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Daniel Buarque
é pesquisador de Relações Internacionais no King’s College London (KCL), jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor de Brazil, um país do presente.
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Daniel Buarque
é pesquisador de Relações Internacionais no King’s College London (KCL), jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor de Brazil, um país do presente.

Entender o lugar do Brasil no mundo é um desafio complicado para acadêmicos e analistas de relações internacionais, mas é fundamental para a construção de uma diplomacia forte para o País. Ao longo das últimas décadas, estudos com diferentes abordagens criaram uma imagem ambivalente do status nacional, e não se alcançou consenso sobre quem é o Brasil nas relações com outras nações.

O Brasil é um país que, historicamente, tenta se colocar como um ator global de destaque, buscando ter força política e voz relevante nas discussões diplomáticas mundiais. Mas indicar a localização precisa do Brasil na estratificação internacional tem se mostrado problemático. Sem consenso, a maioria das pesquisas acadêmicas desenvolvidas nas últimas décadas se concentrou principalmente em tentar descobrir se o Brasil é uma potência média, grande ou algo diferente.

Diferentes perspectivas teóricas e metodologias podem ser utilizadas para avaliar a situação do Brasil e sua posição na sociedade global, e não há uma única definição que possa apontar especificamente para a situação do País. Um motivo para isso são os acadêmicos que dizem que o Brasil não se enquadra nos rótulos tradicionais usados para identificar categorias de nações em relações internacionais.

Um estudo recente buscou entender as definições sobre o Brasil na academia. O País foi chamado de líder de uma hegemonia regional, potência emergente, potência global emergente, potência intermediária, potência secundária, potência global para o desenvolvimento, líder regional para o desenvolvimento e líder regional sólido.

Ao avaliar as publicações de relações internacionais que falam sobre o Brasil, entretanto, é possível ir além dessas descrições e listar dezenas de títulos diferentes que buscam resumir a identidade internacional do País.

Algumas das descrições ambivalentes e contrastantes a respeito do Brasil comuns nos estudos são: potência ascendente, potência global emergente, potência média, potência empreendedora, ator global, gerente de assuntos globais, potência mundial de pleno direito, influente regional, nação formadora, potência suave emergente, potência aspiracional, gigante econômico, anão diplomático, potência industrial e agrícola, e líder sem seguidores.

O Brasil também já foi chamado de intruso nos assuntos mundiais, nação que não está à altura do status e do poder, um peso militar leve em escala global, um país do futuro e uma nação que tem uma imagem muito boa no resto do mundo, mas que não é percebida como séria. Outras definições descrevem o Brasil como um jogador significativo nas questões mundiais, embora sem moldar o ambiente global e com contribuição limitada para a governança global, ou um país em desenvolvimento na periferia, mas não um jogador indispensável no cenário mundial.

Entender essas definições, a forma como o Brasil é visto no exterior e o seu status global é fundamental para as nossas relações exteriores. É a partir da compreensão da identidade internacional do País que poderemos construir um papel relevante nas relações com outras nações. Tradicionalmente, seria normal esperar que caiba primeiramente ao próprio país definir quem quer ser no mundo. No caso do Brasil, entretanto, há aspirações históricas de ser uma grande potência global, o que não parece ter reconhecimento externo. 

Se a busca por voz e prestígio remonta à própria formação do País, estudos mostram que o Brasil historicamente ficou aquém de assumir um papel relevante perante o mundo. Mesmo que, em vários momentos da história, possa ter parecido que a grandeza estava ao alcance do Brasil, limitações sistemáticas e erros próprios nos impediram de alcançar tal reconhecimento. É fundamental entender esse limite de atuação para tentar desenvolver uma postura diplomática que seja proporcional ao status que o resto do mundo reconhece no País.

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