Tecnologias para uma educação mais eficiente

19 de fevereiro de 2024

Dentre novos equipamentos, softwares e soluções para a educação, melhorar a eficiência — de forma que professores se livrem mais rapidamente de tarefas mecânicas e repetitivas e ganhem mais tempo para focar nos processos que, de fato, promovam aprendizagens — é uma das grandes promessas das empresas de tecnologia. Ao menos é isso que promete grande parte dos negócios que participaram da Bett Show, em Londres, a maior feira do mundo focada em tecnologias para a educação.

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Certas partes do “trabalho braçal” dos professores — como elaboração e correção de provas — já podem ser feitas com a ajuda de sistemas de Inteligência Artificial (IA). Agora, duas das gigantes do setor, Microsoft e Google, vêm apostando em programas “coaches de leitura” para ajudar na alfabetização. Em vez de os professores terem de ouvir aluno por aluno lendo pequenos textos, os estudantes têm as leituras “ouvidas” pelo sistema, que logo mostra o tempo que levaram em cada trecho e apontam as palavras que tiveram dificuldade. Com tablets, fones de ouvido e microfones, todos podem treinar o exercício simultaneamente, e por muito mais tempo, durante a aula.

O aluno tem a chance de reler as partes que errou para se aperfeiçoar, o que permite a chamada “personalização” da aprendizagem: cada um vai no seu ritmo, conforme as próprias habilidades e limitações. O professor tem acesso aos dados de toda a turma (e de cada aluno individualmente) para poder pensar em estratégias — seja para rever sons e palavras com as quais vários tiveram mais problemas, seja para ajudar crianças que apresentem mais dificuldades. Embora ainda não haja casos de uso em grande escala em língua portuguesa, o Google já tem um projeto-piloto no Paraná.

As IAs estão entrando também nos vídeos e na parte gráfica. Os serviços do Canva, ferramenta de design, permitem animar desenhos feitos pelas crianças, assim como tirar o fundo de vídeos e jogar outros, sem a necessidade de usar um fundo verde. Os trabalhos multimídia dos estudantes podem subir de patamar sem a necessidade de entendimento profundo de técnicas de efeitos especiais.  

No entanto, mesmo que as IAs sejam a bola da vez, ainda existe a possibilidade de erros graves de informação, as chamadas “alucinações” das máquinas. Quando se trata da área de Educação, há um esforço para treinar novas IAs apenas com dados de uma base confiável, mais restrita, para criar ferramentas específicas — em contraste com as mais amplas, ditas generalistas.

Ter IAs específicas é um esforço que envolve companhias gigantes, além de algumas nem tão grandes — como algumas instituições de ensino. A Intel e a Open University (esta última a maior universidade do Reino Unido) dizem que ainda estão treinando os próprios sistemas e devem lançar versões de IA para educação em breve. Já a norte-americana Chegg, que tradicionalmente oferecia preparação para provas e concursos, apresentou uma versão treinada apenas com materiais próprios, o que permite que “converse” com os estudantes com menos riscos de respostas erradas.

Outra tendência é a intenção de facilitar o uso das ferramentas digitais, de forma que já esteja tudo integrado na mão do usuário sem que ele precise instalar ou aprender a mexer em novos softwares. A Microsoft, por exemplo, dispõe de uma função que integra um documento com testes de múltipla escolha feitos por uma IA ao pedido do professor diretamente com o Kahoot, um software de quizz, que compara os resultados de múltiplos jogadores. O Kahoot se tornou um dos queridinhos dos professores nos últimos anos ao permitir criar competições de quem sabe mais entre a turma — ou, ao menos, quem dá mais respostas certas mais rapidamente.

Com a intenção de ser mais simples de operar e livres de erros, a Samsung apresentou uma série de quadros interativos para substituir a atual geração de projetores usados nas escolas. Como uma espécie de grande tablet, a tela já é o próprio computador, em vez de um equipamento que projeta a tela de outro aparelho. Outra novidade a ser lançada em breve da coreana é um aparelho celular que vem com um tradutor integrado, capaz de “falar” em uma dezena de línguas diferentes. A tradução, além de instantânea, usa a voz de quem está falando, só que no idioma estrangeiro. Alguém pode falar em português e sua voz ser ouvida, do outro lado, em inglês. Mais do que ajudar na educação, promete ser uma importante ferramenta de negócios internacionais.

Numa solução que também serve para qualquer grande agrupamento de pessoas, mas parece sob medida para as escolas do Brasil, a Intel está lançando um roteador que faz gerenciamento automático de cache, o que aumenta a eficiência da internet. Ao abrir um vídeo (ou mesmo um livro online), o download será feito apenas uma vez, com cópias dos arquivos distribuídas pelos vários equipamentos posteriormente. O lançamento oficial está marcado para o fim de março de 2024, e já no começo de abril deve chegar a algumas escolas brasileiras para teste.

Com a intenção de ser mais simples de operar e livres de erros, a Samsung apresentou uma série de quadros interativos para substituir a atual geração de projetores usados nas escolas. Como uma espécie de grande tablet, a tela já é o próprio computador, em vez de um equipamento que projeta a tela de outro aparelho.

Frente à realidade de muitas informações de aulas, alunos e professores tratadas no mundo virtual, uma das preocupações dos gestores ao redor do mundo tem sido garantir a segurança de tantos dados. Na Bett Show, havia dezenas de empresas oferecendo, desde softwares de firewalls e gerenciamento de senhas, consultorias e administração de equipamentos até programas completos que incluem treinamento de funcionários e alunos, com o objetivo de evitar que as pessoas abram as brechas digitais. O sentido da palavra “segurança” acaba se estendendo até mesmo à integridade física dos alunos, com sistemas que detectam comportamentos de risco para depressão, automutilação, bullying ou violência contra outros, de acordo com o que os estudantes digitam nos equipamentos escolares.

Tantas tecnologias, porém, precisam mesmo servir ao fim de permitir que haja mais tempo para o contato entre as pessoas reais, o olho no olho, alerta Vivian Hocking, especialista em saúde mental que apresentou uma palestra no último dia do evento. “As ferramentas podem ajudar até certo ponto, mas não podem nos deixar preguiçosos. Minha sugestão aos professores é: confie na sua intuição. Pergunte de verdade: ‘Como você está?’. Somos todos seres humanos, e quando nos sentimos seguros e queridos, fazemos tudo melhor”, afirma.

Luciana Alvarez Annima de Mattos
Luciana Alvarez Annima de Mattos