Sem oportunidades

03 de agosto de 2021

É preciso articular soluções contra o desemprego: em fevereiro, havia 14,8 milhões de pessoas sem trabalho, segundo estudo realizado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. O presente quadro pode ser reparado, no entanto, com a desburocratização do ambiente de negócios.

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Crises sanitárias, como a que atravessamos diante da pandemia instaurada pela covid-19, inevitavelmente trazem consigo outras problemáticas. Com os impactos no setor produtivo – em somatória às questões enfrentadas na saúde pública –, no caso do Brasil, vieram à tona o aumento do desemprego e o baixo crescimento econômico. O avanço da vacinação, porém, sinaliza potencial para a retomada do comércio e da indústria.

Um possível ganho de fôlego no cenário econômico brasileiro, a ensaiar seus primeiros passos nos próximos meses, como reflexo do aumento do número de pessoas imunizadas contra o coronavírus, só depende de estratégias bem consolidadas, defendem especialistas. Governos, empresas e trabalhadores têm, agora, pela frente, um horizonte aberto em que será preciso saber tomar decisões importantes. A fim de que o País consiga superar a crise, os caminhos passam não apenas pela contratação, mas por um melhor aproveitamento de profissionais.

Em busca de compreender a complexidade do assunto, a Revista Problemas Brasileiros traz em reportagem de capa uma aprofundada radiografia que ilustra a urgência de políticas e iniciativas dos setores público e privado para oferecer mais oportunidades. A jornalista Luana Melody Brasil foi a campo conhecer histórias de vida entre os 14,8 milhões buscando trabalho, o que representa uma taxa de desemprego de 14,7% no trimestre fechado em abril. É o maior contingente registrado desde 2012, no início dos estudos da Pnad.

Além da alarmante quantidade de pessoas sem ocupação, a pauta lança um especial olhar, ainda, em direção às particularidades inerentes aos grupos subutilizados e desalentados. Hoje, o Brasil tem 33,3 milhões de pessoas subutilizadas. São subutilizados – ou “mão de obra desperdiçada” – os desempregados, os que trabalham menos horas do que gostariam ou poderiam e quem não busca emprego, mas gostaria de trabalhar. A população subutilizada amarga a maior marca da série histórica, crescendo mais do que o número de pessoas ocupadas, com um aumento de 2,7%. Por sua vez, os desalentados, que são aqueles que desistiram de procurar trabalho em razão das condições estruturais do mercado, somaram 6 milhões de pessoas, permanecendo, e, repetindo, o maior patamar da série.

Na perspectiva dos especialistas consultados, o crescimento econômico do País depende da geração de empregos, e vice-versa. Para eles, é momento de mais incentivo do Estado, com liberação de recursos para atrair investidores. Os economistas são igualmente unânimes em apontar a urgência de um projeto nacional de desenvolvimento econômico, cabendo ao setor público injetar recursos nos setores produtivos e indicar a direção que o capital deve seguir.

Outro destaque da PB #465 é a entrevista exclusiva com Sandra Benites, primeira curadora indígena contratada por um museu brasileiro, à frente da pesquisa para o projeto Histórias Indígenas, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), programado para 2023. Pertencente à etnia Guarani-Ñhandeva, ela fala à colaboradora Nina Rahe de sua meta em contribuir para que os povos originários sejam, enfim, escutados e reconhecidos. Antes de assumir o cargo, em 2019, foi professora do ensino fundamental em Aracruz, no Espírito Santo; coordenadora pedagógica na Secretaria de Educação em Maricá, no Rio de Janeiro; e é doutoranda em Antropologia Social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sandra garante que a academia não a coloca distante dos ensinamentos da aldeia: é fortalecida por eles que pretende desconstruir uma narrativa centrada no discurso colonizador.

Uma elucidativa apuração de Fabíola Perez traz à voga o alerta de como a política armamentista adotada pelo governo federal vem provocando um aumento sem precedentes no número de revólveres, pistolas e até fuzis nas mãos de cidadãos comuns. No Brasil, o Atlas da Violência de 2020 mostrou que a política de controle sobre armas de fogo e munições impacta diretamente no crescimento médio anual de homicídios. Em relação aos feminicídios, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020 registrou 649 vítimas no primeiro semestre do ano passado, um crescimento de 2% em relação ao mesmo período em 2019. Um exemplo da facilidade com que armas de fogo deixam o mercado legal é o caso de Lázaro Barbosa, o homem de 32 anos que se tornou um assassino em série do Distrito Federal (DF), após matar uma família e ter sido condenado por diversos outros assassinatos em Goiás. A invasão de Lázaro a chácaras rurais destitui a declaração de Bolsonaro de que a posse em casa funcionaria como uma proteção ao cidadão e à família. A realidade expõe o contrário: em um dos dias de fuga, após roubar armamentos em uma residência, o homem baleou um policial durante confronto.

A edição também explana, em levantamento de Filipe Lopes, os números da segurança alimentar no Brasil, que havia caído 13,8 pontos porcentuais (p.p.) em 2018 – com 63,3% da população segura –, na comparação com 2013 (77,1%), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E piorou:  no fim de 2020, a pandemia refletia na mesa das pessoas, com 116,8 milhões convivendo com alguma insegurança, das quais 43,4 milhões não tinham alimentos o suficiente e 19 milhões passavam fome. A pauta identifica, entre outras constatações, que o avanço da extrema pobreza (pessoas que vivem com menos de R$ 246 por mês) está intimamente ligado ao aumento da insegurança alimentar no País. Em 1992, 34,81% da população viviam na faixa da extrema pobreza. Este índice foi sendo gradualmente reduzido, atingindo o menor patamar em 2014, com 8,38%. Entretanto, de 2015 para cá, a tendência de queda se inverteu. Em 2019, alcançou 10,97%, e em fevereiro de 2021, 12,83%. Os números são da Fundação Getulio Vargas (FGV) Social.

Como nem tudo são espinhos, apresentamos, na coluna “Brasileiros”, a iniciativa propositiva da Casa de Apoio Acolher, em São Luís, no Maranhão (MA). No espaço, pessoas que vivem e convivem com HIV/aids encontram o suporte que precisam. O projeto oferece apoios psicológico, social, alimentar e jurídico a mais de 5 mil pessoas, da capital e de municípios próximos. “Preenchemos a ausência do Poder Público. O nosso papel é, literalmente, levar o bem para estas pessoas, que não têm orientações sobre a patologia”, afirma o idealizador, Paulo Ribeiro, à repórter Gabriela Almeida. Com 34 voluntários, as atividades sobrevivem de doações e das vendas de bonecas de pano, feitas de forma artesanal por mulheres que moram no interior do Estado maranhense.

A edição completa da PB #465 está disponível na banca digital Go Read.

Eduardo Ribeiro Paula Seco
Eduardo Ribeiro Paula Seco