É uma peça de design reconhecida internacionalmente — em 2009, foi exibida no prestigiado MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York. Tem tradição: foi inventado há exatos 75 anos, no bairro de Vila Maria, Zona Norte de São Paulo. Por outro lado, é muito acessível: custa menos de R$ 5. E, mesmo com tanta fama e prestígio, está presente em praticamente todas as casas brasileiras — além de botecos e, claro, padarias.
Estamos falando do copo americano, uma invenção brasileira que já foi vendida mais de seis bilhões de vezes! “E por que tem esse nome? Porque as primeiras máquinas utilizadas em sua produção vieram dos Estados Unidos”, explica o jornalista Marcelo Duarte, conhecido garimpeiro de curiosidades, autor da série de livros O Guia dos Curiosos. Pois é, o copo mesmo não é criação dos americanos… “E, hoje, o maquinário que faz o copo americano é todo nacional”, completa o jornalista.
O objeto foi criado pelo empresário Nadir Dias de Figueiredo (1891-1983). Com seus irmãos como sócio, ele fundou, há 110 anos, uma empresa que, mais tarde, daria origem à Nadir Figueiredo Indústria e Comércio S/A. Mas, no começo, vidros não estavam no seu catálogo.
“Ele começou no ramo de conserto de máquinas de escrever, máquinas registradoras e máquinas de somar”, pontua Duarte. Logo depois, Figueiredo entrou para outro setor: o de luminárias e artigos elétricos.
Nos anos 1930, veio a guinada: o empresário comprou uma fábrica de vidros e passou a investir nessa produção. Em 1947, a Nadir Figueiredo modernizou seu parque industrial, com a vinda de maquinários dos Estados Unidos. Com os novos equipamentos, não era mais preciso soprar para criar os vidros.
O processo deixou de ser manual para se tornar automatizado .Para a época, era incrível: a tecnologia “dos americanos” possibilitava a produção de mil copos a cada oito horas — hoje, são 440 copos por minuto!
Professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, o desenhista industrial Marcelo Oliveira acrescenta que, além do maquinário, a inspiração também veio dos Estados Unidos. “Seu desenho lembra os copos americanos dos diners, aquelas lanchonetes típicas. E das cafeterias americanas. Remete àqueles copos clássicos de milk-shake”, comenta ele.
Oliveira reconhece, contudo, que a inovação de Figueiredo foi fazer o relevo “para fora”, e não para baixo. “Assim, ao contrário, ele espessa o copo e deixa mais resistente, por conta da forma. Tantas vezes ele cai, e dificilmente se quebra”, analisa. “Ele não tem nada de canto vivo, a própria borda é muito arredondada, e essas laterais gomadas deixam-no muito resistente.”
Com o passar do tempo, a Nadir Figueiredo passou a fabricá-lo também em outros tamanhos. Além do tradicional (190 ml), existem copos americanos para dose (45 ml) e para drinques (300 ml), além de versões em outras dimensões e formatos levemente adaptados.
Especialista em Marketing e curador do BoomSPDesign: Fórum Internacional de Arquitetura, Design e Arte, Beto Cocenza entende que o copo americano está vivendo um revival por parte dos mais jovens. “É comum hoje você ir à casa da moçada e ter copo americano. Voltou, ficou fashion, ficou cool”, define. Há cinco anos, durante as comemorações de 70 anos da criação do copo, a empresa decidiu inovar e lançou uma coleção dos itens coloridos — amarelo, azul, verde e rosa.
O copo americano virou um ícone brasileiro. Está na representação imagética do café com pão na chapa da padaria da esquina, está na ideia de cerveja no boteco, é a unidade de medida (190 ml) presente nas receitas — se está escrito “um copo de farinha”, sim, este copo é o americano.
“Um grande sucesso do design nacional”, define Oliveira.