Cinco benefícios do mercado de carbono

26 de maio de 2022

Visto como alternativa para diminuir a emissão de gases de efeito estufa e movimentar a economia global, o mercado de carbono tem gerado discussões sobre a sua eficácia quanto à preservação climática. O sistema permite que aqueles que superaram as metas de redução de emissão de gases gerem os créditos de carbono e possam vender estes excedentes.

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No Brasil, o Projeto de lei (PL) 528/2021, de autoria do deputado Marcelo Ramos (PSD/AM), que pretende regulamentar omercado, tramita em regime de urgência e aguarda ser levado ao plenário da Câmara dos Deputados. “Sem uma lei que limite a quantidade das emissões, não há créditos a negociar, exceto no caso de atividades voluntárias que ocorrem em alguns casos entre empresas privadas”, explica José Goldemberg, presidente do Conselho de Sustentabilidade da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).

A integração de regras de precificação de carbono na economia é um passo essencial na evolução da “maturidade climática” do País, avalia Natália Renteria, headofpolicy da Mombak, startup de restauração de florestas. Natália foi gerente técnica de Clima e Finanças Climática do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), instituição que trabalhou na elaboração dos textos do PL e atua na defesa da implementação do mercado de carbono no Brasil, voluntário ou regulado.

“O mercado é importante porque precifica o custo do carbono ao mesmo tempo que incentiva um novo perfil econômico, baseado nas atividades que emitem menos gases de efeito estufa.” Ela destaca que a criação de um mecanismo eficiente de comercialização de créditos de carbono vai contribuir para a redução das emissões de gases poluentes, além de manter a competitividade do setor empresarial brasileiro.

Para o gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Davi Bomtempo, o desafio do País está no planejamento de como este mercado será organizado: quais serão os setores regulados e suas regras, além da estrutura de governança adequada para que seja viável e atrativo a investimentos.

“Sem uma lei que limite a quantidade das emissões, não há créditos a negociar, exceto no caso de atividades voluntárias que ocorrem em alguns casos entre empresas privadas.” José Goldemberg, presidente do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP

A versão atual do PL propõe a criação de um sistema cap and trade, no qual é definida uma quantidade máxima de emissões de gases de efeito estufa aos agentes regulados e são emitidas permissões de emissão equivalentes. Trata-se do sistema mais usado internacionalmente, por meio do qual são fixadas metas globais e setoriais e as empresas podem comercializar créditos.

Listamos, a seguir, cinco vantagens da regulamentação do mercado de carbono no Brasil.

1. Adoção de boas práticas ambientais

“Se implementada corretamente, a precificação de carbono fornecerá um sinal de preço, um incentivo para que governos, empresas e consumidores realizem mudanças em investimentos e práticas operacionais”, diz Bomtempo, da CNI.

Isso acontece porque o estabelecimento dos limites de emissão de carbono para regular o mercado de compra e venda de créditos leva a uma reação em cadeia. “O mercado regulado gera um efeito em cascata, porque ativa a economia de diferentes maneiras”, diz Natália Renteria, da Mombak.

Um exemplo simples é quando se pensa na frota de veículos de uma empresa. Para reduzir a pegada de carbono, a companhia pode ter de trocar a frota por automóveis mais modernos de baixa emissão. Isso gera um incentivo na indústria automobilística por inovações tecnológicas. “O mercado de carbono irá estimular as empresas a investirem em tecnologias de baixo carbono, tanto no que tange ao incremento do uso de renováveis quanto a novas fontes energéticas, como o hidrogênio. A economia circular, com redução, reciclagem e reaproveitamento de materiais, será essencial também no processo. Empresas mais sustentáveis poderão gerar créditos para venderem neste mercado”, explica Bomtempo.

