Nos últimos anos, os Institutos Politécnicos (IPs) portugueses têm adotado medidas para tentar atrair mais estudantes internacionais — incluindo, claro, pelas proximidades linguística e cultural, os brasileiros. Contudo, um dos principais desafios que enfrentam é a dificuldade de se tornarem conhecidos fora de suas fronteiras.
Apesar de serem instituições de ensino tradicionais e renomadas internamente, a nomenclatura dos IPs gera uma série de mal-entendidos entre os estrangeiros. Na realidade, funcionam como universidades, oferecendo graduações e mestrados em praticamente todos os campos de conhecimento. “Na altura que foram criados, era suposto ser só para partes técnicas, mas, hoje em dia, nós temos não só engenharias, como também ensino artístico, comunicações, saúde e ciências sociais”, explica Fernando Melício, vice-presidente de Cooperação e Internacionalização do IP de Lisboa.
Na tentativa de desfazer certas confusões, os politécnicos ganharam, neste ano, a autorização do governo para se apresentarem como university em materiais para o exterior. Recentemente, também puseram abaixo a restrição de oferecer doutorados. A principal diferença que permanece entre estas organizações e as universidades é que os IPs têm um foco prático, bem voltado ao mercado de trabalho — e menos para pesquisas teóricas. Além disso, seguem o modelo conhecido na Europa como “universidades de ciências aplicadas”.
A busca por estudantes estrangeiros é uma necessidade urgente do sistema de ensino superior português, uma vez que o país conta com uma população jovem cada vez menor. “Tem a ver com as razões demográficas: estamos a ficar um país envelhecido. Se não tivermos imigração, não teremos hipóteses de sobreviver”, afirma Melício, do IP de Lisboa. Segundo o Censo 2021, os idosos com 65 anos ou mais são 23,4% da população do país, ao passo que a população de até 14 anos não chega a 13%.
Por dividir o idioma — e pelo tamanho populacional, sobretudo o jovem —, o Brasil é candidato preferencial na aproximação com os politécnicos. “O Brasil me parece o mercado mais natural, porque, tirando umas pequeninas questões linguísticas, entendemo-nos bem”, destaca Melício. Para facilitar o processo de ingresso dos brasileiros, muitos institutos aceitam as notas do Enem. Cada um tem a própria nota de corte — o de Lisboa, por exemplo, é de 500 pontos. “[As notas] dependem das áreas. As mais difíceis, atualmente, são para Comunicação Social, que, em termos de ranking nacional, estamos muito bem, e a concorrência está entre 10 e 15 candidatos por vaga”, cita o porta-voz do IP de Lisboa.
O incentivo para atrair mais estudantes brasileiros também se dá por meio de ações de internacionalização exclusivas. Uma delas é o Polytechnics International Network (PPIN), projeto que contou com o apoio da Federação das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil (FCPCB), reunindo 18 politécnicos. O grupo é liderado pelo IP Porto (IPP), o maior politécnico de Portugal, com mais de 21 mil estudantes distribuídos entre 59 graduações e 77 mestrados. Em 12 anos, o número de estrangeiros triplicou: são cerca de 1,5 mil, dentre os quais um terço é formado por brasileiros. “A quantidade de estudantes internacionais, ao longo dos últimos 15 anos, tem aumentado muito, com exceção dos anos da pandemia, mas já ultrapassamos os números que tínhamos antes da crise sanitária”, conta Carlos Ramos, pró-presidente para Cooperação e Relações Internacionais da instituição.
A promoção do IPs se dá sobretudo por meio da participação em feiras de instituições internacionais que se realizam em diversas cidades do Brasil. “É uma excelente opção, até porque dialogamos com os verdadeiros interessados, os alunos. Assim, conseguimos entender bem melhor o que pretendem, os receios que têm e esclarecer as dúvidas”, relata Ramos, que ainda garante: o intercâmbio traz vantagens para todos. Para o estudante brasileiro, é uma porta aberta para mundo. “Estudar em Portugal é uma maneira de ingressar no mercado europeu ou voltar a trabalhar no Brasil com uma visão diferente, mais global”, explica. Os alunos portugueses também ganham por estudar em um ambiente diverso e multicultural. “Não há apenas o benefício para o aluno internacional, que conhece um país diferente. Os nossos alunos em Portugal também aprendem muito com os colegas que vêm de fora. Nós chamamos isso de internationalization at home”.
Diferentemente do Brasil, todos os institutos de ensino superior português, mesmo públicos, cobram anuidades, mas com valor máximo fixado pelo Ministério da Educação do país. Atualmente, o custo é de cerca de 700 euros (em torno de R$ 4 mil). Para os estrangeiros, contudo, a limitação de valor não se aplica. É muito comum que politécnicos ofereçam descontos para alunos oriundos de países de língua oficial portuguesa. “O valor depende da instituição ou do curso, mas diria que se situa geralmente entre 1,2 mil a 5 mil euros anuais. É muito menos do que se paga para ir aos Estados Unidos ou ao Reino Unido. É também muito menos do que se paga em universidades privadas no Brasil, sobretudo nos mestrados”, ressalta Ramos. Interessante para instituições e estudantes, inclusive financeiramente.