Não é possível entender a crise da segurança pública no Brasil sem considerar a perda de poder de investigação das polícias de todo o País. A avaliação é de um dos principais especialistas no assunto, o analista criminal Guaracy Mingardi, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
A questão, para Mingardi — que já foi secretário de Segurança Pública de Guarulhos (SP) no começo dos anos 2000 e atuou na Polícia Civil nos anos 1980 —, é que o Brasil vem perdendo gradualmente capacidade de investigação, o que se expressa na grave crise da instituição. “As polícias civis estão desaparecendo. Não há investimento, os efetivos são menores do que o necessário e ainda estão envelhecidos e burocratizados. Eu converso com alguns agentes que sentem que a instituição está em via de extinção”, explica o especialista à PB.
Sem estrutura de investigação, os mercados ilícitos operam quase incólumes nas franjas do crime, enquanto ocorrências de roubos e furtos — muitas vezes violentas — se acumulam no cotidiano dos grandes centros urbanos brasileiros para alimentá-los. Exemplo disso é o imenso mercado ilegal de aparelhos celulares. “É o crime da moda”, observa Mingardi.
O especialista se ampara nos dados mais recentes: no centro do Rio, por exemplo, o número de ocorrências desse tipo, no mês de janeiro, foi o maior desde 2003. Em uma única operação, no Mercado Popular de Uruguaiana, na mesma região, a Polícia Militar encontrou quase 600 dispositivos. Em São Paulo, uma quadrilha desmantelada, em março, movimentou cerca de R$ 10 milhões com o negócio de celulares roubados.
Na conversa com a PB, Mingardi ainda discute a violência policial, o peso do assunto nas eleições deste ano e as alternativas propostas a esse dilema hoje.