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Tecnologia e professor: missões distintas

Erica Butow
é CEO e cofundadora do Ensina Brasil
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Erica Butow
é CEO e cofundadora do Ensina Brasil

Já não é novidade que, para o desenvolvimento de um país nos campos econômico, social ou político, um aspecto é imprescindível: educação de qualidade para todos. Outro consenso é que não existe uma solução única, uma peça que, se encontrada e encaixada, resolveria o quebra-cabeça da educação. Mas uma delas é fundamental quando pensamos em eficácia educacional, por seu grande impacto na aprendizagem: o professor. Você já perguntou para um aluno a matéria preferida dele, ou aquela em que ele consegue desempenhar melhor? Muito provavelmente a resposta não vai trazer só o nome da matéria, mas lá estará, indissociável, o professor: “É Ciências, o professor João é muito legal”. Esse resultado aparece também em pesquisas. Na explicação do desempenho de alunos da rede municipal de São Paulo, o efeito do professor ultrapassa o de fazer parte de uma escola específica, por exemplo.

No entanto, a importância do professor não é vista na prática no Brasil – que, hoje, ocupa a última posição em ranking global de status da profissão. Portanto, se queremos falar de melhoria da educação e, consequentemente, de desenvolvimento do País, precisamos falar sobre a necessidade de atrairmos e formarmos excelentes professores. Afinal, como deveríamos desenvolver os profissionais mais importantes para a formação de todos os nossos outros profissionais? Pode a tecnologia e o ensino a distância substituírem o professor? É possível atrair mais talentos para a profissão?

Em relação à formação, a literatura aponta para caminhos diversos, mas há alguns aspectos mais consolidados, entre os quais destacamos: a ligação com a prática e a realidade desde o início. Assim como é fundamental que para que os nossos alunos aprendam, o ensino seja contextualizado; para que os nossos alunos-professores aprendam, o mesmo fator é verdade. A conexão com a prática, desde a fase inicial da formação do professor, é fundamental para que ele continue exercendo um papel protagonista com a inserção, cada vez mais comum, da tecnologia na sala de aula –  afinal, ser um mediador da aprendizagem é um papel que não se aprende apenas com teoria. Só assim conseguiremos não criar embates entre o presencial e o tecnológico, mas vê-los como complementares. Nenhuma tecnologia substitui o professor, simplesmente porque a tecnologia e o professor têm funções distintas na sala de aula e no processo de aprendizagem.

Por fim, uma boa formação também é um elemento chave para garantir, junto a outras políticas de valorização, maior atratividade da carreira docente – atualmente, aproximadamente 2% dos alunos de 15 anos afirmam quererem ser professor (enquanto 20% querem ser engenheiros). No Ensina Brasil, temos um programa de desenvolvimento de lideranças que mediante um rigoroso processo, seleciona e desenvolve jovens talentos para se tornarem professores (por pelo menos dois anos) e futuras lideranças para a educação. Com uma proposta que combina propósito e formação, ano passado atraímos 18 mil candidatos para apenas 150 vagas, uma relação candidato/vaga maior do que Medicina na Universidade de São Paulo (USP). Com aspectos práticos de valorização, a profissão do professor tem um enorme potencial de responder aos grandes anseios de carreira dos jovens: desenvolvimento e vislumbrar uma missão maior no que faz.

Não existe quebra-cabeça de uma peça só, e com o da educação não é diferente. Atrair e formar professores excelentes, por si só, não é suficiente, mas, sem isso, nem começamos a abrir a “caixa” para assegurar que todos tenham uma educação de qualidade.

Conteúdo publicado na edição 457 da revista PB. Clique aqui.

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