Ranking mostra a necessidade de fomento à área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) local e ao empreendedorismo, além de pedidos de patentes para gerar uma economia resiliente com oportunidades de desenvolvimento de ponta.
Para o dicionário, competitividade nada mais é do que a característica de algo ou alguém que é competitivo. Já para economistas e acadêmicos que estudam a dinâmica da organização econômica, contudo, a palavra pode representar as razões pelas quais uma região é mais desenvolvida e, por isso, oferece melhores condições de vida à população do que outra.
No Brasil, esse cenário não é muito animador: o único Estado que aparece entre os destaques de um índice que mede a competitividade de cidades da América Latina é São Paulo. Ao lado de Cidade do México, Lima, Bogotá e Arequipa, apresenta um dos melhores desempenhos da região. É o que aponta um estudo realizado pelo órgão The Global Trade and Innovation Policy Alliance (GTIPA), uma rede global de grupos de reflexão independentes que apoiam mais liberalização e integração do comércio global, com o intuito de prover informações para que os decisores políticos reforcem a competitividade global das suas nações e regiões. “São Paulo consegue se destacar em relação aos demais Estados brasileiros por contar com uma combinação única no País de ambiente de negócios, qualificação de mão de obra, instituições de pesquisa, infraestrutura e eficiência. Muito decorre da sua história econômica oriunda dos tempos do café e da imigração, mas um tanto se deve também aos avanços das últimas décadas”, afirma Vladimir Fernandes Maciel, coordenador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica (CMLE) e um dos autores do estudo.
O relatório compara as 182 regiões estaduais ou provinciais de Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru e Estados Unidos usando 13 indicadores de força disponíveis na economia do conhecimento, na globalização e na capacidade de inovação. Esses 13 índices que representam os determinantes para o sucesso de um ecossistema de inovação são agrupados em três categorias:
– Força de Trabalho Baseada no Conhecimento: medem nível de escolaridade dos trabalhadores, imigração de trabalhadores do conhecimento, emprego em áreas profissionais, técnicas e atividades científicas (PTS) e produtividade do setor manufatureiro;
– Globalização: medem as exportações de alta tecnologia;
– Capacidade de Inovação: medem a porcentagem de agregados familiares de uma região que subscrevem internet de banda larga, gastos com P&D, número de pessoal de P&D, criação de novos negócios, produção de patentes, extensão do progresso em direção à descarbonização e capital de risco e investimento.
De acordo com especialistas procurados pela Problemas Brasileiros, há muitas razões pelas quais São Paulo seja o único Estado brasileiro que aparece entre os destaques da competitividade. Segundo Sillas Cezar, professor do curso de Economia na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), historicamente, os setores paulistas dos Serviços e da Indústria se sobressaíram. “Desde o período colonial, São Paulo se destacou na prestação de serviços, sobretudo associado ao comércio. Mas devemos acrescentar que, do fim dos anos 1930 até pelo menos o fim da década de 1980, a indústria da região expandiu e consolidou um mercado interno incomum ao resto do País. Essa indústria foi também uma das propulsoras de melhores taxas de especialização técnica da mão de obra”, explica.
Alexandre Lucas Pires, professor de Economia no Ibmec São Paulo, concorda com a importância da complexidade industrial paulista na formação do ranking. De acordo com o especialista, a industrialização foi um fator importante ao longo do século para criar novos setores, potencializar um sistema financeiro e criar uma infraestrutura de ponta. “Esses elementos fazem com que São Paulo acabe se evidenciando em comparação ao restante da Nação, mesmo em relação ao Rio de Janeiro, que, por muito tempo, gozou de uma situação semelhante, sendo capital nacional e tendo uma forte conexão com o mundo. Hoje, vemos que São Paulo ainda mantém um ritmo acelerado, continua atrativo para as pessoas, para os trabalhadores, para os investidores, enquanto outras regiões perdem atratividade e algumas outras novas começam a ganhar”, ressalta.
Segundo o estudo, três pontos específicos fazem com que regiões latino-americanas fiquem atrás dos Estados Unidos: adoção de internet banda larga, capital de risco e pedidos de patentes. Além disso, embora as regiões da América Latina fiquem atrás dos estadunidenses nas pontuações gerais, há uma menor variação nos placares regionais dentro da própria América Latina. “A principal diferença reside no fato de os Estados norte-americanos disporem de capital humano e infraestrutura, em geral, muito superior a Estados/províncias/departamentos da América Latina. É a razão principal do menor desenvolvimento: historicamente, houve menor investimento nas pessoas e menor estoque de capital acumulado”, diz Maciel, do CMLE.
No entanto, apesar das diferenças, há um caminho para que as demais regiões do Brasil possam evoluir na competitividade em relação a outros países. “Governo, sociedade civil e sociedade em geral deveriam entender que sem ciência e tecnologia não se expande produtividade — e, sem isso, passaremos a eternidade buscando competitividade via preço, dependendo infinitamente do contexto cambial para conseguir vender, no máximo, commodities. Portanto, em termos ideais, deveríamos esperar algum tipo de ação estruturada na melhoria do nosso marco tecnológico, e isso requer uma atenção inédita a tudo aquilo que possa gerar inovação”, sinaliza Sillas Cezar, da Faap.