A Associação Internacional de Comércio de Emissões (IETA, na sigla em inglês), defende que o comércio de emissões no sistema cap andtrade leva à redução das emissões de gases de efeito estufa ao menor custo. Isso, porque, caso o limite de emissões não seja cumprido, multas podem ser aplicadas. Permitir a negociação dentro deste limite é a maneira mais eficaz de minimizar o custo – o que é bom para os negócios e para as famílias, diz a organização.

2. Potencial de exportação

Do ponto de vista financeiro, o mercado global é visto como uma área de grande potencial para o Brasil, podendo gerar receitas líquidas de até US$ 72 bilhões até 2030, de acordo com estimativa do Environmental Defense Fund, e de até US$ 100 bilhões, de acordo com a International Chamber ofCommerce do Brasil (ICC). Na opinião de Nabil Kadri, chefe do Departamento de Meio Ambiente e Gestão do Fundo Amazônia do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), além do impacto econômico, a sua organização pode trazer mais previsibilidade e segurança aos investidores em projetos de mitigação de emissões de gases do efeito estufa. “Abrem-se possibilidades de geração de receita adicional para os produtores, podendo viabilizar projetos que, sem essa receita, não seriam viáveis”, diz Kadri.

“Os mercados de carbono são uma ferramenta econômica que devem fazer parte de um conjunto de outras ações para alcançar as metas de redução de emissões.” Natália Renteria, ex-gerente técnica de Clima e Finanças Climática do CEBDS e atual headofpolicyda Mombak

3. Empreendimentos sustentáveis e economia verde

“O mercado de carbono é uma das ferramentas possíveis para o cumprimento de políticas de ambição climática, de combate ao aquecimento global. É um mecanismo importante porque precifica o custo do carbono na economia, ao mesmo tempo que promove investimentos e incentiva um novo perfil econômico, baseado nas atividades que emitem menos gases de efeito estufa”, explica Natália.

A regulamentação da atividade vai estimular empresas a produzirem créditos de carbono para serem vendidos às que não cumprem as metas de redução de emissões. Com isso, mais empreendimentos sustentáveis devem ser implementados.

Na opinião de Natália, sem o gatilho gerado pela regulamentação, o cenário não muda. “O mercado regulado tem capacidade de gerar esta ação para a economia funcionar de maneira diferente”, destaca.

Além disso, a possibilidade de áreas envolvidas em projetos de restauração florestal fazerem parte deste mercado é outro ponto de destaque. “Projetos de restauração de florestas nativas trazem créditos com uma ótima adicionalidade, ou seja, são oriundos de uma atividade que poderia não ocorrer sem o incentivo gerado pela implantação dos projetos de carbono”, afirma Natália. Esses projetos que restauram áreas que não estavam atuando no equilíbrio climático ainda têm o mérito de acumular benefícios, já que, além de recuperar a área florestal que estava perdida, reativam a economia da região onde são implantados.

4. Capacitação em tecnologias verdes

São muitas as possíveis áreas de atuação profissional que podem ser ampliadas com o estabelecimento do mercado. De profissionais que atuarão na indústria aos que trabalharão no campo buscando a produção de créditos de carbono, as possibilidades são grandes. Na avaliação de Natália, os profissionais que operarem no setor de manutenção e restauração das florestas são os que mais podem ganhar. “A demanda por profissionais como agrônomos e engenheiros florestais vai aumentar”, diz. Além disso, na outra ponta também haverá espaço para profissionais habilitados a atuar no comércio de carbono, o que pode dar espaço a um novo perfil de profissional do mercado financeiro.

5. Mais visibilidade no mercado

“O Brasil perde muito se não adotar a regulamentação do mercado”, afirma Natália. Para ela, a implantação de um mercado regulado do tipo cap and trade, em que as empresas recebem um limite de emissões e podem comercializar dentro deste ambiente regulado as sobras e as faltas de permissões de emissões combinadas, garante a competitividade internacional da nossa indústria, já que a maioria dos parceiros comerciais internacionais do Brasil tem políticas de precificação de carbono em prática.

Patrícia Junqueira Paula Seco
Patrícia Junqueira Paula Seco