Aumentar a confiança do investidor e fidelizar os clientes são as mais propagadas vantagens do investimento em ESG (sigla em inglês para Governança ambiental, Social e Corporativa), o que induz a pensar que se trata de uma estratégia de marketing. É aí, contudo, que muitos podem se enganar.
A melhora do desempenho financeiro por meio de boas práticas é, na verdade, o principal recorte da agenda. Sob o olhar econômico, os caminhos da prosperidade apontam para modelos de negócios integrados à lógica da sustentabilidade. Evidências mostram que, aplicando as práticas ESG, as empresas conseguem mitigar perdas e obter mais eficiência no uso de recursos, oportunidades de geração de valor e colaboradores mais motivados.
Uma pesquisa da McKinsey atestou que a execução eficaz do modelo pode ajudar a combater o aumento das despesas, afetando os lucros operacionais em até 60%. O mesmo estudo encontrou uma correlação significativa entre a eficiência de recursos e o desempenho financeiro, além de ter identificado que as empresas que levaram suas estratégias de sustentabilidade com mais afinco tiveram os melhores resultados.
Segundo Guilherme Teixeira, gerente de Finanças Sustentáveis da SITAWI, organização especializada no desenvolvimento de soluções financeiras para impacto socioambiental positivo, existem duas formas de saber se o investimento sustentável trará bons índices financeiros. No e-book “O financeiro pela lente ESG”, ensina que a primeira olha para os riscos possíveis de serem mitigados a partir de boas práticas; a segunda observa oportunidades de geração de valor. “Processos produtivos que geram impactos à comunidade ou poluentes podem ser traduzidos, em algum momento, em multa, e isso tem um custo. Outro exemplo são as reclamações das comunidades: estas podem ir para a porta da fábrica e paralisar a operação.”
“Uma fábrica mal desenhada do ponto de vista ambiental de consumo de recursos – com investimento pouco eficiente no uso de energia de água e de matéria-prima – está gerando mais custo”, acrescenta Teixeira. Com boa eficiência, fábricas ergonômicas, processos produtivos que respeitam a saúde e a segurança do trabalhador e da comunidade, o negócio terá linhas de despesas operacionais menores.
As companhias à frente de seu tempo já estão levando em conta o investimento ESG, pois perceberam que, se é bom para as pessoas e para o planeta, compensa os desafios de curto prazo, em função do crescimento a longo prazo em metas e receita.
A seguir, elencamos cinco razões pelas quais a conduta ESG é um investimento que pode fazer bem aos negócios:
1) A gestão dos riscos ESG, como as emissões de carbono dos centros de dados e as questões de privacidade e segurança dos clientes – bem como a promoção da diversidade de funcionários para permitir a inovação –, pode não só maximizar as receitas como criar um incentivo, a fim de que os investidores considerem a empresa.
2) Mostra que a empresa está com a atenção voltada para os fatores corretos, segue uma diretriz de gestão adequada e está concentrada nas perspectivas de longo prazo. Este tipo de foco em gestão inteligente é o que atrai mais interesse dos investidores e, com isso, melhores retornos.
3) Analistas do Bank of America Merrill Lynch calculam que os ativos dos fundos ESG terão um crescimento de US$ 20 trilhões nos próximos 20 anos. Além disso, uma pesquisa realizada pela KPMG, em 2017, mostrou que 75% das 100 maiores empresas do mundo estão implementando métodos sustentáveis – um aumento considerável em comparação aos 12% registrados em 1993.
4) Nos últimos anos, cada vez mais políticas de proteção ambiental vêm pressionando o mercado a adaptar seus procedimentos à garantia dos direitos humanos. Além disso, principalmente, devido às mudanças climáticas causadas ao meio ambiente por agentes externos, as novas gerações demonstram forte preocupação com os impactos sociais e o futuro do planeta. Ou seja, o seu próprio futuro. As empresas que não se anteciparem neste processo ficarão para trás, considerando a transferência de riqueza entre as gerações.
5) Cases ilustrativos e atualmente em destaque:
– A Raízen, responsável pelo maior IPO do ano e principal produtora de etanol do Brasil, se apresentou ao mercado com uma tese baseada no ESG. Dos R$ 6,9 bilhões movimentados em sua oferta inicial de ações, 80% serão dedicados à expansão dos produtos renováveis, em especial o E2G, etanol de segunda geração feito a partir do bagaço e da palha da cana-de-açúcar. Segundo a companhia, a grande vantagem [do E2G] é que possibilita a produção de 50% a mais de etanol total com a mesma área plantada. A Raízen elaborou um plano ESG com cerca de 1.200 ações, sintetizadas em oito compromissos públicos para, até 2030, fazer reduções severas na pegada de carbono causada pela fabricação do etanol e do açúcar e reduzir em 10% a captação total de água.
– Já existem mecanismos que são desenhados para deixar bem claro que, se uma companhia bate uma meta ESG de performance sustentável, terá um desconto na taxa de juros de algum empréstimo que tomou, ou mesmo de algum título de dívida (bonds). A Suzano, empresa brasileira de papel e celulose, captou, no final de 2020, mais de US$ 500 milhões com a emissão de um ESG linked bond (quando a operação é vinculada à melhora do desempenho ESG da organização e determina o destino dos recursos captados pela empresa), resultando na menor taxa de juros da sua história. A meta escolhida foi a de redução de 15% da intensidade das emissões de CO2 até 2030. Com o desconto, a empresa vai pagar juros de 3,1% ao ano, contra 3,95% na emissão original.