Ao longo de dezembro e janeiro, os artigos e as entrevistas da edição especial serão publicados no site da PB.
Este ano trouxe, com a pandemia, novos modelos de comportamento, consumo, produção e pensamento. Todos exigem, acima de tudo, a adoção de práticas impensáveis ate então. Definir 2020 apenas como um “ano diferente” é pouco para explicar a complexidade dos problemas que a crise revelou à humanidade. No caso do Brasil, o covid-19 destacou as desigualdades socioeconômicas e suas cruéis consequências.
Para refletir sobre como poderemos responder aos fatos que se descortinam, a revista Problemas Brasileiros se uniu ao canal UM BRASIL, ambas realizações da FecomercioSP, para uma edição especial. A publicação traz vozes destacadas nas áreas de Filosofia, Educação, Economia, Saúde, História, Cultura, Sustentabilidade, Ciência Política e Comunicação.
Em ensaio exclusivo, o sociólogo Sérgio Abranches frisa a necessidade de uma urgente revisão nos paradigmas de análise e dos modelos de representação e proteção social. Os atuais, segundo ele, não funcionam mais com a eficácia necessária. Abranches sublinha que o solidarismo nas redes salvou vidas. Fechadas em suas casas, as pessoas descobriram o valor da praça digital e dos encontros a distância. “O isolamento reconciliou as pessoas com as redes e revelou o seu lado luminoso”. Além de reestruturarem a rotina de forma paradigmática, as mudanças ocasionadas pela pandemia inseriram a imprevisibilidade como componente inseparável do cotidiano.
Será que entramos no tão falado “novo normal”? Ou ele já estava presente na vida de centenas de milhares de pessoas que há tempos vivem em situações de um ambiente pandêmico? Essa é uma das abordagens do filósofo e educador Mario Sergio Cortella, para quem o “antigo normal” já imprimia o isolamento ao acesso a serviços básicos para a sobrevivência. “Não tenho a perspectiva salvacionista de que teremos, ao fim do período pandêmico, um outro modo de normalidade que regenere a degradação existente no “normal anterior”. O historiador Leandro Karnal alerta para o agravamento da comunicação agressiva. “Acho isso muito perigoso. Então, é preciso enfatizar esta questão: primeiro, preservar a vida; segundo, empregos e economia; e, por fim, a nossa capacidade de comunicação, sem a qual não existe Brasil”, afirma Karnal.
A historiadora Mary Del Priore traça um paralelo entre os impactos do covid-19 e os da gripe espanhola, ocorrida no início do século passado. “Diferentemente de hoje, o Estado estava totalmente despreparado, e não se sabia o que era a doença”. Ao destacar os papéis da ciência e da educação, ela comenta sobre os danos da desinformação durante períodos de crise.
A ausência de lideranças democráticas da oposição é um dos aspectos realçados pelo historiador e cientista político Boris Fausto. “Não temos nenhuma pessoa que, pelo menos, desenhe com esta força que se anteponha a estas condições lamentáveis da nossa política, das nossas situações.”
A cientista política Heloisa Starling aponta os traços individualistas e preconceituosos que formam a identidade brasileira. Para ela, o senso de comunidade é uma das necessidades na Nação. Já a difícil retomada dos índices de emprego é analisada pelo economista Eduardo Giannetti, que fala sobre os possíveis efeitos do fim do auxílio emergencial.
Para analisar a tensa relação entre os poderes e a legitimidade das instituições, Cármen Lúcia, ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), participa de um debate com estudantes sobre o protagonismo do Judiciário. “Imparcialidade no Judiciário é assim: ou é imparcial ou não é Judiciário”, diz a magistrada.
Em artigo, Paulo Nassar, diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), escreve que as principais coisas que nos foram retiradas, além das milhares de vidas e suas histórias, foram os rituais abrangentes de comunicação e relacionamento. “A pandemia destruiu radicalmente este territórios-rituais com os quais tínhamos relações afetivas.”
A publicação especial tem ainda artigos assinados pelos presidentes dos conselhos da FecomercioSP. Eles avaliam as perspectivas sobre as reformas estruturais, os gastos públicos e o sistema tributário, por exemplo.
A pauta da edição ganha leveza nos traços dos chargistas Adão Iturrusgarai, Benett, Caco Galhardo e Jean Galvão, que resumem 2020 em charges bem-humoradas.
Ao longo dos meses de dezembro e janeiro, os artigos e as entrevistas da edição especial serão publicados no site da PB.