Edição especial da revista PB em parceria com o Canal UM BRASIL reúne entrevistas, ensaios e artigos de profissionais de diversas áreas do conhecimento. Eles apontam caminhos para responder aos desajustes econômicos, tributários, ambientais e culturais que sufocam o potencial de desenvolvimento e a competitividade nacional. A versão digital da edição está disponível na banca digital BANCAH.
Descrença na política, corrupção, escalada do ódio e crises econômicas marcaram a última década. Neste ano, impactado pela pandemia e frente a mais uma eleição presidencial, o País anseia por mudanças. Para estimular diálogos transformadores, a revista Problemas Brasileiros e o Canal UM BRASIL – realizações da FecomercioSP – se unem para mais uma edição especial. Os ensaios, os artigos e as entrevistas oferecem uma diversidade de interpretações neste momento de extrema polarização e olhares enviesados pela radicalização ideológica.
Entre os destaques, o ensaio “Economia, popularidade e voto”, escrito pelos cientistas políticos Daniela Campello e Cesar Zucco, analisa a influência econômica na decisão dos eleitores de reeleger governantes ou dar uma oportunidade a seus oponentes. Este fenômeno, explicam os autores, conhecido como “voto econômico”, é uma das regularidades mais documentadas nos estudos sobre política eleitoral. A teoria do voto econômico, ao contrário de outras perspectivas sobre a democracia, não exige que os eleitores tenham preferências políticas claras nem que conheçam ou acompanhem as ações de governo. Para a democracia “funcionar”, basta que o eleitor avalie se, ao fim do mandato, sua vida melhorou ou piorou.
Daniela e Zucco apresentam dados coletados em 62 eleições presidenciais em nove países sul-americanos. Segundo o levantamento, a popularidade média entre os que não conseguiram se reeleger ou eleger seu sucessor foi 33.2%. Entre os bem-sucedidos, foi de 56.1%. “As razões que explicam o voto econômico são objeto de intenso debate entre especialistas. É possível que o eleitor vote com base na economia porque, em última instância, o bem-estar material é sua prioridade”, afirmam.
E alertam que “o voto econômico tem implicações profundas para a qualidade da representação política, principalmente em democracias menos consolidadas, como é o caso das latino-americanas e, dentre elas, a brasileira”. Isso, porque na ausência de partidos políticos vinculados a diferentes segmentos da sociedade, o voto com base na economia torna-se um recurso único na relação entre governantes e eleitores.
Os embates entre as instituições democráticas são o tema da conversa com Joaquim Falcão, jurista e professor de Direito Constitucional da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getulio Vargas. “O que é importante para a democracia? É que nenhum Poder tenha poder sobre os outros. É manter uma certa tensão, eu controlo você e você me controla. Se parar em um Poder, sairemos da democracia”, esclarece. Ele pondera que a Constituição de 1988 consolidou a redemocratização ao garantir direitos, como o voto universal, mas ressalva que ela nunca foi implementada plenamente, já que os seus efeitos não chegam às periferias.
“O Brasil foi criado sob os signos em que poucos mandam e muitos obedecem,” afirma a historiadora Lilia Schwarcz, professora de Antropologia na Universidade de São Paulo (USP). Ela adverte: “O Brasil não é um país pobre, é um país de pobres. E nós sabemos que, depois da pandemia, vamos sair ainda mais pobres e desiguais”. Ao refletir sobre as crises social e democrática que vivemos, Lilia adverte que o racismo não deve ser encarado como fruto do legado histórico, já que as novas gerações têm a chance de reescrever a trajetória do País.
O escritor Itamar Vieira Junior (autor de Torto Arado) acrescenta que o País precisa refletir sobre as injustiças cometidas no passado, como na escravidão, cujas consequências são sentidas até hoje. O autor baiano, abraçado pelo público ao abordar o racismo estrutural e o papel da cultura na conscientização das pessoas, acredita que essa reflexão pode se dar pela história documental ou por meio da arte. “Nenhuma arte é desprovida de política. É inevitável, pois todos somos seres políticos. Até a neutralidade é um posicionamento político.”
Além dos textos sobre economia, política, ciência, sustentabilidade, política externa, empreendedorismo, entre outros assuntos, a edição traz a crítica bem-humorada dos chargistas Adão Iturrusgarai, Benett, Caco Galhardo e Jean Galvão. A versão digital está disponível na banca digital BANCAH.