O Brasil registrou, em 2020, uma queda recorde de 9,7% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre – mas isso não chegou a surpreender ninguém dentro ou fora do País. A dificuldade brasileira em sair de uma longa e profunda crise, que parece se estender desde 2015, afeta a população e preocupa quanto ao futuro, porém, não destoa do que o mundo espera do Brasil e pensa sobre a sua economia.
Para além do impacto global da pandemia do coronavírus, que afeta a saúde pública e as finanças de todo o planeta, o recuo da economia brasileira é parte do turbilhão vivido pelo País ao longo de sua história. Crises e instabilidades das finanças nacionais, idas e vindas e avanços curtos seguidos de retrocessos são símbolos nacionais e da sua percepção pelo resto do mundo.
Essa instabilidade é uma das primeiras referências quando se descreve o Brasil com olhar externo e foco na economia. O relatório mais recente do Best Countries, divulgado em agosto – um estudo sobre as percepções a respeito do País no resto do mundo –, aponta o problema indicando que a história nacional é cheia de “tumulto econômico, passando do crescimento à crise”.
A falta de surpresa com a queda recorde do PIB em 2020 ficou evidente na tímida cobertura da mídia estrangeira. Poucos veículos da imprensa internacional dedicaram espaço para falar do encolhimento da economia brasileira. Apesar de ter sido o pior índice, esta é a nona recessão a atingir a Nação em 40 anos, como indicou o Financial Times, reforçando a ideia de que a crise não chega a ser novidade.
O grande contraste dessa situação é que o Brasil do caos econômico é o mesmo país das oportunidades e das potencialidades: grandes riquezas naturais, população ativa e capacidade de mobilização. Tudo isso chama a atenção do resto do mundo, que vê o tamanho potencial do País para se tornar uma potência econômica. Mas os problemas internos impedem.
Se o Brasil atrai a atenção global com sua cultura e suas paisagens, ele a afasta com problemas de pobreza e desigualdade. Se a população atrai investidores, a corrupção, a burocracia e as dificuldades em fazer negócios assustam e quase bloqueiam negociações.
Esses aspectos são indicados nos estudos sobre percepção internacional do Brasil. No índice Best Countries, por exemplo, o País ainda é o mais bem avaliado na categoria Aventura, indicando a vocação para o turismo. Mas é apenas o 59º na categoria Abertura para Negócios e o 34º em Empreendedorismo. Somos muito mal avaliados em razão dos altos níveis de corrupção, do ambiente fiscal pouco favorável e do excesso de burocracias.
O dado negativo sobre passado e presente influencia no clima de desânimo – que também marca a perspectiva do futuro da economia nacional. O contínuo impacto da pandemia reduziu o ímpeto liberalizante do governo e levantou dúvidas sobre uma política econômica que possa atrair investimentos e garantir segurança fiscal para o equilíbrio.
Na mesma semana da divulgação do recuo do PIB, a revista The Economist praticamente ignorou o dado sobre a economia brasileira. Preferiu falar sobre as desavenças crescentes entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes. Segundo a revista, o experimento do Brasil com o liberalismo econômico parece ter durado pouco. E isso pode reforçar ainda mais essa impressão de instabilidade constante.
Como explicou Simon Anholt, especialista em nation branding, que avalia a imagem internacional de vários países do mundo, o Brasil sempre foi visto como um país pobre, então, não há choque ou surpresa em ver a longa crise atual. Novidade impressionante foi ver o País crescendo e melhorando a situação no começo do século 21. A crise é a volta do Brasil ao “normal”, marcado por uma economia caótica, fechada, cheia de barreiras e em constante turbilhão. A imagem é um reflexo da realidade; então, o caminho para mudar essa percepção é derrubar as barreiras e fazer a economia brasileira funcionar de verdade.
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