de magnatas da mídia ignora os alertas do risco de tolerar comportamentos que podem ser ligados ao fascismo, em nome de um candidato simpático às suas causas.
A alusão ao Brasil é uma das formas mais destacadas de como o País aparece em discussões no exterior desde 2018, quando Jair Bolsonaro foi eleito presidente. A percepção é de uma nação que mistura autoritarismo e corrupção com flertes fascistas. Não são raras as situações da ficção e das análises acadêmica e jornalística estrangeiras nas quais o Brasil seja elencado junto a outros países onde a democracia está sendo erodida, e a sociedade civil, enfraquecida.
Desde antes da vitória de Bolsonaro, acendeu-se um alerta no mundo para a ameaça que a eleição representava para a estabilidade nacional. Após a posse do presidente, o radicalismo do novo governo, a propagação de notícias falsas, os ataques à imprensa e às instituições, as insinuações golpistas, o desapego a organizações internacionais e, até mesmo, a política negacionista na pandemia e a destruição crescente da Amazônia ressaltaram o caminho “tóxico” seguido pelo País desde então. O preço é pago na instabilidade interna e numa perda constante de prestígio, que se aproxima passo a passo de ser um pária global.
Este é o retrato do Brasil na virada de um novo ano eleitoral,a ser acompanhado pelo resto do mundo e que vai influenciar fortemente a própria imagem e o seu status. Por um lado, o País tem a chance de valorizar a democracia e rejeitar a escalada autoritária defendida pelo presidente. Por outro, uma possível reeleição de Bolsonaro, em 2022, pode consolidar a opção do rumo de uma nação isolada sob um regime desprezado internacionalmente.
Pelo que indicam as pesquisas de opinião divulgadas recentemente, o País não parece querer dar um segundo mandato a Bolsonaro. O atual governo é mal avaliado pela maioria dos brasileiros, e o presidente aparece como derrotado por qualquer outro candidato em um eventual segundo turno no ano que vem.
As sondagens revelam, entretanto, que o cenário não está totalmente resolvido. E o flerte com o autoritarismo continua vivo no Brasil, assim como na série de TV dos Estados Unidosque revela a imagem negativa do País.
De forma semelhante à apresentada em Succession, no Brasil de dez meses antes da próxima eleição presidencial, Bolsonaro tem rejeição recorde entre a população em geral, mas mantém apelo entre os mais ricos. Uma pesquisa recente do Datafolha mostra que Jair continua tendo apoio de 47% dos empresários brasileiros, por mais que apenas 16% dos mais pobres queiram sua reeleição e 6a cada 10 eleitores digam que não votariam nele em “hipótese alguma”. Para parte da elite, polarização, crise, alertas sobre candidatos tóxicos e riscos à democracia parecem valer menos do que a representação dos seus interesses econômicos e ideológicos.
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