Informais se reinventam

08 de julho de 2020

Reinventar o trabalho tem sido a tarefa diária de mais de 40% da população ocupada do País. Este porcentual representa perto de 38 milhões de trabalhadores que vivem na informalidade, segundo o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), retrato de uma situação que tende a piorar.

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Em meio à pandemia do novo coronavírus, que impõe distanciamento nas relações sociais, trabalhadores como Francinete da Costa Silva, Bruno Gonçalves e Sofia Pesse Nannini tiveram que ousar e se atirar em novos projetos, pois viram suas atividades anteriores serem interrompidas durante a quarentena. Veja como cada um conseguiu criar um negócio do zero ou redirecionar o antigo e, assim, garantirem suas rendas.

Há 20 anos, Francinete mantém sua oficina de costura na comunidade de Paraisópolis, zona sul da capital paulistana. Natural da cidade de Batalha, no Piauí, Fran, como é conhecida, mantinha clientela cativa tanto em seu atelier, o Amixtosa, quanto na loja onde expunha as criações. O segredo do sucesso de Fran é a imensa variedade de peças únicas, vendidas a preços populares. O negócio ia tão bem que Iara, sua filha, se tornou a principal ajudante nos cortes dos modelos exclusivos. Quando foi decretado o isolamento social pelo governo do Estado de São Paulo, em 16 de março, Fran viu as clientes desaparecerem. Até as lojas onde comprava tecidos, na Rua 25 de Março e no Bairro do Brás, entraram em quarentena e mantiveram as portas fechadas.

“Virei noites trabalhando. Até meu filho Isaac, de 13 anos, ajudou nas embalagens”, diz Francinete da Costa Silva

“Decidi fazer o mesmo durante 30 dias com medo da contaminação pelo vírus. No período, fiz vários cursos virtuais. Um deles para aprender a fazer máscaras de proteção, e resolvi criar o seu próprio design”, conta Fran. Foi só anunciar o primeiro lote, com 20 peças, o qual vendia três máscaras a R$ 10, que recebeu sua primeira encomenda. Era da rede de supermercados Extra, unidade Morumbi, bairro vizinho a Paraisópolis. Eles queriam 600 máscaras. Só que os compradores de uma unidade contaram para as outras, e, em duas semanas, Fran havia vendido mais de 4 mil máscaras para seis filiais da rede. “Virei noites trabalhando. Até meu filho Isaac, de 13 anos, ajudou nas embalagens”.  

Hoje sua produção beira 500 máscaras por mês, e, além do padrão branco, Fran produz outras coloridas e estilizadas, que custam R$ 5 cada. “Estamos trabalhando também com avental cirúrgico. Tenho uma encomenda para mil peças agora. Já fiz mais de 600.”

O mundo de Sofia também deu suas voltas. Antes da pandemia, trabalhava como cuidadora de cães. Prestava serviço para a DogHero, plataforma de hospedagem, cuidados e serviços para cachorros. “Eu adorava ser babá de cachorro”, conta. No Natal passado, hospedou dez, ao mesmo tempo, em seu apartamento, no Bairro de Santana, zona norte da capital paulista, enquanto os donos viajavam. Contou para isso com a ajuda do filho de 22 anos. Estava dando certo e conseguia sustentar a família até vir a pandemia.

“Quando começou o isolamento social, parou tudo e fiquei preocupada. Já tinha feito pão integral no passado, mas tinha ficado muito duro. Mesmo assim, resolvi tentar de novo. Procurei novas receitas e entrei em contato com uma cozinheira do Paraná, que fazia pão integral fresco para vender”, lembra Sofia. A cozinheira paranaense compartilhou suas receitas com a paulistana, e deu certo. Hoje, sempre que precisa de dicas, Sofia liga para a nova amiga e já planeja visitá-la quando a “vida voltar ao normal”. Sofia começou a fazer pão integral em março e percorreu o prédio onde mora, de andar em andar, distribuindo panfletos por baixo das portas dos apartamentos dos vizinhos. E as encomendas começaram. “Chego a fazer cinco pães por dia e os entrego bem quentinhos”. Mas não só pães. Expandiu o cardápio para lasanha de berinjela, sopas, salgados e doces. Um amigo fotógrafo ajudou na divulgação e ela criou a marca O Mundo de Sofia: Confeitaria. “Estou animada. Acabei de ganhar uma maquininha do meu pai e estou me cadastrando para virar MEI (microempreendedor individual). Assim poderei dar nota fiscal e receber cartões de vale-alimentação e vale-refeição.”  

“Meu último evento foi em dezembro do ano passado, quando sazonalmente esse tipo de atividade é interrompida, e só volta após o Carnaval. Só que neste ano foi diferente por conta da pandemia.” Bruno Gonçalves

Não foi diferente o caso de Bruno, que trabalhava há dez anos como produtor de eventos corporativos. Só na Escola Britânica de Artes Criativas (Ebac) estava há quatro anos como freelancer recorrente. Alugava o espaço, selecionava e pagava mão de obra e geria todos os serviços para que o evento pudesse acontecer, desde a contratação de empresas de audiovisual a serviços de limpeza, bufê e recepcionistas. “Meu último evento foi em dezembro do ano passado, quando sazonalmente esse tipo de atividade é interrompida, e só volta após o Carnaval. Só que neste ano foi diferente por conta da pandemia”, conta.

“Chego a fazer cinco pães por dia e os entrego bem quentinhos”, diz Sofia Pesse Nannini

Passou março, abril e maio sem fazer nada. “No dia 1º de junho, criei a marca SAU Salgaderia e Suqueria, e em 15 de junho começamos a vender. É um delivery de comida vegana, vegetariana e sucos. Tudo feito por mim”, diz . O cardápio oferece geleias, conservas e bolos integrais e naturais de outros fabricantes. O cliente pede via Instagram e as entregas são feitas pelo próprio Bruno, a pé, na região central da cidade de São Paulo.

Serviço
Amixtosa Atelier pelo Instagram: @amixtosa_atelie ou pelo Whatsapp: (11) 96466-4958
O Mundo de Sofia pelo Whatsapp: (11) 99737-2118
SAU pelo Instagram: @SAU_Salgados

Roseli Loturco Danilo Tanaka
Roseli Loturco Danilo Tanaka