O conceito de homem cordial, cunhado pelo sociólogo Sérgio Buarque de Holanda em “Raízes do Brasil”, de 1933, é objeto de confusão até os dias de hoje. O motivo está na palavra, que, em uma leitura superficial, indicaria que os brasileiros são, em essência, bondosos e benevolentes.
Para o professor Paulo Niccoli Ramirez, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), trata-se de uma pretensão antes de um fato. Na verdade, segundo ele, o argumento de Sérgio Buarque era mais visceral. Na visão de Ramirez, o Brasil era um país que conseguia mascarar suas violências mais profundas (como o racismo) por meio dos afetos.
Ainda de acordo com o docente, que também ministra aulas na Casa do Saber, o homem cordial é o que consegue esconder as mazelas e os preconceitos que se materializam na vida prática para “debaixo do tapete”. Assim, na superfície, ficam apenas relações aparentemente democráticas ou afetuosas — como o fenômeno de empregadas domésticas que, sem direitos trabalhistas, são consideradas “parte da família”.
Em entrevista à Revista Problemas Brasileiros (PB), uma realização da FecomercioSP, Ramirez argumenta que as cidades brasileiras são ilhas de tolerância em um país ainda profundamente marcado por lógicas de aversão às diferenças entre as pessoas. Dessa forma, enquanto em ambientes não urbanos as populações negras e LGBTQIAPN+ sofrem violências mais robustas, essa experiência é um pouco mais suavizada nas metrópoles e nos contextos urbanos.
Assista na íntegra: