Mesmo com demanda reprimida da indústria e alta taxa de desemprego, o Brasil convive com um déficit de 1,8 milhão de pessoas para vagas especializadas no setor produtivo. Na retomada da economia, investir em educação profissional será item básico para a competitividade.
Nos próximos anos, novas habilidades e conhecimentos serão exigidos de jovens e adultos. A capacitação dessa força de trabalho passa por mais adesão à educação profissional que, segundo especialistas, é o caminho ideal para suprir a demanda do setor produtivo por colaboradores qualificados em áreas ligadas à tecnologia e inovação.
O mais recente Censo da Educação Básica do Inep/MEC, de março de 2020, denota a falta de interesse dos estudantes brasileiros à modalidade técnica. Com o total de 9.486.847 inscritos no ensino médio, a procura pela vertente continua baixa, na marca de 20,4%, mesmo possibilitando acesso mais rápido ao mundo do trabalho.
Somado ao quadro, os dados do Mapa do Trabalho Industrial 2019-2023, elaborado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), mostram que o País vai precisar qualificar 10,5 milhões de trabalhadores nos níveis superior, técnico e de aperfeiçoamento até 2023. As áreas de maior demanda serão metalmecânica, construção civil, logística e transporte. A ocupação de condutor de processos robotizados, por exemplo, terá a maior taxa de crescimento do número de vagas para o período: 22,4%.
Embora 50% dessas ocupações ociosas atualmente ocorram em setores de tecnologia, seis em cada dez adultos não têm conhecimentos em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), tampouco experiência em informática, para se ter ideia, criando um descompasso entre as exigências do campo produtivo e a formação profissional em curso. Particularmente no Brasil, faltam pessoas especializadas para preencher postos abertos em diversos setores. Essas são algumas das constatações de um estudo de abrangência global realizado pela empresa de recursos humanos Korn Ferry (Futuro do Trabalho: A Crise de Talentos).
O levantamento aponta que muitos jovens saem do ensino médio despreparados para iniciar a vida profissional. Estima, ainda, que o número deve crescer a uma taxa de 12,4% ao ano, até alcançar 5,7 milhões de postos vagos ou com funcionários sem competência ideal até 2030. O contexto é claro: investir em Educação Profissional e Tecnológica (EPT), neste momento, é uma das principais alternativas para melhorar a competitividade nacional.
A seguir, listamos quatro fatos que sublinham a importância da educação profissional para o País:
1) Novas habilidades. A qualificação técnica adequada se torna ainda mais importante quando uma série de adaptações são exigidas das empresas e dos trabalhadores, em razão da quarta revolução industrial. Novas profissões, como engenheiro de cibersegurança, mecânico de veículos híbridos e projetista para tecnologias 3D, devem se consolidar nos próximos dez anos. A previsão é de que surjam, ao menos, 30 novas ocupações ligadas a tecnologias digitais, como internet das coisas, Big Data e Inteligência Artificial. Os segmentos automotivos, de alimentos e bebidas, de máquinas e ferramentas, de petróleo e gás, têxtil e de vestuário, químico e petroquímico, de tecnologias da informação e comunicação, e de construção civil serão impactados. Nesse cenário, os trabalhadores precisarão ter a formação técnica para operar equipamentos complexos.
2) Currículo da nova economia. O ensino técnico permite que os estudantes sejam protagonistas do próprio futuro, com a escolha de uma jornada mais alinhada aos seus objetivos e necessidades. Com a recente reforma do ensino médio, que flexibiliza e diversifica o currículo regular, iniciou-se um longo processo para entrar em compasso com as melhores experiências internacionais. Nações desenvolvidas, há muito tempo, destinam investimentos expressivos à educação profissional. Os países da União Europeia têm, em média, 50,4% dos estudantes do ensino médio também matriculados em cursos profissionalizantes. Na Áustria, esse coeficiente é de 69,8%; na Finlândia, de 70,4%. No Brasil, o indicador é de apenas 11,1%.
3) Formação para o mercado. As formações profissionais aliam teoria à prática, trabalhando a base do conhecimento técnico de forma simultânea ao fazer efetivo. Na grade, entram as competências técnicas necessárias às funções e ao conjunto das competências socioemocionais. Para as empresas, esse aspecto é fundamental, pois o profissional já chega familiarizado com a realidade da área escolhida. Além disso, os cursos de educação profissional oferecem curta duração, o que favorece a empregabilidade mais rápida.
4) Remuneração. Um estudo feito pelo IBGE em 2017, encomendado pelo Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), com base na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2014, mostra que profissionais formados em cursos técnicos têm, em média, acréscimo de 18% na renda em relação a pessoas com perfis socioeconômicos semelhantes e que concluíram o ensino médio regular. Técnicos da área de produção de petróleo e indústrias químicas, por exemplo, têm ganhos médios mensais de R$ 7.700.