Na busca do melhor conhecimento sobre as mudanças climáticas, surgiu, em 1988, o Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (IPCC). Os relatórios da organização científico-política alertam para trágicos efeitos.
A pesquisadora brasileira Thelma Krug, vice-presidente do IPCC, explica que, com base em estudos, a ação humana é responsável pelo desequilíbrio verificado nas últimas décadas, como o aumento médio de temperatura global de 1,5 grau Celsius em comparação aos níveis pré-industriais. Contudo, ainda é possível reverter os efeitos negativos, ao passo que o Brasil pode exercer um papel de liderança em prol do planeta.
O IPCC é um painel intergovernamental sobre mudança do clima composto por 195 governos-membros, dentre eles, o Brasil. Foi criado em 1988, por órgãos das Nações Unidas, não com o objetivo de fazer pesquisa, mas uma avaliação de toda a pesquisa relevante na área de mudança do clima global. Detalhamos detalhada e profundamente as evidências demonstradas nestas publicações. São elaborados relatórios muito densos sob o ponto de vista científico. Os nossos maiores usuários são os governos, que querem um conhecimento científico a fim de ajudar nas negociações políticas e na formulação das suas políticas domésticas. É interessante esta relação entre a ciência e os políticos. Os governantes querem respostas. E quando eles têm essas respostas, os autores (dos estudos) gostariam de ver uma ação correspondente, o que nem sempre acontece.
Há variações naturais conhecidas, como as erupções vulcânicas e a alteração da radiação solar, que acontece a cada 11 anos. Há também alguns fenômenos geofísicos muito conhecidos, como o El Niño e o La Niña. São eventos naturais. No entanto, se pegarmos as observações de mudanças em vários elementos do sistema climático e da atmosfera e tentar fazer um ajuste baseado somente na variação destes elementos naturais, isso não é possível. A evidência da contribuição humana foi se consolidando até conseguirmos demonstrar que não há como não considerar esta interferência. É extremamente improvável que alguns destes eventos extremos de calor observados nas últimas décadas tenham ocorrido sem a interferência humana.
Vamos usar como exemplo elementos como o aumento do nível do mar. Esse aumento vai continuar por séculos, pois o oceano está aquecendo muito lentamente. Isto é, muitas vezes pensamos: será que a gente conseguiria, por exemplo, parar o degelo no ártico? Não dá para fazer algo e, opa, zerou o derretimento da massa de gelo. Não é assim que o nosso planeta funciona. Nós conseguiremos reduzir esse derretimento limitando, por exemplo, o aumento da temperatura média global. Assim, seria possível conseguir retardar muitos desses efeitos que, ainda assim, poderiam levar algum tempo para se estabilizarem.
Nossa esperança é não chegar a esse ponto. Todos perguntam se já atingimos este estágio irreversível. Isso ainda é uma grande dúvida científica. Se não fosse mais possível reverter os danos, as consequências poderiam ser bastante dramáticas. Sempre menciono a região do ártico, porque estamos vendo isso no dia a dia, esta perda de massa de gelo, até porque nós já atribuímos, em relatório do IPCC, o impacto do aquecimento e o aumento da temperatura média global de cerca de um 1,5 grau Celsius, em relação aos tempos pré-industriais. Isso é provocado pelo homem. Isto é, esse aumento na temperatura é por causa das atividades humanas. Aí o pessoal diz que “um grau é apenas um grau”, mas este não se distribui uniformemente no planeta. Então, em algumas épocas do ano, no Ártico, são registradas temperaturas duas ou três vezes superiores à média global. É por isso que estamos sentindo todos estes impactos, com o degelo contribuindo para aumento do nível do mar.