O Brasil enfrentará uma longa jornada para conseguir cumprir as metas de saneamento. O esgoto despejado diariamente na natureza, sem qualquer tratamento, equivale a 5,3 mil piscinas olímpicas. Somado a isso, 35 milhões de pessoas ainda não têm acesso à água potável, segundo o Instituto Trata Brasil.
Falta o mínimo para que boa parte dos brasileiros tenha uma vida minimamente digna. A reportagem de capa da PB#470 (junho/julho) busca entender as disparidades na prestação destes serviços básicos. Dos dez piores municípios em saneamento básico do Brasil, seis estão localizados na Região Norte.
Uma situação de calamidade atinge a cidade de Macapá, por exemplo. Na capital do Amapá, apenas 37,56% dos cidadãos têm acesso à água potável, e 10,76% são atendidos por rede de esgoto em casa. Para contornar a falta de fornecimento de água potável, uma das práticas mais comuns na cidade, inclusive em bairros de classe média, é a abertura de poços, escavados manualmente.
A apuração mostra que o quadro de precariedade histórica da capital amapaense é o pior do País, mas não está isolado. Em Santarém, uma das principais cidades paraenses, o serviço de coleta de esgoto atende apenas 4,1% dos 300 mil habitantes, o pior índice do Brasil.
No médio prazo, a esperança de melhorias está atrelada às metas estabelecidas pelo Marco do Saneamento, aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado pelo governo federal em 2020.
A lei determina que 99% da população tenha acesso à água e que 90% dos domicílios brasileiros contem com coleta de esgoto, até 2033. Em 2020, de acordo com o Trata Brasil, foram investidos R$ 13,7bilhões, valor considerado irrisório para atingir os parâmetros estabelecidas pela legislação.
Outra problemática histórica nacional abordada na edição #470 é a dos deslizamentos de terra. De tempos em tempos, o Brasil assiste a cenas que lembram um filme de apocalipse. Alega‑se que todos os cuidados foram tomados, e as fortes chuvas recebem a culpa, por terem superado o volume previsto.
Só em 2022, os deslizamentos já provocaram a morte de 457pessoas, registra levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM), com base nos dados das defesas civis municipais. O dado inclui as 91 pessoas mortas no desastre em Recife, na última semana. O total de óbitos representa um aumento de 57% em relação a 2021, ano em que o número de mortos pela chuva em todo o período foi de 290 pessoas.
Surgem aqueles que atribuem a maior incidência de chuvas às mudanças climáticas, mas o autor do livro Enchentes e deslizamentos: causas e soluções, o geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, discorda da tese. “Os aumentos da letalidade e da frequência destas tragédias se explicam pela continuidade da expansão das cidades serranas sobre encostas naturalmente instáveis e impróprias à ocupação urbana”, resume.
Por que ainda há tanta desconfiança sobre o conhecimento produzido pela ciência e pelas instituições de pesquisa?
A PB foi a campo para buscar respostas a este fenômeno da atualidade: o negacionismo. Na visão de Paulo Nussenzveig, pró‑reitor de Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) e professor no Instituto de Física da mesma instituição, as pesquisas foram ficando mais complexas e, por consequência, mais apartadas da sociedade.
O desafio de combater o desinteresse e as fraudes recai sobre profissionais como a neurocientista Mellanie Fontes‑Dutra, que leciona na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e se notabilizou nas redes sociais como uma das divulgadoras mais relevantes dedados sobre a covid‑19. Até meados de 2020, sua conta no Twitter tinha cerca de dois mil seguidores – número que já passou dos 80 mil hoje. “A pandemia obrigou que os pesquisadores aparecessem mais na mídia e se esforçassem em explicar os fenômenos de formas mais compreensíveis para a população”, diz.
O enfraquecimento do multilateralismo também é fruto de análise deste número é visto como preocupante pelo professor Marcos Jank, em razão do surgimento de interesses geopolíticos territoriais. “O que é uma relação bilateral? É a lei do mais forte”, opina. Ele vê com ressalvas a aliança entre Rússia e China, já que o gigante asiático é o maior cliente do Brasil no agronegócio. “A Rússia é o nosso competidor potencial, pois dispõe de quantidade absurda de terras e está ampliando as áreas produtivas.” Os principais trechos da conversa, concedida ao Canal UM Brasil, ganham destaque na PB.
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