É prematuro avaliar as mudanças efetivas e duradouras que a pandemia trouxe para a sociedade. Grandes transformações sociais esperadas podem não acontecer, ao passo que outras já são realidade, como o comércio eletrônico, o ensino a distância e o teletrabalho.
Ocorreu a expansão de serviços como plataformas de videoconferência, que passaram a ser amplamente usadas em reuniões corporativas, aulas, shows e confraternizações. A receita destas empresas cresceu cerca de 170% no primeiro trimestre deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado.
Assim, a mobilidade urbana tende a melhorar nos grandes centros. Sempre se cogitou a necessidade de aumentar o transporte coletivo para dar conta das inúmeras viagens diárias de trabalho, estudo e compras, mas nunca se tinha pensado em diminuir os deslocamentos.
Algumas empresas já estão entregando seus luxuosos andares de escritórios e se deslocando para espaços menores (ou até compartilhados), uma vez que o teletrabalho será mantido, e as equipes se reunirão presencialmente com pouca frequência.
As consequências benéficas são: manutenção dos postos de trabalho, diminuição dos custos operacionais, redução dos poluentes locais e de emissão de gases de efeito estufa e digitalização de processos – incluindo de órgãos públicos –, como o licenciamento ambiental.
A pandemia também provocou a solidariedade entre pessoas físicas e jurídicas. Somente o Grupo Empresarial Solidário de São Paulo já recebeu mais de R$ 1,8 bilhão (em dinheiro, produtos e serviços) integralmente aplicado em estratégias de contenção da pandemia.
Neste contexto, as empresas estão num processo de transição do capitalismo do lucro focado nos acionistas para aquele com propósito nas “partes interessadas” (stakeholders). É tempo de alinhamento com compromissos ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês).
O Fórum Econômico Mundial, em seu último encontro, anunciou um conjunto de indicadores para planejar, avaliar e comunicar a atuação empresarial baseada em ESG. Fundos de investimento também ranqueiam empresas por esses critérios.
Empresas vêm contratando especialistas em ESG e criando diretorias da área. Em crises anteriores, o departamento ambiental era o primeiro a sofrer cortes – e a pandemia veio mudar esta lógica.
Desta forma, as empresas precisam monitorar emissões de gases de efeito estufa; consumos de água, energia e embalagens; e geração de resíduos sólidos. Devem incorporar práticas que reduzam impactos no ar, no solo e na água. Os negócios precisam ser baseados na economia circular e de baixo carbono – por isso, a participação em sistemas de logística reversa é fundamental.
Também as empresas necessitam garantir diversidade e inclusão, igualdade e paridade salarial; cadeia de fornecimento sem trabalho infantil ou forçado; além de uma gestão sem corrupção e que siga todos os aspectos legais de onde está inserida.
O ano de 2020 foi essencialmente de aprendizado, consolidação de parcerias e reconhecimento da importância de troca de experiências, como as vivenciadas no Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP.
Para 2021, é certo que o planejamento das atividades econômicas seja pautado no desenvolvimento sustentável, considerando os
aspectos ESG.
Contudo, a curtíssimo prazo, urgente é a agenda ambiental brasileira com foco na redução das emissões de gases de efeito estufa: honrar o Acordo de Paris e a preservação da Floresta Amazônica. E concentrar os esforços em questões globais e locais de desenvolvimento sustentável, que se inter-relacionam. É assim que o Brasil e as empresas se planejam
para 2021.
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