Imune aos discursos autoritários amplificados pelas redes sociais, a maioria dos empresários brasileiros defende que a democracia, com eleições livres e justas, é o único regime viável para o desenvolvimento do País e a prosperidade de seus negócios.
A maioria (91%) dos empresários brasileiros concorda que, apesar de ter problemas, a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo. É o que revela a pesquisa Valores Democráticos no Empresariado Brasileiro, conduzida pela Fundação Tide Setubal, em parceria com o Instituto Sivis. O levantamento ocorreu entre os dias 20 de maio e 8 de julho deste ano e ouviu 417 empresários de todas as regiões do País, contemplando os setores de serviços, comércio e indústria e variados portes (pequeno, médio e grande).
O estudo mostra que a classe empresarial já demonstra que encara a democracia como um valor inegociável da sociedade brasileira, pensa Mariana Almeida, superintendente da Fundação Tide Setubal. “Apesar das maneiras diferentes de pensar e escolher seus candidatos e partidos políticos, os empresários entendem que a democracia é o meio para organizar as diferenças”, diz. “Em um momento de polarização política é importante encontrar coisas que nos unem como sociedade.”
Quase a totalidade dos empresários (98%) também concorda que é importante para a prosperidade dos seus negócios a integridade de eleições livres e justas.
A falta de uma posição pública enfática deste setor em relação à democracia se justifica pela dificuldade da sociedade brasileira em debater o sistema político para além do âmbito partidário. “Ganhar um rótulo partidário ou ideológico é um problema para alguém que está tentando expandir mercado e atingir um público diverso. Quando se discute democracia como valor, não como bandeira de um partido, isso favorece o amadurecimento da sociedade, pois entre tantos desafios que ainda temos que vencer, parece que existe consenso sobre o valor da democracia”, analisa a superintendente da fundação.
O estudo não trouxe apenas o retrato de unidade entre os empresários, mas também mostrou que existem níveis diferentes de interesse sobre temas políticos. No recorte por faixa etária, 63,8% dos empresários idosos (pessoas com mais de 60 anos) se consideram interessados pela política, contra 48% dos jovens (pessoas com idade entre 18 e 35 anos). Já na abordagem por gênero, 68% dos homens se dizem muito interessados por política, enquanto apenas 39% das empresárias demonstraram afeição ao tema.
Esses resultados refletem, segundo Mariana, a realidade da sociedade brasileira, em que pessoas mais experientes compreendem a importância da política como meio para transformar a realidade e defender direitos adquiridos, como a liberdade, enquanto os mais jovens ainda não atingiram este grau de maturidade.
“No caso das mulheres, as informações indicam que a política ainda é um espaço dominado pelo machismo estrutural. Isso está sendo desconstruído, mas leva tempo. Além disso, a forma atual de fazer política é muito masculina. O debate político de violência e disputa não atrai a mulher”, afirma Mariana.
Apesar das divergências, a superintendente salienta que o ambiente democrático permite a gestão dos conflitos e a institucionalização de normas, portanto, cria estabilidade nos negócios, com regras claras. “Se vou investir ou empreender, quero saber o que acontece se der errado. Conseguir avaliar os riscos, estabelecer contratos e ter um mínimo de previsibilidade é fundamental para o crescimento dos negócios”, considera.
Outro ponto relevante mensurado pela pesquisa foi o modo como o empresariado se relaciona com preocupações ambientais, sociais e de governança, conhecidas atualmente pela sigla ESG (Environmental, Social and Corporate Governance, em inglês): 85% das empresárias julgam ser importante a discussão corporativa sobre essas práticas, contra 72% dos empresários.
“Uma vez superada a discussão sobre o modelo político ideal, o empresariado pode ocupar um protagonismo importante na sociedade, uma vez que entende seu papel como transformador social, ambiental e de governança”, conclui Mariana, da Fundação Tide Setubal. Para ela, as ideias antidemocráticas tendem a ser rejeitadas pela maioria da sociedade, como ocorre com a escravidão e outros modelos sociais coercitivos, que são apagados pela natural evolução do processo civilizatório.