O termo peteca é de origem tupi e significa “tapear”, “golpear com as mãos”. O brinquedo surgiu por meio de sobras nas tribos, como a palha do milho, dobradinha com esmero e técnica, virando a base; as penas das aves, amarradas em cima, têm a função não só de adorno, como também de prover equilíbrio.
“O milho e as galinhas são os protagonistas dessa família de objetos que povoam as brincadeiras dos brasileiros há tantas gerações”, resume a educadora Renata Meirelles, em seu livro ‘Giramundo e outros brinquedos e brincadeiras dos meninos do Brasil’. “Aqueles que ainda hoje aguardam o tempo das colheitas para alimentar suas brincadeiras trançam as palhas de milho em diferentes amarras e laços, exibindo as formas de cada canto do país”.
Na definição do historiador e sociólogo Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), em seu clássico ‘Dicionário do Folclore Brasileiro’, revela que o “brinquedo ou jogo de rapazes, atirando ao ar uma bola de trapos, revestida de palha de milho ou pano, convenientemente disposta a ser impulsionada com a palma da mão, a fim de não a deixarem cair”.
Em um longo histórico publicado pela Confederação Brasileira de Peteca (CBP), há registros mais antigos do brinquedo que datam do século 16, de acordo com relatos dos colonizadores portugueses — ou seja, tudo indica que a prática já fosse disseminada entre os povos originários muitos séculos antes.
A brincadeira com esse objeto se transformou em esporte quase sem querer. Incorporado à rotina dos meninos e meninas brasileiros de todas as origens, logo foi adotado como instrumento para aquecimento e recreação de esportistas.
E foi assim que ganhou o mundo. Em 1920, atletas brasileiros levaram petecas para os Jogos Olímpicos, realizados na Antuérpia, na Bélgica. Esportistas de outros países viram aquilo com curiosidade — há relatos de que os finlandeses fizeram muitas perguntas a respeito para integrantes da delegação canarinho.
Nos anos 1930, um professor de educação física alemão, Karlhans Krohn (1908-2003) estava passeando pelo Rio de Janeiro e viu adolescentes brincando com a peteca na praia. Ficou interessado. Aprendeu como jogar e levou a ideia para a Alemanha — ele é considerado o introdutor da peteca em seu país, onde parece que encontrou solo fértil.
Transformada em esporte, com regras bem próximas ao do voleibol, a peteca tem três federações para gerir as competições na Alemanha — em maio de 2000, foi fundada em Berlim a International Indiaca Association, a associação internacional da peteca. Mundialmente, o objeto ganhou o nome de “indiaca” — da junção de indian e peteca.
Há federações de peteca em outros países, como Japão, França, Estônia, Eslováquia, Suíça, Luxemburgo e, claro, o Brasil. A primeira copa do mundo da modalidade ocorreu em 2001, na Estônia — os times alemães ganharam o ouro no masculino, no feminino e no misto. O Brasil nunca ganhou nenhum título nas seis edições já ocorridas do evento.
Cabe delimitar aqui que peteca — ou indiaca — é uma coisa, badminton é outra. Este é considerado esporte há mais tempo, usa raquetes, além da peteca e originou-se na Ásia — teria sido introduzido na Europa a partir da Índia, então colônia britânica.
No Brasil, a peteca é mais do que um brinquedo, mais do que um esporte. É um objeto ligado à cultura nacional, ao folclore, ao passado dos povos originários e até mesmo à linguagem.
“A introdução da peteca, inicialmente em pequenas comunidades e povoados, fez crescer o interesse pela prática da brincadeira desde a confecção do objeto até a sua forma de jogo”, afirma o educador físico Renato Machado dos Santos, em artigo publicado pela CBP. “A peteca deixou de ser um mero objeto para se tornar um brinquedo popularmente apreciado, fonte de cultura, memória e identidade daqueles que brincavam”.
“A curiosidade do objeto, a experimentação da prática e as emoções geradas pelas situações lúdicas a tornaram muito apreciada em ruas, praças e parques pelo Brasil”, prossegue ele. “A brincadeira, ainda hoje, tem como objetivo principal não deixar a peteca cair ou rebatê-la o mais alto possível”.
Foi com essa ideia que surgiu a expressão “não deixe a peteca cair”.