As eleições presidenciais de outubro já se consolidam como principal destaque sobre o Brasil no olhar do mundo neste início de 2022. Desde 1º de janeiro, alguns dos principais veículos de imprensa estrangeiros têm se debruçado sobre o ano político que começa no País. E a perspectiva de tensão e turbulências ganha atenção especial.
A percepção crescente no exterior é de que o presidente Jair Bolsonaro será derrotado. Além disso, a esquerda tem grandes chances de voltar ao poder com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Contudo, a transição pode ser caótica, com tentativas de subverter a democracia brasileira. A imagem externa é de uma disputa em uma campanha dura, e os resultados terão efeitos além das fronteiras brasileiras.
O pleito deste ano no Brasil aparece em muitas reportagens estrangeiras dentro de um contexto político global mais amplo. Para publicações como o New York Times (NYT) e o jornal de economia Financial Times, o mundo começa a ver que a onda de ascensão de políticos populistas autocratas de extrema-direita está se enfraquecendo. A derrota de Donald Trump, nos Estados Unidos, representou um primeiro passo desta mudança. Agora, alguns dos líderes que se assemelhavam a ele correm risco de serem retirados do poder. É o caso de Bolsonaro, segundo esses jornais.
O Brasil se prepara para “um duelo eleitoral de alta voltagem”, diz o título de uma reportagem do veículo espanhol El País, indicando o provável confronto entre Bolsonaro e Lula na eleição.
Assim como a publicação espanhola, a revista Americas Quarterly, editada em Nova York, vê a disputa entre os dois como quase inevitável. A publicação incluiu Ciro Gomes e Sergio Moro em uma lista com candidatos que estão no páreo, mas diz que o atual governante e o ex-presidente têm deixado pouca margem para que um terceiro candidato tenha chance real. O foco, portanto, é no confronto entre Lula e Bolsonaro.
Segundo o Financial Times, o “Trump dos trópicos”, como se refere ao presidente brasileiro, “deve enfrentar uma derrota eleitoral na eleição presidencial”. Outros veículos, como o Le Monde, também ressalta a baixa popularidade do governante em pesquisas de intenção de voto – e indica o enfraquecimento político dele.
Publicações norte-americanas adotam um outro enfoque para o mesmo fenômeno. Segundo o NYT, é possível perceber um fortalecimento da esquerda em eleições, especialmente na América Latina. A vitória de Gabriel Boric, no Chile, é um exemplo disso, e Brasil e Colômbia têm grandes chances de também virar à esquerda neste ano, diz.
De forma semelhante, o New York Review of Books afirma que o Brasil se vira para a esquerda com uma provável volta de Lula ao poder: “Os anos de desgoverno de Bolsonaro deixaram um anseio por estabilidade. Mesmo as elites conservadoras estão se ajustando à ideia do líder do PT como presidente novamente”.
Apesar do estabelecimento crescente de uma ideia de volta da esquerda ao poder, a mudança indica um possível estresse para a política nacional. Assim como o aparente consenso sobre a provável derrota de Bolsonaro, é evidente a percepção de que a democracia do País vai passar por uma prova de fogo. O alerta é para uma possível tentativa do presidente de pôr em xeque um resultado negativo nas urnas.
“As instituições brasileiras precisam estar em alerta para evitar ataques à democracia”, segundo a ONG internacional Human Rights Watch. O Financial Times também atenta para a segurança das eleições e a estabilidade democrática, bem como diz ser preocupante que “Bolsonaro já esteja preparando o terreno para contestar uma derrota eleitoral, alegando fraude”. Portanto, a imagem externa do Brasil é de grande volatilidade. Por isso, os olhos do mundo estarão atentos ao que acontece no País, torcendo por um processo limpo e dentro da lei. Qualquer quebra das regras pode acarretar uma perda ainda maior do prestígio nacional.
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